Entre a brigada de cromos que pertence ao governo, o ministro da agricultura não é dos piores. Nestes anos todos, destacou-se quando disparou contra o líder do CDS numa pugna provocada por contundentes acusações contra o ministério da agricultura por não pagar atempadamente um dos inúmeros subsídios com que os agricultores são agraciados. O ministro Jaime Silva defendeu-se com as armas que encontrou a jeito: em vez de responder às acusações, enredou-se num chiste de putativo bom gosto acerca do milagroso caiar da dentadura do político que o havia criticado.
De resto, passara discreto entre os colegas mais habituados a coincidir palavras com disparates. Até que lhe calhou em sorte pertencer ao grupo, ao alargado grupo, dos membros do governo com declarações estrambóticas. Tudo por causa de uma daquelas acções de fiscalização deveras apertada que descobre um alimento, uma substância ou outra coisa que ameaça a saúde pública. Os vigilantes da saúde alheia não se cansam de levar para laboratório mil e um produtos, testando a compatibilidade com o organismo humano. À mínima desconfiança de alergias e intoxicações, não se repetem os testes: suspende-se a venda do produto. A enorme cautela confunde-se com um arremedo de autoritarismo. Faz parte do património genético deste governo, a sua têmpera autoritária. Em vez de provas irrefutáveis, chegam suspeitas aligeiradas para tomar decisões bombásticas. Tão bombásticas são as proibições que são o amor de perdição destes socialistas curadores da nossa saúde e da nossa segurança.
Alguém desconfiou de uma substância chamada depuralina. Ao que fomos informados, um suplemento alimentar tomado por obesos em tentativa de controlo de peso. Meia dúzia de pessoas foram parar ao hospital. Suspeitava-se de efeitos secundários da depuralina. A amostra tão restrita foi tomada como ameaça à saúde pública. Acontece amiúde: confundir a árvore com a floresta. O que nem sequer chega a ser perturbante, entre a seita que agora manda, é como há decisões que sancionam a falta de rigor científico que é confundir a árvore com a floresta. Também há pessoas que são alérgicas aos lacticínios - e devem o leite e seus derivados ser proibidos?
Quase um mês depois de ter sido espalhado o alarme entre os habituais consumidores da substância, os cérebros do ministério da agricultura deram conta que o alarmismo era infundado. Levantaram a suspensão da venda da depuralina. Os súbditos assistiram da poltrona aos dois pesos, duas medidas em que os engenheiros sociais são pródigos. O ruído ensurdecedor invadiu o espaço público quando a proibição, a tão adorada proibição, foi comunicada. Assertivamente comunicada, para todos sabermos quem manda e quem obedece. Em contraste com a saída de sendeiro, silenciosa e pela porta dos fundos, no anúncio de que afinal a depuralina não faz mal a ninguém. A depuralina, tal como qualquer outro alimento, pode provocar reacções alérgicas. Mas quem admite, no seu juízo, suspender a comercialização de todos os alimentos?
Quase trinta dias depois da mão de ferro do ministro da agricultura, tudo regressa à forma original. Sem humildade do ministério, que não admite o erro de apreciação. Pedidos de desculpa - às empresas que vendem o produto, às farmácias e ervanárias que o comercializam, às pessoas que estavam habituadas a tomá-lo, entretanto remetidas a dias de alarme, a todos os demais que foram testemunhas da leviandade de um organismo que devia ser mais rigoroso na exibição da sacrossanta autoridade - pedidos de desculpa, nenhuns. As empresas que vendem a depuralina estão a pensar em sentar o Estado no banco dos réus, reclamando uma indemnização. Só me espanta como ainda estejam a reflectir sobre a hipótese. Estão à espera de quê?
O incrível ministro da agricultura foi confrontado por um batalhão de jornalistas de microfone em punho. Queriam uma reacção de sua excelência. Palavra alguma acerca do erro de análise dos serviços que ele tutela. Os súbditos hão-de compreender: assim como assim, nos serviços trabalham comuns mortais, tão falíveis como qualquer humano. As autoridades nunca podem apresentar pedidos de desculpa. Não só lhes caem os parentes à lama, como esse exercício de humildade intelectual haveria de ser visto como uma diminuição da sua imarcescível autoridade. Sua excelência o ministro ainda teve tempo de enviar um recado a quem o quis ouvir: não faz sentido pensar-se em indemnizações, ó tola ideia.
Ontem aprendi. Que afinal há governantes que estão a leste do paraíso. Governantes, mas desconhecedores de uma matriz do Estado de direito que governam. Alguém devia ensinar ao senhor ministro da agricultura o princípio segundo o qual a cada macaco o seu galho: o poder político não interfere com os tribunais e vice versa. Ainda nem sequer o pedido de indemnização entrou em tribunal, mas sua alteza o ministro já se substituiu aos juízes que hão-de julgar o pedido, sentenciando a sua improcedência.
