Crescem os ataques a escolas. Assaltos; grupos de jovens meliantes que espalham terror entre alunos, professores e funcionários; agressões entre tudo e todos, pois nem os professores escapam. Das agressões dos alunos, amiúde verbais e às vezes com marcas no corpo; e das agressões dos progenitores dos alunos, que se desforram das vezes que, ainda petizes, apanhavam reguadas e nem sequer tugir podiam.
De repente assoma à memória um castiço que, aproveitando a generosa política deste governo (que permite a entrada na universidade a maiores de vinte e três anos sem terem concluído o décimo segundo ano, bastando “experiência profissional relevante”), retomou os seus estudos. Entrado para a universidade, depois de mais de trinta anos sem assistir a aulas de qualquer espécie, o senhor estranhou. Personagem decerto saudosista dos quarenta e oito anos de ditadura, sugeriu que aos professores universitários fosse permitida amplitude para esbofetear alunos que se portassem mal. O que faz falta, disparou, é disciplina.
Lembro-me deste abencerragem, de como está deslocado do tempo. Deve corar de vergonha ao saber que os professores primários e do ensino secundário estão proibidos de sequer chegar um dedo aos corpos dos alunos. Qualquer esboço de agressividade é uma ofensa intolerável, um gesto indecente que se afasta dos parâmetros vigentes de educação escolar. E eis como, num breve retrato, ficam expostos dois extremos: o rigor da disciplina militar do neófito aluno universitário que tão perto está da idade da reforma; e a complacência com a indisciplina dos alunos que semeiam terror pelas escolas, infernizam a vida dos professores e prosseguem, alegremente, na metódica recusa da aprendizagem.
A violência é intolerável. Qualquer género de violência. Nos alvores do século XXI, recuar aos tempos em que os castigos se faziam com reguadas que emprestavam um tórrido calor às palmas das mãos é um anacronismo. Um método datado, com a bênção das arrojadas pedagogias que empossam o aluno em direitos mil e apagam do registo o vector dos deveres. Reafirmo que não é aceitável a violência que passa do professor para o aluno. Temo é que num vasto mar de liberalidades, engrossado pelo redemoinho da irresponsabilidade pessoal semeado pela vanguardista pedagogia, os professores entrem para o antro das vítimas da agressividade soez de mal amanhados petizes sem amanhã. Como não chegam as aleivosias dos petizes, os familiares – ao bom jeito da justiça popular – resolvem pleitos alheios pelas próprias mãos.
Não sei se exagero: a escola devia ser um lugar sagrado. Não sou daqueles que vê na escola o altar exclusivo da aprendizagem. É um lugar, entre vários. Mas um lugar importante. É à escola que me habituei a frequentar que faço alusão: com papeis definidos e objectivos delimitados. Não é da escola arrojada, que sai dos laboratórios experimentais em que as escolas são transformadas pelos visionários pedagogos do ministério da educação. A escola é um lugar de saberes, o triunfo do conhecimento, o inexcedível contributo para que as crianças sejam homens e mulheres capazes. Daí a sagração das escolas: sem elas, as crianças estariam entregues à tacanha mundivência das famílias. Apequenar o papel da escola: é o que sucede quando a violência impera, quando o medo é o sentimento dominante, quando os alunos acreditam que detêm poder sobre os professores. E acanhar o papel da escola é remeter o futuro para um cenário negro, um abismo sem fundo para onde vogamos em queda livre, sem retrocesso que se antecipe.
Há muitas maneiras de vandalizar as escolas. De cada vez que uma agressão mancha a quietude de uma escola é o machado da infâmia que se abate sobre todos. Não que sejamos culpados pela brutalidade dos que se apoderam de animalescos instintos. Somos todos vítimas do manto indecoroso que cobre uma escola vandalizada. De resto, faria sentido pôr os políticos a pensar em penalizar impiedosamente os crimes que desonram a escola. Em homenagem aos saberes, a virtude maior do ser humano. Por respeito aos que se esforçam por difundir saberes entre as criancinhas educadas para os maltratar (aos saberes e aos seus mestres).
