Há algum mal quando a superiora hierárquica suspende um funcionário que disse uma graçola zombando da licenciatura conseguida pelo primeiro-ministro? A única resposta concebível é dizer não. É aceitar que a única decisão perante a infâmia do funcionário seria fazer o que a chefe fez. As hierarquias não podem tolerar desrespeitos deste calibre. O facto de o funcionário ter pronunciado o comentário em privado é uma minudência. Há que não esquecer que por estes dias está instalado o convite à delação como comportamento padronizado. Não, não é arremedo do tal “fascismo” que os socialistas dizem ter combatido.
Os directores regionais de repartições do Estado devem ser vigilantes da moral e dos bons costumes. E à moral e aos bons costumes pertence o decoro, o recato verbal, a continência das palavras. Os funcionários devem saber o que podem e o que não podem dizer. Na dúvida, sugere-se que uma zelosa comissão penhora dos bons costumes redija um manual de comportamentos e dizeres. O manual há-de regulamentar ao milímetro o que se pode dizer, fazer, vestir, ouvir, ler, perfumar, a periodicidade do cabeleireiro, os hábitos gastronómicos, os deveres de exercício físico, direi até, a assiduidade do acto sexual. E nós, no rebanho ordeiro, só temos a agradecer por haver quem nos formate a vida.
Aos que, descontentes, protestam pelo cerco apertado que os engenheiros sociais têm vindo a fazer, dir-se-á que a sua é reacção excessiva. Dir-se-á que temos que prestar tributo à escrupulosa actividade destes funcionários que despendem as suas energias em prol do bem-estar de todos nós. Aqueles de nós que olharem com desconfiança para os préstimos dos engenheiros sociais são uns ingratos, incapazes de reconhecerem o bem que eles fazem – e como o fazem desinteressadamente, desapaixonadamente.
A directora regional achou inadmissível a piada feita pelo seu subordinado? Está no seu direito. Aliás, cumpre uma obrigação. Os subordinados não são contratados para desfilarem dotes humorísticos durante as horas de serviço. É desperdício de tempo o olhar desviado das funções que dão direito ao salário que sai do bolso de todos nós. Devíamos manifestar penhorado agradecimento à senhora directora regional. Por estar vigilante aos extravios dos seus subalternos, que esbanjam tempo de trabalho a congeminar chalaças sobre as habilitações literárias do nosso timoneiro. Nós, os contribuintes desvalidos, devíamos propô-la para uma comenda nas comemorações do 10 de Junho.
Também acho que estão errados os que diagnosticaram o perfume da censura no acto da directora regional. As palavras esbarram num limite. Não podemos andar por aí a dizer mal de tudo e de todos. Especialmente do primeiro-ministro, que se afadiga em conduzir a nau entre as águas tormentosas que um povo impreparado teima em sulcar. Desenganem-se os sacerdotes da desgraça que acusam a directora regional de servilismo bacoco. Ela nem deve a sinecura ao carreirismo partidário; porque haveria de ficar indignada com o despeito do subordinado? Consta por aí que a senhora é uma dedicada militante local do partido do governo. Maledicência, mais maledicência. Não se percebe qual a relação de causa e efeito entre o carreirismo partidário e o processo disciplinar a quem escarneceu do chefe mor da senhora.
O problema é que se abusa da liberdade de expressão. As pessoas deviam ser sensatas: e perceber que há domínios inexpugnáveis à liberdade de expressão. Por outras palavras, há assuntos que não admitem tiradas humorísticas. Como quem diz, com coisas sérias não se brinca. Então se elas vierem beliscar o culto de personalidade do timoneiro, mais inadmissíveis se tornam. Continuam com um diagnóstico errado os que supõem que houve servilismo da directora regional, como se ela estivesse a mostrar serviço ao chefe da banda, assim como quem se oferece para sinecuras ainda mais elevadas. Até o carreirismo político tem os seus limites. Esta zelosa directora regional ofereceu o peito às balas, num acto que tem muito de auto-imolação como de peregrino: deu o exemplo a todas as chefias da administração pública, que não se podem demitir de uma vigilância cerrada sobre o que fazem, dizem, pensam, cheiram, comem, lêem e ouvem os subordinados. Doravante, estes sabem que têm que andar na linha. E há algum mal nisso?
