Estaremos de regresso aos saudosos anos do PREC, quando a violência gratuita era destilada por extremistas que passavam da conta? Eram tempos em que a violência se justificava como instrumento para atingir os fins de certas causas, de "causas certas". É verdade que os tempos que correm são férteis em posicionamentos perante os problemas que caucionam o princípio de que os meios justificam os fins. Talvez isso justifique a arribação de um grupelho que se diz defensor do meio ambiente e que vandalizou uma propriedade agrícola em Silves com o pretexto de destruir um pedaço de terreno que acolhia milho transgénico. Com a passividade complacente da GNR, decerto mais interessada em perseguir automobilistas que ultrapassem em três quilómetros/hora o limite de velocidade permitido. E com o silêncio permissivo dos partidos (com a excepção do PSD), em especial do partido de extrema-esquerda que dá guarida às personagens que desataram a destruir propriedade alheia. Houve apenas uma voz que destoou deste silêncio ensurdecedor: o eurodeputado Miguel Portas, que “simpatizou” com a performance dos “activistas”.
Repisando argumentos, Miguel Portas denunciou o chorrilho de comentários críticos de que foi alvo, sobretudo alguns que destilavam uma insuportável violência de termos, com ameaças à mistura. Tem razão quando aponta a dedo os palermas que, discordando dele, recorreram à violência verbal primária e prometeram violência física se acaso se cruzassem com o eurodeputado. Mas é o risco que corre ao estender a passadeira à vagabundagem que destruiu o terreno do agricultor. Pode ser um detalhe insignificante para Portas e acólitos, mas o milho semeado estava de acordo com a lei e tinha sido autorizado. Pode Portas e companhia não o perceber, mas eles não se substituem, com a sua superior forma de ver as coisas, à lei – gostem dela ou não.
A violência da escumalha que nem sequer teve a coragem de actuar de rosto descoberto não justifica a violência (verbal e as promessas de violência física) do outro lado da barricada. Que não venha Portas mostrar face de virgem pudica, argumentando com oportunismo que para os seus críticos o direito à propriedade vem antes do direito à vida. A arte da retórica tem os seus limites. O embuste passa somente entre os incautos. Miguel Portas iludirá os apaniguados, que se reconfortam com dislates destes sem os questionar. O problema do camarada Portas é desviar as atenções do essencial, ao sentir que a razão se lhe escapa entre os dedos. Convoca a piedade dos devotos que aplaudem a acção dos flibusteiros e a piedade dos distraídos, usando os argumentos patéticos dos energúmenos que se insurgiram contra a cobertura que deu ao vandalismo. Não é isso que importa – o primarismo intelectual dos que prometeram violência contra a violência. Já que toda a violência pertence ao mesmo saco das indignidades, por mais que isso custe a Portas e companhia. Sem surpresa: nas cabeças destas sumidades está instalada a certeza de que há violência má (a que lhes é prometida) e violência boa (a que é feita em nome das causas que professam).
O que está em causa é a violência que deu origem à violência argumentativa contra quem caucionou a violência dos folclóricos justiceiros que destruíram um campo de milho transgénico. Esse é o acto que deve ser questionado. E a complacência de alguém que é eurodeputado e acoberta o vandalismo. Ainda que jogue com a precaução retórica: afirma que entende o acto como necessário para trazer para a discussão pública a questão dos transgénicos. Ora isso é que é perigoso. Pelo precedente que abre, pois doravante sempre que a extrema-esquerda quiser inscrever na agenda pública uma das suas causas fracturantes, chamando a atenção do público, o acto inaugural será uma orgia de violência sobre os outros. E estes que não ousem resistir à vaga dos justiceiros, nem sequer tentem com violência responder à violência dos que espalham a “destruição justa”, pois se o fizerem hão-de ser crucificados como opositores à razão incontestável que está do lado dos justiceiros. O que sobra é a mensagem dos vândalos, com a bênção de Miguel Portas, muito ao jeito das inefáveis justificações do injustificável do Professor Boaventura: quem não estiver de acordo com algo que tenha o beneplácito da lei, use da violência e encene-a com os holofotes da imprensa e a cândida complacência da polícia que estaria melhor a beber uns bagaços na tasca mais próxima.
Miguel Portas e adjacências folclóricas não devem ser unilaterais na forma como pensam e agem – sob pena de contrariarem um dos ícones da intelectualidade a que prestam tributo, o relativismo (que, confesso, sou um cultor). Antes de tirarem conclusões precipitadas e de fazerem as suas verdades que não são merecedoras de contestação (tamanha a sua persuasão), tentem perceber o ponto de vista contrário. No caso, tentem perceber o desespero do agricultor que viu o seu campo destruído. Se isso lhes causa alergia porque logo se apressam a denunciar que o direito de propriedade não é sagrado, esforcem-se, por um momento que seja, por fazerem de conta que o campo destruído lhes pertencia. Se, então, ainda restar alguma honestidade intelectual, digam-me alguma coisa.
