Há alturas em que a discussão mergulha na irrelevância. Dir-se-ia: uma anestesia forçada, para passar ao lado dos temas que importam. Também é verdade que cada um escolhe o âmago do relevante, entre a panóplia de coisas que borbulham em seu redor. Na diversidade está a grandeza da espécie humana. Portanto, o que se segue é o produto de uma escolha pessoal. Tão subjectiva como todas as escolhas pessoais, tão exposta à discordância como acontece com as coisas que reinam na subjectividade.
Discute-se muito Salazar. Ou porque o ditador se arrisca a entrar para o patético panteão do mais ilustre português mercê de um concurso televisivo que arremata a história em duas penadas; ou pelo burburinho causado por um museu iconográfico em Santa Comba Dão, para desgosto desses expoentes da liberdade que são os propalados “resistentes anti-fascistas” – um dos vários alter-egos que acomodam a pandilha comunista.
Repito: continua-se a dar excessiva importância ao ditador. Esse sombrio período devia ser esquecido. Não digo que seja apagado da memória, ao jeito da metodologia estalinista ainda tão celebrada. Apenas devia ser desmerecido das atenções. Quanto mais o fantasma de Salazar pairar sobre nós, maior é a relevância que se lhe atribui. Não há memória que um sepultado seja motivo de tão assanhadas confrontações. Aos “resistentes anti-fascistas”, o opróbrio da palavra liberdade que soa mal quando ecoada pelas suas bocas, tão saudosistas de outro modelo de ditadura. Espanta-me como alguns dos ingénuos defensores do ditador o fazem como reacção contra a totalitarismo comunista que tenta impor a sua vontade anti-democrática: não percebem como caucionam o lamentável passado salazarista. Virar a página, é o que se impõe. Ou haveremos de ateimar nas masmorras incendiárias dos quarenta e oito longos anos da pequenez salazarista. Mais um sintoma da falta de maturidade da democracia que temos.
Nos saldos das irrelevâncias entram os queixumes contra a corrupção que grassa, tentacular – política, futebol, economia, a corrupção endémica. Grandes são as parangonas quando casos de corrupção sobem a tribunal. Sobretudo quando gente famosa se senta no banco dos réus. O povo rejubila com a evaporação da impunidade dos poderosos. Não se pense que sou favorável à corrupção, ou que os poderosos que se julgam acima da lei não devam acomodar o traseiro no humilhante banco dos réus. O que me perturba é ver o povo exultante, a apontar o dedo contra os poderosos desmascarados por actos de corrupção. E depois, à primeira oportunidade, o mesmo povo é fautor de pequena e média corrupção.
Há, no julgamento popular, a mais pura inveja a gotejar. Como o povo gostaria de poder embarcar na nau das negociatas que se confundem com o ilícito, nos obscuros lucros, mergulhar nos dinheiros que aparecem por artes de prestidigitação. Como gostaria de adejar sobre os demais, com a pesporrência dos oportunistas, rindo-se fartamente porque os outros são desgraçados que vegetam na escassez material. Enquanto eles, os espertos, aumentaram a abastança (nem que tenha sido por métodos que levantam suspeitas). É o povo que gosta de adágios. Entre nós vulgarizou-se este: “os espertos triunfam na vida”.
Quando a praça pública se entretém a tomar conhecimento, e depois a comentar, de suspeitas de corrupção dos poderosos e de figuras públicas, é apenas um inútil desgaste de energias. A confissão da inveja. Um merdoso povo que aponta o dedo aos acusados de corrupção, mas que tanto ambicionaria alambazar-se com as mesmas benesses que os corruptos alcançaram antes de se suspeitar que o são. Como rareiam as oportunidades de entrar no Olimpo dos agraciados pela abastança da corrupção, ou dos proventos de duvidosas origens, recolhem os calhaus necessários para a lapidação pública dos suspeitos de corrupção. Que interessa que nem sequer tenha havido julgamento? Este é o povo com afã da justiça de Fafe.