Os que reprovam o episódio dirão que “há muito tempo que nesta latrina o ar começa a ficar irrespirável”, pedindo emprestadas as palavras aos Mão Morta. Que exagero.
Os directores regionais de repartições do Estado devem ser vigilantes da moral e dos bons costumes. E à moral e aos bons costumes pertence o decoro, o recato verbal, a continência das palavras. Os funcionários devem saber o que podem e o que não podem dizer. Na dúvida, sugere-se que uma zelosa comissão penhora dos bons costumes redija um manual de comportamentos e dizeres. O manual há-de regulamentar ao milímetro o que se pode dizer, fazer, vestir, ouvir, ler, perfumar, a periodicidade do cabeleireiro, os hábitos gastronómicos, os deveres de exercício físico, direi até, a assiduidade do acto sexual. E nós, no rebanho ordeiro, só temos a agradecer por haver quem nos formate a vida.
Aos que, descontentes, protestam pelo cerco apertado que os engenheiros sociais têm vindo a fazer, dir-se-á que a sua é reacção excessiva. Dir-se-á que temos que prestar tributo à escrupulosa actividade destes funcionários que despendem as suas energias em prol do bem-estar de todos nós. Aqueles de nós que olharem com desconfiança para os préstimos dos engenheiros sociais são uns ingratos, incapazes de reconhecerem o bem que eles fazem – e como o fazem desinteressadamente, desapaixonadamente.
A directora regional achou inadmissível a piada feita pelo seu subordinado? Está no seu direito. Aliás, cumpre uma obrigação. Os subordinados não são contratados para desfilarem dotes humorísticos durante as horas de serviço. É desperdício de tempo o olhar desviado das funções que dão direito ao salário que sai do bolso de todos nós. Devíamos manifestar penhorado agradecimento à senhora directora regional. Por estar vigilante aos extravios dos seus subalternos, que esbanjam tempo de trabalho a congeminar chalaças sobre as habilitações literárias do nosso timoneiro. Nós, os contribuintes desvalidos, devíamos propô-la para uma comenda nas comemorações do 10 de Junho.
Também acho que estão errados os que diagnosticaram o perfume da censura no acto da directora regional. As palavras esbarram num limite. Não podemos andar por aí a dizer mal de tudo e de todos. Especialmente do primeiro-ministro, que se afadiga em conduzir a nau entre as águas tormentosas que um povo impreparado teima em sulcar. Desenganem-se os sacerdotes da desgraça que acusam a directora regional de servilismo bacoco. Ela nem deve a sinecura ao carreirismo partidário; porque haveria de ficar indignada com o despeito do subordinado? Consta por aí que a senhora é uma dedicada militante local do partido do governo. Maledicência, mais maledicência. Não se percebe qual a relação de causa e efeito entre o carreirismo partidário e o processo disciplinar a quem escarneceu do chefe mor da senhora.
O problema é que se abusa da liberdade de expressão. As pessoas deviam ser sensatas: e perceber que há domínios inexpugnáveis à liberdade de expressão. Por outras palavras, há assuntos que não admitem tiradas humorísticas. Como quem diz, com coisas sérias não se brinca. Então se elas vierem beliscar o culto de personalidade do timoneiro, mais inadmissíveis se tornam. Continuam com um diagnóstico errado os que supõem que houve servilismo da directora regional, como se ela estivesse a mostrar serviço ao chefe da banda, assim como quem se oferece para sinecuras ainda mais elevadas. Até o carreirismo político tem os seus limites. Esta zelosa directora regional ofereceu o peito às balas, num acto que tem muito de auto-imolação como de peregrino: deu o exemplo a todas as chefias da administração pública, que não se podem demitir de uma vigilância cerrada sobre o que fazem, dizem, pensam, cheiram, comem, lêem e ouvem os subordinados. Doravante, estes sabem que têm que andar na linha. E há algum mal nisso?
Os que reprovam o episódio dirão que “há muito tempo que nesta latrina o ar começa a ficar irrespirável”, pedindo emprestadas as palavras aos Mão Morta. Que exagero.
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