Uma terra que se recusa a respeitar o lugar sagrado da escola é uma terra que não merece respeito. Um lugar que se amesquinha todos os dias, numa impressionante deriva autofágica. Restariam palavras de endeusamento das escolas, não andassem elas destruídas pelos próceres das experiências pedagógicas que são, em primeira instância, fautores do mal maior de que as escolas padecem. É o triunfo da leviandade.
De repente assoma à memória um castiço que, aproveitando a generosa política deste governo (que permite a entrada na universidade a maiores de vinte e três anos sem terem concluído o décimo segundo ano, bastando “experiência profissional relevante”), retomou os seus estudos. Entrado para a universidade, depois de mais de trinta anos sem assistir a aulas de qualquer espécie, o senhor estranhou. Personagem decerto saudosista dos quarenta e oito anos de ditadura, sugeriu que aos professores universitários fosse permitida amplitude para esbofetear alunos que se portassem mal. O que faz falta, disparou, é disciplina.
Lembro-me deste abencerragem, de como está deslocado do tempo. Deve corar de vergonha ao saber que os professores primários e do ensino secundário estão proibidos de sequer chegar um dedo aos corpos dos alunos. Qualquer esboço de agressividade é uma ofensa intolerável, um gesto indecente que se afasta dos parâmetros vigentes de educação escolar. E eis como, num breve retrato, ficam expostos dois extremos: o rigor da disciplina militar do neófito aluno universitário que tão perto está da idade da reforma; e a complacência com a indisciplina dos alunos que semeiam terror pelas escolas, infernizam a vida dos professores e prosseguem, alegremente, na metódica recusa da aprendizagem.
A violência é intolerável. Qualquer género de violência. Nos alvores do século XXI, recuar aos tempos em que os castigos se faziam com reguadas que emprestavam um tórrido calor às palmas das mãos é um anacronismo. Um método datado, com a bênção das arrojadas pedagogias que empossam o aluno em direitos mil e apagam do registo o vector dos deveres. Reafirmo que não é aceitável a violência que passa do professor para o aluno. Temo é que num vasto mar de liberalidades, engrossado pelo redemoinho da irresponsabilidade pessoal semeado pela vanguardista pedagogia, os professores entrem para o antro das vítimas da agressividade soez de mal amanhados petizes sem amanhã. Como não chegam as aleivosias dos petizes, os familiares – ao bom jeito da justiça popular – resolvem pleitos alheios pelas próprias mãos.
Não sei se exagero: a escola devia ser um lugar sagrado. Não sou daqueles que vê na escola o altar exclusivo da aprendizagem. É um lugar, entre vários. Mas um lugar importante. É à escola que me habituei a frequentar que faço alusão: com papeis definidos e objectivos delimitados. Não é da escola arrojada, que sai dos laboratórios experimentais em que as escolas são transformadas pelos visionários pedagogos do ministério da educação. A escola é um lugar de saberes, o triunfo do conhecimento, o inexcedível contributo para que as crianças sejam homens e mulheres capazes. Daí a sagração das escolas: sem elas, as crianças estariam entregues à tacanha mundivência das famílias. Apequenar o papel da escola: é o que sucede quando a violência impera, quando o medo é o sentimento dominante, quando os alunos acreditam que detêm poder sobre os professores. E acanhar o papel da escola é remeter o futuro para um cenário negro, um abismo sem fundo para onde vogamos em queda livre, sem retrocesso que se antecipe.
Há muitas maneiras de vandalizar as escolas. De cada vez que uma agressão mancha a quietude de uma escola é o machado da infâmia que se abate sobre todos. Não que sejamos culpados pela brutalidade dos que se apoderam de animalescos instintos. Somos todos vítimas do manto indecoroso que cobre uma escola vandalizada. De resto, faria sentido pôr os políticos a pensar em penalizar impiedosamente os crimes que desonram a escola. Em homenagem aos saberes, a virtude maior do ser humano. Por respeito aos que se esforçam por difundir saberes entre as criancinhas educadas para os maltratar (aos saberes e aos seus mestres).
Uma terra que se recusa a respeitar o lugar sagrado da escola é uma terra que não merece respeito. Um lugar que se amesquinha todos os dias, numa impressionante deriva autofágica. Restariam palavras de endeusamento das escolas, não andassem elas destruídas pelos próceres das experiências pedagógicas que são, em primeira instância, fautores do mal maior de que as escolas padecem. É o triunfo da leviandade.
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