Ensaios que se esboçam, pela redescoberta das palavras, a sua musicalidade. Embelezam-se, as palavras, mais que as ideias. E, no entanto, a impressão de que a mente anda em círculos. Esbarra sempre nas mesmas palavras, nas mesmas fórmulas, em ideias gastas. Ao que parece, há um cansaço que vem bater com os seus dedos. Em vez de encruzilhada, uma prisão: como se fosse um labirinto de onde não se consegue discernir saída.
O que há de perturbante é saber que todos temos os nossos quadros mentais. E ainda que alguns façam um esforço maior para contemplar abertura de espírito, de janelas abertas ao que é diferente pelo convencimento de que assim se alargam horizontes, vemos sempre as coisas por um certo ângulo. Depois sobram os enviesamentos. Somos formatados, queiramos ou não. E por essa formatação entregamo-nos nas masmorras, voluntárias ou imperceptíveis, que estreitam as vistas. É assim com as ideias, com as reacções espontâneas às situações banais da vida, às palavras entendidas como ofensa, aos olhares depreciativos, ou mesmo aos elogios.
Será pormenor saber que outras são as formas de ver as mesmas coisas, outras as leituras das ideias consoante mudem as lentes de que as ideias se socorrem. É a riqueza da pessoa, do mais alto da sua subjectividade. Por isso, absurdo falar de “pensamento único”, ou das algemas intelectuais que dissidentes julgam espalhar-se de forma tenebrosa, apoucando a maioridade que cimenta a liberdade de cada um. Podem as influências exercer-se, seja maior a autoridade intelectual de gurus que incendeiam causas onde se acolhem os militantes. Afortunadamente, há sempre alguém do outro lado da barricada. Quem recuse o alistamento nas masmorras mentais que destroem a liberdade dos que se entregam cegamente a uma causa. Esquecem-se os dissidentes que há um momento singular em que cada militante decide embarcar na corrente, entregando-se à causa. Um momento de exaltação da sua liberdade pessoal. Desmerecê-lo é atropelar a singularidade mental de cada um.
Por entre a desordem que se instalou, estranho as ideias que não subscrevo da mesma maneira que presto tributo aos seus sacerdotes. É sempre tempo para erguer interrogações. Interrogar as convicções que alicerçam as teias mentais onde estamos presos. E interrogar as ideias que alinhavam quadros diferentes, mentalmente descomprometidos para confrontar as ideias que sedimentam o que somos e aquelas em que não nos revemos. É o devir da maioridade mental, tarefa em constante renovação que exige a contínua interrogação da interioridade. O mergulho às entranhas pode resultar num apelo tonitruante a outros paradigmas. A mudar de quadro mental que tece os alinhavos dos passos que serão dados.
Não me desprendo da desarrumação mental. Haja monolitismo ou abertura de espírito à consagração de novos quadros, ainda e sempre uma masmorra mental que impera. Pode mudar a retórica, podem ser outros os pressupostos que coam a realidade, pode haver aceitação do que antes era rejeitado; há sempre aprisionamento pelas ideias concebidas, um esqueleto mental que pode mudar de ingredientes mas que é sempre a ossatura rígida da existência. Eu creio que a racionalidade da espécie humana é a sua prisão maior. Uma torturante asfixia, como se fosse amaldiçoada factura que a espécie humana suporta pela superioridade em que se investiu (no reino animal).
É o paradoxal deserto das ideias, das palavras que se arquitectam na reinvenção da escrita. Ora com a gratificante sensação de as ter, de as descobrir, como se fôssemos agraciados com o dom da gravidade mental – ainda que, sem darmos conta, ela se alije da originalidade; ora com a desagradável percepção que as masmorras mentais, quando levadas a extremos que encerram a insanável divergência, motivam a autofagia da espécie. As guerras, tragam mortes ou dolorosas inimizades, são o quadro vivo das masmorras mentais que se digladiam.