Talvez o ministro devesse tomar depuralina. Para o seu toldado discernimento se depurar.
De resto, passara discreto entre os colegas mais habituados a coincidir palavras com disparates. Até que lhe calhou em sorte pertencer ao grupo, ao alargado grupo, dos membros do governo com declarações estrambóticas. Tudo por causa de uma daquelas acções de fiscalização deveras apertada que descobre um alimento, uma substância ou outra coisa que ameaça a saúde pública. Os vigilantes da saúde alheia não se cansam de levar para laboratório mil e um produtos, testando a compatibilidade com o organismo humano. À mínima desconfiança de alergias e intoxicações, não se repetem os testes: suspende-se a venda do produto. A enorme cautela confunde-se com um arremedo de autoritarismo. Faz parte do património genético deste governo, a sua têmpera autoritária. Em vez de provas irrefutáveis, chegam suspeitas aligeiradas para tomar decisões bombásticas. Tão bombásticas são as proibições que são o amor de perdição destes socialistas curadores da nossa saúde e da nossa segurança.
Alguém desconfiou de uma substância chamada depuralina. Ao que fomos informados, um suplemento alimentar tomado por obesos em tentativa de controlo de peso. Meia dúzia de pessoas foram parar ao hospital. Suspeitava-se de efeitos secundários da depuralina. A amostra tão restrita foi tomada como ameaça à saúde pública. Acontece amiúde: confundir a árvore com a floresta. O que nem sequer chega a ser perturbante, entre a seita que agora manda, é como há decisões que sancionam a falta de rigor científico que é confundir a árvore com a floresta. Também há pessoas que são alérgicas aos lacticínios - e devem o leite e seus derivados ser proibidos?
Quase um mês depois de ter sido espalhado o alarme entre os habituais consumidores da substância, os cérebros do ministério da agricultura deram conta que o alarmismo era infundado. Levantaram a suspensão da venda da depuralina. Os súbditos assistiram da poltrona aos dois pesos, duas medidas em que os engenheiros sociais são pródigos. O ruído ensurdecedor invadiu o espaço público quando a proibição, a tão adorada proibição, foi comunicada. Assertivamente comunicada, para todos sabermos quem manda e quem obedece. Em contraste com a saída de sendeiro, silenciosa e pela porta dos fundos, no anúncio de que afinal a depuralina não faz mal a ninguém. A depuralina, tal como qualquer outro alimento, pode provocar reacções alérgicas. Mas quem admite, no seu juízo, suspender a comercialização de todos os alimentos?
Quase trinta dias depois da mão de ferro do ministro da agricultura, tudo regressa à forma original. Sem humildade do ministério, que não admite o erro de apreciação. Pedidos de desculpa - às empresas que vendem o produto, às farmácias e ervanárias que o comercializam, às pessoas que estavam habituadas a tomá-lo, entretanto remetidas a dias de alarme, a todos os demais que foram testemunhas da leviandade de um organismo que devia ser mais rigoroso na exibição da sacrossanta autoridade - pedidos de desculpa, nenhuns. As empresas que vendem a depuralina estão a pensar em sentar o Estado no banco dos réus, reclamando uma indemnização. Só me espanta como ainda estejam a reflectir sobre a hipótese. Estão à espera de quê?
O incrível ministro da agricultura foi confrontado por um batalhão de jornalistas de microfone em punho. Queriam uma reacção de sua excelência. Palavra alguma acerca do erro de análise dos serviços que ele tutela. Os súbditos hão-de compreender: assim como assim, nos serviços trabalham comuns mortais, tão falíveis como qualquer humano. As autoridades nunca podem apresentar pedidos de desculpa. Não só lhes caem os parentes à lama, como esse exercício de humildade intelectual haveria de ser visto como uma diminuição da sua imarcescível autoridade. Sua excelência o ministro ainda teve tempo de enviar um recado a quem o quis ouvir: não faz sentido pensar-se em indemnizações, ó tola ideia.
Ontem aprendi. Que afinal há governantes que estão a leste do paraíso. Governantes, mas desconhecedores de uma matriz do Estado de direito que governam. Alguém devia ensinar ao senhor ministro da agricultura o princípio segundo o qual a cada macaco o seu galho: o poder político não interfere com os tribunais e vice versa. Ainda nem sequer o pedido de indemnização entrou em tribunal, mas sua alteza o ministro já se substituiu aos juízes que hão-de julgar o pedido, sentenciando a sua improcedência.
Talvez o ministro devesse tomar depuralina. Para o seu toldado discernimento se depurar.
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