Eu, que nunca andei à pancadaria com vivalma e que nunca pus as mãos numa arma de fogo, tenho que confessar o seguinte: se fosse aquele agricultor, haveria de defender com unhas e dentes o meu sustento. Daria uns tabefes, uns murros e uns pontapés – e receberia outros tantos, decerto, apesar de virem de quem se emproa na condição de pacifista por excelência, os tais flibusteiros. E aposto que Miguel Portas, perante o mesmo estado de necessidade, usaria de violência para defender os seus pertences caso estivessem sob a ameaça de quaisquer violentos. “Olha para o que eu digo, não olhes para o que faço” – já estamos habituados ao refrão.
Repisando argumentos, Miguel Portas denunciou o chorrilho de comentários críticos de que foi alvo, sobretudo alguns que destilavam uma insuportável violência de termos, com ameaças à mistura. Tem razão quando aponta a dedo os palermas que, discordando dele, recorreram à violência verbal primária e prometeram violência física se acaso se cruzassem com o eurodeputado. Mas é o risco que corre ao estender a passadeira à vagabundagem que destruiu o terreno do agricultor. Pode ser um detalhe insignificante para Portas e acólitos, mas o milho semeado estava de acordo com a lei e tinha sido autorizado. Pode Portas e companhia não o perceber, mas eles não se substituem, com a sua superior forma de ver as coisas, à lei – gostem dela ou não.
A violência da escumalha que nem sequer teve a coragem de actuar de rosto descoberto não justifica a violência (verbal e as promessas de violência física) do outro lado da barricada. Que não venha Portas mostrar face de virgem pudica, argumentando com oportunismo que para os seus críticos o direito à propriedade vem antes do direito à vida. A arte da retórica tem os seus limites. O embuste passa somente entre os incautos. Miguel Portas iludirá os apaniguados, que se reconfortam com dislates destes sem os questionar. O problema do camarada Portas é desviar as atenções do essencial, ao sentir que a razão se lhe escapa entre os dedos. Convoca a piedade dos devotos que aplaudem a acção dos flibusteiros e a piedade dos distraídos, usando os argumentos patéticos dos energúmenos que se insurgiram contra a cobertura que deu ao vandalismo. Não é isso que importa – o primarismo intelectual dos que prometeram violência contra a violência. Já que toda a violência pertence ao mesmo saco das indignidades, por mais que isso custe a Portas e companhia. Sem surpresa: nas cabeças destas sumidades está instalada a certeza de que há violência má (a que lhes é prometida) e violência boa (a que é feita em nome das causas que professam).
O que está em causa é a violência que deu origem à violência argumentativa contra quem caucionou a violência dos folclóricos justiceiros que destruíram um campo de milho transgénico. Esse é o acto que deve ser questionado. E a complacência de alguém que é eurodeputado e acoberta o vandalismo. Ainda que jogue com a precaução retórica: afirma que entende o acto como necessário para trazer para a discussão pública a questão dos transgénicos. Ora isso é que é perigoso. Pelo precedente que abre, pois doravante sempre que a extrema-esquerda quiser inscrever na agenda pública uma das suas causas fracturantes, chamando a atenção do público, o acto inaugural será uma orgia de violência sobre os outros. E estes que não ousem resistir à vaga dos justiceiros, nem sequer tentem com violência responder à violência dos que espalham a “destruição justa”, pois se o fizerem hão-de ser crucificados como opositores à razão incontestável que está do lado dos justiceiros. O que sobra é a mensagem dos vândalos, com a bênção de Miguel Portas, muito ao jeito das inefáveis justificações do injustificável do Professor Boaventura: quem não estiver de acordo com algo que tenha o beneplácito da lei, use da violência e encene-a com os holofotes da imprensa e a cândida complacência da polícia que estaria melhor a beber uns bagaços na tasca mais próxima.
Miguel Portas e adjacências folclóricas não devem ser unilaterais na forma como pensam e agem – sob pena de contrariarem um dos ícones da intelectualidade a que prestam tributo, o relativismo (que, confesso, sou um cultor). Antes de tirarem conclusões precipitadas e de fazerem as suas verdades que não são merecedoras de contestação (tamanha a sua persuasão), tentem perceber o ponto de vista contrário. No caso, tentem perceber o desespero do agricultor que viu o seu campo destruído. Se isso lhes causa alergia porque logo se apressam a denunciar que o direito de propriedade não é sagrado, esforcem-se, por um momento que seja, por fazerem de conta que o campo destruído lhes pertencia. Se, então, ainda restar alguma honestidade intelectual, digam-me alguma coisa.
Eu, que nunca andei à pancadaria com vivalma e que nunca pus as mãos numa arma de fogo, tenho que confessar o seguinte: se fosse aquele agricultor, haveria de defender com unhas e dentes o meu sustento. Daria uns tabefes, uns murros e uns pontapés – e receberia outros tantos, decerto, apesar de virem de quem se emproa na condição de pacifista por excelência, os tais flibusteiros. E aposto que Miguel Portas, perante o mesmo estado de necessidade, usaria de violência para defender os seus pertences caso estivessem sob a ameaça de quaisquer violentos. “Olha para o que eu digo, não olhes para o que faço” – já estamos habituados ao refrão.
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