Aos cientistas e visionários, um grande bem-haja. Fazem o mundo avançar. Das invenções que dão a conhecer, a regra de serem virtuosas para a humanidade. Por estes dias, os avanços tecnológicos cavalgam, imparáveis e a uma velocidade vertiginosa. Nas tecnologias de ponta, uma inovação está destinada à efémera condição. A obsolescência espreita ao dobrar de cada esquina. O que ontem nos deixou boquiabertos depressa se transforma em sucata.
Eu adoro as conquistas da tecnologia. Dependo delas. Empenho-me em saber o que está aí a rebentar, a próxima conquista saída de cérebros inventivos que manobram nos interstícios da, para mim, insondável tecnologia. Por exemplo, quem desdenha das vantagens da Internet? Dizem os seus defensores: agora fazemos a partir de casa numerosas coisas que dantes obrigavam ao incómodo de uma deslocação até ao sítio onde esse serviço era prestado, com o desconforto das filas de espera e da antipatia dos funcionários que nos atendessem.
Há quanto tempo não vamos a um balcão de um banco? É tanto que nem posso assegurar se a Caixa Geral de Depósitos continua presa ao estigma da função pública (tão semelhante era o tratamento que o utente recebia num serviço público ou naquele banco). Podemos comprar férias sem ter que aturar a prosápia do comercial da agência de viagens. Podemos comprar bilhetes de avião, que até ficam mais baratos se forem adquiridos online. Já não são precisos mapas de papel: há vários sítios na Internet que oferecem mapas cheios de potencialidades que os tradicionais mapas desdobráveis não conhecem, traçando rotas que nem ao distraído deixam lugar à desorientação. Hoje soube: há um mapa que nos mostra, com fotografias, como são as ruas que esquadrinharmos. Até a comunicação entre pessoas se transformou. As "redes sociais" põem-nos a comunicar através da escrita, não através da fala. Parece que já não queremos escutar vozes, melodiosas ou medonhas, mas vozes, um timbre de humanismo. E parece que nos refugiamos no conforto da Internet, dentro de casa, um esboço de sedentarismo e de ensimesmamento.
Não sei se este é o preço a pagar pela galopante tecnologia. Têm uma capa de virtude, as muitas facilidades legadas ao utente da tecnologia. O reverso da medalha é, dizem uns quantos, a desumanização das pessoas. Quem faz coisas em casa quando outrora estava habituado a fazê-las na rua contacta com menos gente. Logo, essa pessoa fica menos gente. Para os críticos da voracidade da tecnologia, as vantagens dissipam-se na sua opacidade. Confinados ao comodismo da residência, é como se a transformássemos na caverna de onde pouco saímos. Pegando na retórica dos que protestam contra o embrutecimento da tecnologia, somos os novos homens das cavernas, tão bichos mergulhados no umbigo do nosso isolamento.
Haverá sociólogos, até psicólogos, entretidos com a análise do cenário? Se os críticos forem levados a sério, a mesma tecnologia que nos facilita a vida é a que nos dilui a humanidade. Ou, se não houvesse apenas comicidade nos profetas da desgraça agarrados a mirabolantes teorias, dir-se-ia que se trata de uma conspiração de robots. São as máquinas que nos oferecem, numa bandeja cheia de invisível cicuta, proveitos que maceram a humanidade e nos transformam em robots.
Eu não acredito em teorias da conspiração. Encaro as efabulações espalhafatosas como diversão – exercitam os músculos faciais que soltam o riso. Entre as profecias da desgraça e o comodismo da tecnologia que avança, supersónica, prefiro a segunda. Nem que digam que nos estamos a desumanizar.
1 comentário:
Concordo inteiramente consigo. É verdade que enquanto estou defronte do computador me afasto do convívio das pessoas, mas,navegar na Internet também é uma forma de estar com as pessoas, porque as "ouvimos" através da sua escrita e podemos aprender com elas. Porque ao escrevermos somos mais profundos. No fundo, não devemos deixar-nos influenciar por preconceitos formados num tempo que já era. Se tudo muda, porque não haviam as relações humanas de mudar também? E quem disse que não se desenvolvem laços de afecto com as pessoas com as quais nos relacionamos através dos nossos espaços, por exemplo? Quando me apetece estar com pessoas estou, mas não vejo nisso uma obrigatoriedade, como que a obedecer ao preceito de que esta atitude é mais saudável. Por mim prefiro a qualidade à quantidade e esta premissa aplico-a também nas relações humanas. Conheço pessoas com as quais não gosto mesmo nada de estar. De bom grado dispenso a companhia delas.
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