As prisões onde a mente se enclausura são um árido terreno onde fumegam fragmentos de actividade vulcânica, as tempestades cerebrais que muito prometem e que se saldam, as mais das vezes, por inócuas realizações. Eis o dilema para o qual não acho resposta: o traço indelével da maioridade intelectual vive aprisionado nas masmorras mentais. Ou de como a liberdade se encerra no seu contrário.
O que há de perturbante é saber que todos temos os nossos quadros mentais. E ainda que alguns façam um esforço maior para contemplar abertura de espírito, de janelas abertas ao que é diferente pelo convencimento de que assim se alargam horizontes, vemos sempre as coisas por um certo ângulo. Depois sobram os enviesamentos. Somos formatados, queiramos ou não. E por essa formatação entregamo-nos nas masmorras, voluntárias ou imperceptíveis, que estreitam as vistas. É assim com as ideias, com as reacções espontâneas às situações banais da vida, às palavras entendidas como ofensa, aos olhares depreciativos, ou mesmo aos elogios.
Será pormenor saber que outras são as formas de ver as mesmas coisas, outras as leituras das ideias consoante mudem as lentes de que as ideias se socorrem. É a riqueza da pessoa, do mais alto da sua subjectividade. Por isso, absurdo falar de “pensamento único”, ou das algemas intelectuais que dissidentes julgam espalhar-se de forma tenebrosa, apoucando a maioridade que cimenta a liberdade de cada um. Podem as influências exercer-se, seja maior a autoridade intelectual de gurus que incendeiam causas onde se acolhem os militantes. Afortunadamente, há sempre alguém do outro lado da barricada. Quem recuse o alistamento nas masmorras mentais que destroem a liberdade dos que se entregam cegamente a uma causa. Esquecem-se os dissidentes que há um momento singular em que cada militante decide embarcar na corrente, entregando-se à causa. Um momento de exaltação da sua liberdade pessoal. Desmerecê-lo é atropelar a singularidade mental de cada um.
Por entre a desordem que se instalou, estranho as ideias que não subscrevo da mesma maneira que presto tributo aos seus sacerdotes. É sempre tempo para erguer interrogações. Interrogar as convicções que alicerçam as teias mentais onde estamos presos. E interrogar as ideias que alinhavam quadros diferentes, mentalmente descomprometidos para confrontar as ideias que sedimentam o que somos e aquelas em que não nos revemos. É o devir da maioridade mental, tarefa em constante renovação que exige a contínua interrogação da interioridade. O mergulho às entranhas pode resultar num apelo tonitruante a outros paradigmas. A mudar de quadro mental que tece os alinhavos dos passos que serão dados.
Não me desprendo da desarrumação mental. Haja monolitismo ou abertura de espírito à consagração de novos quadros, ainda e sempre uma masmorra mental que impera. Pode mudar a retórica, podem ser outros os pressupostos que coam a realidade, pode haver aceitação do que antes era rejeitado; há sempre aprisionamento pelas ideias concebidas, um esqueleto mental que pode mudar de ingredientes mas que é sempre a ossatura rígida da existência. Eu creio que a racionalidade da espécie humana é a sua prisão maior. Uma torturante asfixia, como se fosse amaldiçoada factura que a espécie humana suporta pela superioridade em que se investiu (no reino animal).
É o paradoxal deserto das ideias, das palavras que se arquitectam na reinvenção da escrita. Ora com a gratificante sensação de as ter, de as descobrir, como se fôssemos agraciados com o dom da gravidade mental – ainda que, sem darmos conta, ela se alije da originalidade; ora com a desagradável percepção que as masmorras mentais, quando levadas a extremos que encerram a insanável divergência, motivam a autofagia da espécie. As guerras, tragam mortes ou dolorosas inimizades, são o quadro vivo das masmorras mentais que se digladiam.
As prisões onde a mente se enclausura são um árido terreno onde fumegam fragmentos de actividade vulcânica, as tempestades cerebrais que muito prometem e que se saldam, as mais das vezes, por inócuas realizações. Eis o dilema para o qual não acho resposta: o traço indelével da maioridade intelectual vive aprisionado nas masmorras mentais. Ou de como a liberdade se encerra no seu contrário.
1 comentário:
Muito bom artigo. Parabens cara!
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