Está enganado o novo primeiro-ministro britânico, ao advertir os terroristas islâmicos que nada há-de fazer vergar a maneira de viver dos britânicos. É no próprio enunciado que se encontra a negação da mensagem. Contra uma ameaça (o terrorismo covarde) brande-se outra ameaça (a luta sem quartel contra os terroristas). Do lado de cá, na “sociedade civilizada”, a consequência é a profusão de mecanismos que cerceiam as liberdades. A retórica oficial é instrutiva: sem a escalada de medidas de segurança que atropelam as liberdades fundamentais, estas hão-de ser ceifadas pela guerra movida pelos terroristas. Eis o paradoxo: a Liberdade só será preservada se aceitarmos abdicar de liberdades.
Sou pouco dado a teorias conspirativas. Todavia, perante este paradoxo pergunto-me até que ponto o terrorismo islâmico não interessa a determinados almirantes da força, alguns falcões das armas e outros adeptos da intrusão na vida alheia. Pela “civilização ocidental” há pluralidade de entendimentos acerca da desejável amplitude das liberdades. Um anarquista e um cultor da democracia musculada hão-de divergir em quase tudo. Tenho a impressão que os fundamentalistas islâmicos estudaram com paciência a “sociedade ocidental”. Perceberam que há falcões que não hesitam em recorrer à força contra os hediondos actos de terror que ponham em causa as liberdades. Sabem que à medida que o terror for espalhando os seus tentáculos, e de cada vez que forem sendo limitadas liberdades em homenagem à Liberdade, a democracia entra numa contradição de termos.
É esta contradição de termos que mostra a fragilidade das liberdades, a fragilidade da “sociedade ocidental”. De cada vez que a democracia musculada exercita os bíceps e restringe liberdades, cede perante os tresloucados actos dos terroristas. Podem alguns, com condescendência, afirmar que a democracia se reconfigura perante as novas ameaças. Para os puristas, essa reconfiguração não passa de uma capitulação perante os violentos.
Enfrentamos dois dilemas: primeiro, por mais zelosos que sejam os serviços secretos, por mais atropelos que cometam às liberdades, não nos podem garantir que amanhã, em qualquer lugar, seja perpetrado mais um acto sanguinário. Vivemos em insegurança permanente. Daí que as liberdades vivam em mácula. Por outro lado, há a reacção que transforma as democracias em democracias musculadas. As liberdades deixaram de ter a amplitude que conhecemos. Há nesta limitação uma perda para os cidadãos. Vivemos com direitos mutilados, duplamente mutilados: pelos terroristas, que nos podem fazer vítimas; e pelas autoridades que nos governam, que aproveitam a ocasião para aumentar o tamanho das masmorras onde nos encerram.
Por serem tão frágeis, as liberdades são um bem incomensurável. É uma lei da economia: a escassez molda o valor de um bem. Os bens que rareiam são os mais preciosos. O maior desafio que se coloca ao exercício de cidadania individual é uma tomada de posição perante os atentados às liberdades. Na certeza de que os atentados têm uma dupla origem: dos que covardemente espalham sangue nosso, e dos que não olham a meios para tentar conter a onda de terrorismo. Porque as liberdades estão em causa, este é o momento de catarse (individual), como se levitássemos num lugar exterior onde tudo pudesse ser contemplado. Sobretudo as liberdades, a sua concepção, e os crimes que, de um lado e do outro, sobre elas são cometidos.
É nesta ocasião que não podemos transigir perante a retórica oficial das autoridades, tão ciosas da Liberdade que ousam atropelar cada vez mais liberdades. Há nesta fragilidade das liberdades a prestidigitação que as cobre de ouro. É fácil cair no engodo dos que congeminam os planos de combate ao terrorismo, cerceando pelo caminho as liberdades. Em desespero, no meio do fumo e do sangue derramado entre os escombros de mais um acto de terror, a emoção substitui a razão. É então que a democracia se mascara, emergindo com a armadura musculada para perseguir o inimigo que se mistura entre nós. O problema é que qualquer um de nós pode ser um potencial inimigo, pondo-se a jeito dos atropelos às liberdades individuais em nome da Liberdade de todos.
Tudo isto é um erro flagrante. Sem as liberdades individuais qualquer esboço de Liberdade do todo é um simulacro. Já não bastava a fragilidade das liberdades, quando são postas à prova pelos covardes sanguinários, e ainda temos que suportar a reacção intrusiva das autoridades. É uma sensação de impotência, esta luta desigual. O cidadão comum é o maior perdedor: pela insegurança latente e pelas liberdades cerceadas em nome da Liberdade. Pode Gordon Brown certificar que não capitulamos perante a loucura dos radicais. O exercício musculado da democracia é a prova de que já capitulámos. O quadro fica mais sombrio ao antecipar a espiral de violência e de mais democracia musculada, mais liberdades limitadas. Só por isto, os fundamentalistas islâmicos já começaram a ganhar a guerra que nos moveram.
