Há um lugar-comum quando se diz: o natal pertence às crianças. Mas não deixa de ser verdade. A conclusão só se agiganta quando chegamos à idade adulta e passamos a ser testemunhas da vibrante felicidade que contagia as crianças pelas vésperas de natal. Por mim falo: a memória parece ter atraiçoado as recordações dos meus natais meninos. Exulto ao saber que não há-de ter sido diferente.
Se o natal é coutada dos pequenos, com que cores o pintam? Não é da monocromia dominante que traja o pai natal. O natal é feito de uma imensa paleta de cores. Uma por cada criança, para a policromia crescer no altar das sensações. Poderá a angústia povoar o espírito, quando por uns instantes acometem imagens de crianças pobres espalhadas pelo mundo fora, principalmente em África, que desconhecem o natal. Que até desconhecem o que é viver para além do amanhã. A mortificação ideal, aquela que ascende à tona quando a época convoca actos de solidariedade, e põe na mira imagens de crianças famintas a quem o natal está vedado. Nem sequer o natal consumista, apogeu das crianças das sociedades afluentes: apenas o natal sinónimo de felicidade que vem espalhada pelos dedos mágicos de alguém que garanta vida condigna.
Nestas paragens, o natal não tem cor, não existe para além do calendário. Um buraco negro, uma nódoa no registo da humanidade – e que interessa indagar as culpas se o tempo, entretanto, vai passando e mais corpos infantis definham no sórdido trajecto até à morte? Esse é um mundo que nos chega a casa, nas sociedades afluentes, pela televisão. Serve para a tal mortificação da consciência, que em breve se arruma num canto bem fechado para não perturbar a felicidade dos entes queridos, nem a felicidade que lhes é devida quando se celebra o natal.
É então que as dores de consciência se apascentam no mais alto egoísmo. Um egoísmo salutar, por paradoxal que pareça. Eu não posso, cada um de nós não pode, mover o remo contra a imparável maré empurrada por um vento que sopra do lado contrário. É verdade que o natal é sombrio em muitas paragens, uma triste televisão a preto e branco que não rouba sequer um sorriso das caras sofridas das crianças pobres. Cada um de nós é um minúsculo grão de areia incapaz de trazer cor ao natal dessas crianças. Esse dom existe quando olhamos para as crianças que se acolhem entre cada um de nós. Colorimos o natal delas: melhor dizendo, damos-lhes para as mãos os tubos com as aguarelas, mais a paleta onde misturam as cores para então pintarem o natal ao seu jeito. A alegria que irradiam é o melhor desejo de natal que me podem formular.
Apologia do consumismo? Que importa. Nem sequer me perturba a acusação de fazermos cedências aos ventos do consumismo inconsequente, com as muitas prendas que ofertamos às crianças, as muitas que ao fim de pouco tempo entram no domínio da inutilidade. Não me perturba ser réu da acusação colectiva que recai sobre os pais contemporâneos: acusados de alimentarem a fobia consumista das crianças. A educação da consciência ficará para mais tarde, quando o intelecto começar a ser formado e a compreensão se tornar inteligível – quando, por então, houver lugar a chocar as crianças com as imagens que percorrem a África profunda em busca do degredo do natal, que não chega a tocar com os seus dedos mágicos nas crianças carenciadas.
Até lá, permita-se que as crianças vivam a ilusão do natal, com a sua policromia extasiante, os quilos de papel de embrulho mais as toneladas de cartão dos brinquedos que vão parar às incineradoras. Permita-se que as crianças vivam o seu natal, sem terem os progenitores que aturar as dores de consciência de patrulhadores de serviço sempre na linha da frente a denunciarem o iníquo, o imoral, o desperdício que atenta contra o ambiente. São aves famintas sabe-se lá de quê, na tentativa de azougar o natal tal como o conhecemos (suspeito que nunca foram felizes em crianças, ou querem passar uma esponja pelos natais que então lhes trouxeram felicidade). Não pela simbologia religiosa, mais dada a crentes adultos que celebram o momento alto que esteve na origem da sua crença; mas pelo dourado lugar a que só as crianças pertencem, ainda descomprometidas de espartilhos religiosos que hão-de açambarcar a sua individualidade, cerceando as cores que jorram, tão intensas, do natal que idealizam.
Se edificar a alegria das crianças é uma concessão ao capitalismo que se apoderou do natal, eu digo: bendito capitalismo! E não é o que digo às aves agoirentas que querem roubar as cores garridas com que as crianças pintam o natal.
2 comentários:
Gxt mt dxta pag.!
xD
Axu k deviam haver mais paginas dexte tipo!
q seca!!!
n deviam exestir paginas deste tipo!!!!
xD
so pag de sexo!!!!
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