Modas. Voláteis, como o tempo fugidio. Por estes dias, são os metrossexuais que fazem sucesso junto do sexo feminino. Procuro informação: “metrossexual é um termo originado nos finais dos anos 90, pela junção das palavras metropolitano e heterossexual, sendo uma gíria para um homem heterossexual urbano excessivamente preocupado com a aparência, gastando grande parte do seu tempo e dinheiro em cosméticos, acessórios e roupas de marca.”
Retenho parte da definição: “preocupado com a aparência”. Seria ocasião para os líricos cultores dos intrínsecos valores do espírito denunciarem mais um aspecto deplorável da sociedade do consumo que nos domina. Mais uma vez, o Homem só dedica atenção a pormenores irrelevantes, desvalorizando a sua verdadeira essência. Por mais atraente que seja a retórica, não é por aí que quero seguir. Interessa-me indagar porque se preocupa tanto o homem com a sua aparência. Duas hipóteses surgem de supetão: ou para seu bem-estar – ainda que possa ser acusado pelos guardiães da espiritualidade de ser uma fátua personagem –, ou para agradar ao sexo feminino e aumentar o rol de conquistas.
Há outra parte da definição que me traz inquietação: “gastando grande parte do seu tempo e dinheiro em cosméticos”. Há dias a minha filha ofereceu-me uns cremes anti-rugas. Terá descoberto que o pai cava umas fundas rugas de expressão nas cercanias dos olhos quando esboça um sorriso. Terei passado a metrossexual? Os garbosos espécimes do marialvismo nacional dirão que sim. Que um homem não precisa dessas mariquices, da mesma maneira que um homem não chora – nunca chora. Quando um homem se entrega aos tratos de polé, com cremes e mais cremes e perfumes e roupas que espelham o último grito da moda, reproduz tiques próprios da feminilidade. Para o homenzarrão típico – comportamentos que o aproximam de um homem de Neandertal – o metrossexual confunde-se com um homossexual. O aspecto andrógino ajuda ao diagnóstico.
O problema é que as aparências iludem. Pode o metrossexual, com a sua pele imaculadamente limpa e lisa, na geometria dos cuidados proporcionados pelas intensas camadas de cremes e mais cremes, transpirar o aspecto pouco másculo que detona o escárnio dos homens de barba rija. Mas há que olhar para além da fina camada que a aparência deixa à mostra. Quem tem mais sucesso junto do sexo feminino? Homens abrutalhados, misantropos, cultores da máscula superioridade? Ou os metrossexuais, aspecto cuidado, ar esquálido mas límpido, mostrando uma sensibilidade surpreendente, que enchem as capas de revistas de moda e preenchem o imaginário de mulheres que repensaram os focos de atracção pelo sexo oposto? Consta que os segundos levam a palma. Porventura é isso que reforça a crítica viperina dos homens de barba rija: a pura inveja de se saberem ultrapassados por homens de andrógina aparência. Há que convir, é um rude golpe na auto-estima dos marialvas.
Não se faz por aqui uma apologia da metrossexualidade. Aliás, há algo que me causa uma tremenda confusão ao discernir o sucesso de lívidos metrossexuais junto das mulheres. Como um metrossexual cuida tanto da aparência a ponto de resvalar para a feminilidade, pergunto-me se o amplo sucesso junto do sexo feminino não revela um recalcamento lésbico das mulheres que se entregam nos braços dos metrossexuais. Elas enamoram-se de homens que se parecem cada vez mais com mulheres. Há, nesta inversão de comportamentos, uma escondida atracção pela homossexualidade feminina? No fundo, as mulheres revelam uma preferência dominante por homens que se assemelham cada vez mais a mulheres. Daí a interrogação.
Não estou por dentro do meio para afiançar se os metrossexuais são ou não homossexuais, como “acusam” os cultores da masculinidade tradicional ao destilarem a mais pura das invejas. O que parece indubitável é a androginia dos metrossexuais. Às vezes dou comigo a folhear catálogos de marcas de roupa que chegam pelo correio. Lá desfilam modelos masculinos que exalam metrossexualidade que é tão discreta como impante. Para além das figuras ridículas que a moda nos lega (há dias vi um jovem modelo envergando um fato de marca, gravata e tudo, com uns ridículos xanatos a descompor o quadro), vinga a imagem do metrossexual – ora efeminado, ora docilmente juvenil – ganhando terreno junto das mulheres. Que gostam, cada vez mais, de homens que lhes façam lembrar mulheres.