O que há de mal no tempo dedicado às estéreis discussões? Teimamos no hipnotismo colectivo, atenções concentradas em assuntos que desaguam num escuro beco. Com uma alegria contagiante assobiamos para o alto, convencidos que as energias dedicadas a estas (e outras) inutilidades farão de nós uma nova Irlanda. Quando o que há é a agulha afinada para a linha errada e as carruagens do comboio que prosseguem. Um caminho vão.
Discute-se muito Salazar. Ou porque o ditador se arrisca a entrar para o patético panteão do mais ilustre português mercê de um concurso televisivo que arremata a história em duas penadas; ou pelo burburinho causado por um museu iconográfico em Santa Comba Dão, para desgosto desses expoentes da liberdade que são os propalados “resistentes anti-fascistas” – um dos vários alter-egos que acomodam a pandilha comunista.
Repito: continua-se a dar excessiva importância ao ditador. Esse sombrio período devia ser esquecido. Não digo que seja apagado da memória, ao jeito da metodologia estalinista ainda tão celebrada. Apenas devia ser desmerecido das atenções. Quanto mais o fantasma de Salazar pairar sobre nós, maior é a relevância que se lhe atribui. Não há memória que um sepultado seja motivo de tão assanhadas confrontações. Aos “resistentes anti-fascistas”, o opróbrio da palavra liberdade que soa mal quando ecoada pelas suas bocas, tão saudosistas de outro modelo de ditadura. Espanta-me como alguns dos ingénuos defensores do ditador o fazem como reacção contra a totalitarismo comunista que tenta impor a sua vontade anti-democrática: não percebem como caucionam o lamentável passado salazarista. Virar a página, é o que se impõe. Ou haveremos de ateimar nas masmorras incendiárias dos quarenta e oito longos anos da pequenez salazarista. Mais um sintoma da falta de maturidade da democracia que temos.
Nos saldos das irrelevâncias entram os queixumes contra a corrupção que grassa, tentacular – política, futebol, economia, a corrupção endémica. Grandes são as parangonas quando casos de corrupção sobem a tribunal. Sobretudo quando gente famosa se senta no banco dos réus. O povo rejubila com a evaporação da impunidade dos poderosos. Não se pense que sou favorável à corrupção, ou que os poderosos que se julgam acima da lei não devam acomodar o traseiro no humilhante banco dos réus. O que me perturba é ver o povo exultante, a apontar o dedo contra os poderosos desmascarados por actos de corrupção. E depois, à primeira oportunidade, o mesmo povo é fautor de pequena e média corrupção.
Há, no julgamento popular, a mais pura inveja a gotejar. Como o povo gostaria de poder embarcar na nau das negociatas que se confundem com o ilícito, nos obscuros lucros, mergulhar nos dinheiros que aparecem por artes de prestidigitação. Como gostaria de adejar sobre os demais, com a pesporrência dos oportunistas, rindo-se fartamente porque os outros são desgraçados que vegetam na escassez material. Enquanto eles, os espertos, aumentaram a abastança (nem que tenha sido por métodos que levantam suspeitas). É o povo que gosta de adágios. Entre nós vulgarizou-se este: “os espertos triunfam na vida”.
Quando a praça pública se entretém a tomar conhecimento, e depois a comentar, de suspeitas de corrupção dos poderosos e de figuras públicas, é apenas um inútil desgaste de energias. A confissão da inveja. Um merdoso povo que aponta o dedo aos acusados de corrupção, mas que tanto ambicionaria alambazar-se com as mesmas benesses que os corruptos alcançaram antes de se suspeitar que o são. Como rareiam as oportunidades de entrar no Olimpo dos agraciados pela abastança da corrupção, ou dos proventos de duvidosas origens, recolhem os calhaus necessários para a lapidação pública dos suspeitos de corrupção. Que interessa que nem sequer tenha havido julgamento? Este é o povo com afã da justiça de Fafe.
O que há de mal no tempo dedicado às estéreis discussões? Teimamos no hipnotismo colectivo, atenções concentradas em assuntos que desaguam num escuro beco. Com uma alegria contagiante assobiamos para o alto, convencidos que as energias dedicadas a estas (e outras) inutilidades farão de nós uma nova Irlanda. Quando o que há é a agulha afinada para a linha errada e as carruagens do comboio que prosseguem. Um caminho vão.
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