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Um espectáculo grotesco. Com palco gigantesco, que as televisões adoram enfiar desordem e sangue e bastonadas da polícia nos olhos dos espectadores. As claques, imersas na bestialidade do tribalismo acéfalo, querem ser as protagonistas de um espectáculo de que seriam apenas espectadores anónimos. Primatas, entretêm-se à pedrada, a insultar quem passa e o adversário – o adversário confundido com inimigo, como se a relva fosse testemunha de uma batalha letal.
A procissão de violência, a constante. Por onde passam, têm que deixar impressões digitais. A boçalidade dos argonautas da bola sinaliza-se na violência, na destruição, em amedrontar quem não pertence à seita. Meliantes como forma de vida. Os cabecilhas nem vêem o jogo: passam o tempo de costas voltadas para a relva a estimular as hostes. São deles as palavras de ordem, entoadas com a voz de comando de quem empunha um megafone. As palavras de ordem: normalmente, insultos ao adversário, pregões assassinos em que a palavra “morte” se solta com uma facilidade exasperante.
Leio por toda a parte gente insuspeita a pedir a extinção destes ajuntamentos de energúmenos. Os clubes omitem-se. É sintomático. Ainda acreditam que estes grupelhos de gente mal educada são o detonador dos feitos dos atletas. Através desse silêncio, os clubes são coniventes com os maltrapilhos que semeiam o terror por onde passam. As funestas criaturas acreditam que o terror fixa a sua superioridade. É como se fossem senhores dos lugares por onde andam. Vejo alguns aqui pelas ruas da cidade, garbosos na ostentação dos sinais de pertença à claque. São os novos feios, porcos e maus. De nariz empinado e fuças de poucos amigos, a rimar com a vestimenta reveladora da adoração religiosa pela claque e pelo clube (por este ordem).
Se não bastasse a hegemonia do futebol, como se quase tudo se reconduzisse aos feitos e às decepções de uma bola aleatória a entrar numa baliza, ainda apanhamos de frente com estes ajuntamentos de inúteis. Eles, que nem actores secundários deviam ser – meros figurantes à roda do palco onde os atletas procuram os golos –, vezes de mais tomam o palco pelas más razões. A violência, a única linguagem que sabem falar. Pesporrência que soa a covardia. Pois só são corajosos quando actuam em matilha. Há maneira pior de se ganhar visibilidade?
A interrogação que dá título ao texto é um equívoco para quem se agarra ao lema “é proibido proibir”. Caímos no caldeirão das excepções? Talvez seja preciso lamentar funerais para remediar depois do tempo. Nessa altura, já andará muita gente de dedo acusador em riste à cata dos responsáveis que não souberam (ou não quiseram) ter a lucidez da prevenção. Nessa altura, talvez os clubes ponham os pés no chão. E entendam que estes energúmenos não são de boa rês, nem são o mágico ingrediente para as façanhas dos atletas. E, nessa altura, talvez volte a ser seguro e confortável ir a um estádio ver um jogo de futebol.
Na televisão desfilava o cortejo de aberrações trajando os sinais identitários da barbárie, urrando e dando coices em quem aparecesse pela frente. Devem gostar de adrenalina. É que logo a seguir aparece a polícia de choque a dar uso aos bastões. Dei comigo a pensar. Que, por uma vez que seja, suspendo a filosofia que renega a violência das autoridades para exultar com cabeças rachadas que iam a caminho do hospital. E, de repente, notei uma curiosa semelhança entre estas claques e as claques organizadas de uma “jota” partidária que, uns dias antes, também andou aos urros no congresso do partido respectivo.
O grotesco pode aterrar à bruta, ou em pezinhos de lã. Nunca deixa de ser grotesco. E excrescência.
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