1.12.06

“Chavezito” e a proibição do pai natal na Venezuela


Uma vez que acabámos de entrar em Dezembro, mês natalício, vem a propósito contar uma história alusiva da época. Aliás, um episódio que nega a existência da figura tutelar do natal – o pai natal. Aposto que um pouco de esforço mental chega para descobrir que a história só podia ter ocorrido num lugar governado por um ditador que cultiva a tralha ideológica leninista, pois essas personagens não resistem à doce tentação de refazer a História ao sabor das suas conveniências pessoais.

Ora como vão rareando os lugares onde o comunismo ou seus sucedâneos imperam, a tarefa fica facilitada. Mais uma pista: aconteceu na região que nos últimos anos tem resvalado para uma deriva totalitária, com mais e mais países a entregarem o poder nas mãos de aprendizes de ditadores que simpatizam com Marx, Lenine, Estaline e companhia. Essa região é a América Latina, onde o louco Fidel Castro, agora que se apresta a deixar o reino dos vivos, lega um séquito de herdeiros em diversos países: a Venezuela do aprendiz Hugo Chavez, a Bolívia do patético Evo Morales, a Nicarágua do reciclado Daniel Ortega, por último o Equador onde esta semana um tal Rafael Correa venceu as eleições. A proibição do pai natal sucedeu na Venezuela.

Estou à vontade para falar deste assunto. Como será óbvio, não acredito no pai natal. Sou da opinião que as criancinhas devem ser desenganadas da existência da barbuda figura o mais cedo possível. Mas as minhas convicções são um registo individual, que não se impõem ao livre arbítrio das outras pessoas. Se não tenho simpatia pela quadra natalícia, o problema é só meu. Não devo contagiar os outros com um problema que apenas me diz respeito. Hugo Chavez, o protótipo do ditador moderno, actua às avessas. O tiranete decidiu banir a figura do pai natal. Bem ao jeito daqueles impiedosos déspotas que proíbem porque lhes apetece.

Desgraçadas das crianças venezuelanas que esperam um ano inteiro pelo pai natal. Este ano o pai natal está impedido, por decreto presidencial, de entrar no espaço aéreo da Venezuela. A força aérea está de prevenção, não vá uma rena desorientada penetrar nos céus da Venezuela. Os caças terão instruções para abaterem as renas tripuladas por teimosos pais natais. É a declaração de guerra da Venezuela ao pai natal, lá na longínqua Lapónia. Por entre as diatribes do inefável Chavez, a ilusão natalícia das crianças sofre um rude golpe. Chavez não se importa: quando estas crianças chegarem à idade adulta, já não serão eleitores. Daqui a pouco mais de dez anos, Chavez ter-se-á entronizado definitivamente ditador iluminado da Venezuela, de uma vez por todas livre do incómodo das eleições. O tiranete não terá que se confrontar com o ressentimento daqueles que foram, na infância, castradas do pai natal.

Este mundo é um local adorável para viver, porque o absurdo semeado pelas sete partidas do mundo traz até nós a boa disposição. Lamentavelmente, a boa disposição de uns é sinónimo de tristeza de outros, daqueles que se submetem ao despautério de quem os tiraniza. Chavez, se não existisse, tinha que ser inventado. Mas há quem o leve a sério. Quem simpatize com ele, mesmo por estas bandas onde o saudosismo do império vermelho de outrora ainda consome muitas lágrimas enxugadas.

Não bastava o déspota ter banido o pai natal, logo a seguir surgiram uns bonecos que o retratam. Como a figura em si não deve nada à estética, os bonecos são horrendos. Fazem-me lembrar os deploráveis Power Rangers que tornam os petizes criaturas precocemente entregues nos braços na violência. O Chavezito – a figura que aparece na imagem – é o sucedâneo do pai natal impingido às infelizes crianças venezuelanas. A mensagem é nítida: sai de cena o pai natal, entra o grande timoneiro Chavez, em forma de boneco. Para gáudio dos petizes, que devem ser instruídos que o ditador é o fautor do bem e que o pai natal é uma invenção do grotesco capitalismo. Mais vale um Chavezito na mão que muitos pais natais a voar.

Apetece glosar o lema de uma campanha publicitária: “há coisas fantásticas, não há”? Agora me recordo que, há algum tempo, Chavez aparecia numa fotografia acompanhado de Sócrates. É caso para perguntar se não serão as nossas criancinhas as próximas vítimas da súbita obliteração do pai natal…

3 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

Para Chávez e quejandos o ridículo e o grotesco não matam, parecem viver deles. Neste aspecto este coronel de pacotilha deve ter ultrapassado mesmo os seus colegas asiáticos como o camarada Kim e o jihadista Ahmadinejad.
Apesar de tudo, não me preocuparia muito com o direito de voto dos Venezuelanos em 2016: quero crer que até lá, essa espécie de Galo de Barcelos (sem ofensa para este) transvestido de militar de opereta, já deve ter sido atirado para uma valeta crivado de balas

P.S. Se o Pai Natal não fosse intrinsecamente bom, bem que lhe podia enfiar um dispositivo explosivo de alta potência pela chaminé abaixo. O fogo de artifício é sempre bonito e as crianças da Venezuela podiam retomar o caminho do sonho e da ilusão.

PVM disse...

Rui, às vezes fico preocupado com a tua deriva de violência gratuita. Aquilo que gostarias que o pai natal fizesse ao ditador de meia tigela é um émulo dos métodos dos fundamentalistas islâmicos que tanta urticária te causam. O melhor é não te provocar muito, não vá alguma dessa violência latente atirar-se a mim…
PVM

Rui Miguel Ribeiro disse...

Don't worry. O que digo no post é que não auguro grande futuro ao Sr. Chávez, mas é apenas uma previsão, não um desejo. Ou melhor, desejo vê-lo fora do poder, mas não necessariamente terminated.
O Post Scriptum foi feito em tom de brincadeira, não pensei que o levasses a sério. Eu até sou um sujeito pacífico. O que eu acho é que nas RI há problemas que, em última análise, só se resolvem pela força armada. Aqui é que divergimos.