Vai grande a confusão de costumes na modernidade.
Retenho parte da definição: “preocupado com a aparência”. Seria ocasião para os líricos cultores dos intrínsecos valores do espírito denunciarem mais um aspecto deplorável da sociedade do consumo que nos domina. Mais uma vez, o Homem só dedica atenção a pormenores irrelevantes, desvalorizando a sua verdadeira essência. Por mais atraente que seja a retórica, não é por aí que quero seguir. Interessa-me indagar porque se preocupa tanto o homem com a sua aparência. Duas hipóteses surgem de supetão: ou para seu bem-estar – ainda que possa ser acusado pelos guardiães da espiritualidade de ser uma fátua personagem –, ou para agradar ao sexo feminino e aumentar o rol de conquistas.
Há outra parte da definição que me traz inquietação: “gastando grande parte do seu tempo e dinheiro em cosméticos”. Há dias a minha filha ofereceu-me uns cremes anti-rugas. Terá descoberto que o pai cava umas fundas rugas de expressão nas cercanias dos olhos quando esboça um sorriso. Terei passado a metrossexual? Os garbosos espécimes do marialvismo nacional dirão que sim. Que um homem não precisa dessas mariquices, da mesma maneira que um homem não chora – nunca chora. Quando um homem se entrega aos tratos de polé, com cremes e mais cremes e perfumes e roupas que espelham o último grito da moda, reproduz tiques próprios da feminilidade. Para o homenzarrão típico – comportamentos que o aproximam de um homem de Neandertal – o metrossexual confunde-se com um homossexual. O aspecto andrógino ajuda ao diagnóstico.
O problema é que as aparências iludem. Pode o metrossexual, com a sua pele imaculadamente limpa e lisa, na geometria dos cuidados proporcionados pelas intensas camadas de cremes e mais cremes, transpirar o aspecto pouco másculo que detona o escárnio dos homens de barba rija. Mas há que olhar para além da fina camada que a aparência deixa à mostra. Quem tem mais sucesso junto do sexo feminino? Homens abrutalhados, misantropos, cultores da máscula superioridade? Ou os metrossexuais, aspecto cuidado, ar esquálido mas límpido, mostrando uma sensibilidade surpreendente, que enchem as capas de revistas de moda e preenchem o imaginário de mulheres que repensaram os focos de atracção pelo sexo oposto? Consta que os segundos levam a palma. Porventura é isso que reforça a crítica viperina dos homens de barba rija: a pura inveja de se saberem ultrapassados por homens de andrógina aparência. Há que convir, é um rude golpe na auto-estima dos marialvas.
Não se faz por aqui uma apologia da metrossexualidade. Aliás, há algo que me causa uma tremenda confusão ao discernir o sucesso de lívidos metrossexuais junto das mulheres. Como um metrossexual cuida tanto da aparência a ponto de resvalar para a feminilidade, pergunto-me se o amplo sucesso junto do sexo feminino não revela um recalcamento lésbico das mulheres que se entregam nos braços dos metrossexuais. Elas enamoram-se de homens que se parecem cada vez mais com mulheres. Há, nesta inversão de comportamentos, uma escondida atracção pela homossexualidade feminina? No fundo, as mulheres revelam uma preferência dominante por homens que se assemelham cada vez mais a mulheres. Daí a interrogação.
Não estou por dentro do meio para afiançar se os metrossexuais são ou não homossexuais, como “acusam” os cultores da masculinidade tradicional ao destilarem a mais pura das invejas. O que parece indubitável é a androginia dos metrossexuais. Às vezes dou comigo a folhear catálogos de marcas de roupa que chegam pelo correio. Lá desfilam modelos masculinos que exalam metrossexualidade que é tão discreta como impante. Para além das figuras ridículas que a moda nos lega (há dias vi um jovem modelo envergando um fato de marca, gravata e tudo, com uns ridículos xanatos a descompor o quadro), vinga a imagem do metrossexual – ora efeminado, ora docilmente juvenil – ganhando terreno junto das mulheres. Que gostam, cada vez mais, de homens que lhes façam lembrar mulheres.
Vai grande a confusão de costumes na modernidade.
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