Sou pouco dado a teorias conspirativas. Todavia, perante este paradoxo pergunto-me até que ponto o terrorismo islâmico não interessa a determinados almirantes da força, alguns falcões das armas e outros adeptos da intrusão na vida alheia. Pela “civilização ocidental” há pluralidade de entendimentos acerca da desejável amplitude das liberdades. Um anarquista e um cultor da democracia musculada hão-de divergir em quase tudo. Tenho a impressão que os fundamentalistas islâmicos estudaram com paciência a “sociedade ocidental”. Perceberam que há falcões que não hesitam em recorrer à força contra os hediondos actos de terror que ponham em causa as liberdades. Sabem que à medida que o terror for espalhando os seus tentáculos, e de cada vez que forem sendo limitadas liberdades em homenagem à Liberdade, a democracia entra numa contradição de termos.
É esta contradição de termos que mostra a fragilidade das liberdades, a fragilidade da “sociedade ocidental”. De cada vez que a democracia musculada exercita os bíceps e restringe liberdades, cede perante os tresloucados actos dos terroristas. Podem alguns, com condescendência, afirmar que a democracia se reconfigura perante as novas ameaças. Para os puristas, essa reconfiguração não passa de uma capitulação perante os violentos.
Enfrentamos dois dilemas: primeiro, por mais zelosos que sejam os serviços secretos, por mais atropelos que cometam às liberdades, não nos podem garantir que amanhã, em qualquer lugar, seja perpetrado mais um acto sanguinário. Vivemos em insegurança permanente. Daí que as liberdades vivam em mácula. Por outro lado, há a reacção que transforma as democracias em democracias musculadas. As liberdades deixaram de ter a amplitude que conhecemos. Há nesta limitação uma perda para os cidadãos. Vivemos com direitos mutilados, duplamente mutilados: pelos terroristas, que nos podem fazer vítimas; e pelas autoridades que nos governam, que aproveitam a ocasião para aumentar o tamanho das masmorras onde nos encerram.
Por serem tão frágeis, as liberdades são um bem incomensurável. É uma lei da economia: a escassez molda o valor de um bem. Os bens que rareiam são os mais preciosos. O maior desafio que se coloca ao exercício de cidadania individual é uma tomada de posição perante os atentados às liberdades. Na certeza de que os atentados têm uma dupla origem: dos que covardemente espalham sangue nosso, e dos que não olham a meios para tentar conter a onda de terrorismo. Porque as liberdades estão em causa, este é o momento de catarse (individual), como se levitássemos num lugar exterior onde tudo pudesse ser contemplado. Sobretudo as liberdades, a sua concepção, e os crimes que, de um lado e do outro, sobre elas são cometidos.
É nesta ocasião que não podemos transigir perante a retórica oficial das autoridades, tão ciosas da Liberdade que ousam atropelar cada vez mais liberdades. Há nesta fragilidade das liberdades a prestidigitação que as cobre de ouro. É fácil cair no engodo dos que congeminam os planos de combate ao terrorismo, cerceando pelo caminho as liberdades. Em desespero, no meio do fumo e do sangue derramado entre os escombros de mais um acto de terror, a emoção substitui a razão. É então que a democracia se mascara, emergindo com a armadura musculada para perseguir o inimigo que se mistura entre nós. O problema é que qualquer um de nós pode ser um potencial inimigo, pondo-se a jeito dos atropelos às liberdades individuais em nome da Liberdade de todos.
Tudo isto é um erro flagrante. Sem as liberdades individuais qualquer esboço de Liberdade do todo é um simulacro. Já não bastava a fragilidade das liberdades, quando são postas à prova pelos covardes sanguinários, e ainda temos que suportar a reacção intrusiva das autoridades. É uma sensação de impotência, esta luta desigual. O cidadão comum é o maior perdedor: pela insegurança latente e pelas liberdades cerceadas em nome da Liberdade. Pode Gordon Brown certificar que não capitulamos perante a loucura dos radicais. O exercício musculado da democracia é a prova de que já capitulámos. O quadro fica mais sombrio ao antecipar a espiral de violência e de mais democracia musculada, mais liberdades limitadas. Só por isto, os fundamentalistas islâmicos já começaram a ganhar a guerra que nos moveram.
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