9.6.10

Algum dia aconteceria, uma aliança entre economistas e ambientalistas


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A crise decanta fenómenos improváveis. Por exemplo, gente que se antipatiza a falar em uníssono. Vem de longe a aversão recíproca entre economistas e ambientalistas. Um parêntesis necessário: quando menciono economistas estou a pensar nos que têm dominado a ciência, os “economistas neoclássicos”. Aqueles que são acossados por todos os lados por serem caudilhos do pior dos capitalismos. Os economistas de coração empedernido que recusam compromissos com valores humanos, tantas vezes sacrificados diante do profano altar do lucro.
As turras entre estes economistas e os ambientalistas são ancestrais. Os segundos acusam os outros de tirarem do estirador uma economia que agride os recursos naturais. O crescimento selvagem tem exaurido o planeta de recursos naturais. Os economistas são gente diabólica porque só lhes interessa crescer e produzir, produzir muito para crescer sempre e mais. Ora, argumentam os ambientalistas, a lesão maior desta espiral economicista sofre-a o meio ambiente. Qualquer produção envolve desperdícios que, de uma forma ou de outra, agridem a natureza.
Os economistas desvalorizam os ambientalistas. Atiram-lhes à cara a falta de soluções, ou o irracional empenhamento na defesa do ambiente mesmo quando isso sacrifique interesses humanos. Às vezes, os economistas mostram sobranceria em relação aos que militam na causa ambientalista, pondo em causa a cientificidade das suas conclusões. Sobram os diferentes métodos que conduzem à abordagem dos problemas. Os ambientalistas apostam na cautela. Na dúvida sobre os efeitos ecológicos, defendem a inércia. Os economistas são mais ousados. Experimentam a actividade quando os riscos de dano no meio ambiente são elevados, mas não totalmente demonstráveis.
Agora é tempo de pazes. A crise descobre maravilhas destas: o apaziguamento de inimigos figadais. Onde está o milagre, o cimento da insólita aliança? Nos efeitos devastadores da crise teimosa, demorada. Há por aí economistas que, acusam os críticos, com total insensibilidade propõem cortes a eito de salários nos países que têm a economia mais desarranjada. Ou há coragem para mexer com os “direitos adquiridos”, educando as pessoas a baixarem o nível de vida se não quiserem hipotecar o futuro, ou o que se avizinha são tempos de cataclismo económico (e social) – argumentam, naquele tom profético das previsões que, invariavelmente, erram.
É aqui que os ambientalistas entram na dança, em passos cadenciados com os economistas desapiedados. Eles ovacionam cortes nos salários. Para as pessoas perderam terríveis hábitos de consumo que, está-se a ver, são catastróficos para o meio ambiente. Com menos dinheiro nos bolsos, as pessoas ganham hábitos monásticos. Compram menos. Logo, as empresas produzem menos e causam menos agressões no ambiente. O modismo do momento é a sustentabilidade. O equilíbrio sempre instável entre crescimento e ambiente saudável.
A esta altura já percebemos que esta é uma aliança de conveniência. Ambientalistas e economistas coincidem na proposta dos salários encurtados. A sintonia termina aí. Os economistas mainstream continuam a ter poucos olhos para a preservação do meio ambiente. À sua maneira, a impopular ideia de baixar salários é um contributo para a defesa do ambiente. A menos que de repente se tenham convertido ao deus ambiente (ocasionalmente há milagres destes), os economistas começam a ser populares entre os perseverantes militantes do ambientalismo. Destes sobra uma incoerência: como gente de esquerda que são, e sendo a esquerda geneticamente sensível às necessidades sociais, como se desembrulham do aumento do desemprego em que a espiral menos salários, menos produção se traduz?
Incoerências à parte, uma particular confissão: é delicioso ver estes economistas e os ambientalistas a darem para o mesmo peditório. Só falta saber se os economistas ganharam uma costela ambientalista, ou se os ambientalistas começaram a perceber de economia (e de necessidades humanas).

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