3.6.10

Velhos tempos


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A PSP não é de confiar. Mais episódios de violência gratuita, violência ainda por cima explicada às três pancadas, não alimentam a confiança na “força da ordem”. Com “ordem” deste calibre, à força do cassetete, que venha a desordem.
Tenho uma ligeira desconfiança que este é o mostruário do salazarismo de que não nos desprendemos. Depois andam por aí, ufanos, a apregoar a democracia e a república, mais os valores sagrados de que só os republicanos democratas se acham titulares. Apregoam tudo isso, mas nas esquadras os métodos são dignos de uma PIDE de antanho. Parece que o antanho é uma onda tsunami que arremete terra dentro, imparável, tragando mais terreno onde a água estava distante. É como se o passado de que nos envergonhamos ainda não tivesse passado de tempo. Bascula a sua desonra sobre as nossas cabeças, mas aviva-se pela mão de gente com farda que não devia ser envergada (por eles).
Também pode ser de outro modismo contemporâneo, esta ensandecida deriva pela violência policial: o histerismo da segurança compromete outros valores quando um intérprete com força da autoridade conclui, na sua arbitrariedade, que métodos reprováveis devem ser usados para garantir a segurança de todos. Os republicanos dos quatro costados, muito atarefados com as celebrações do centenário da república, ainda não deram conta dos atropelos. Ou desviam, convenientemente, o olhar.
Eu, que nem sou sensível à retórica da violência contra a violência instituída (afamada por meios juvenis que se movimentam nos subterrâneos da sociedade), percebo a revolta que se apodera dos que se sentem violentados com a gratuita violência policial. Percebo essa “violência ilegítima”, mas não a torno legítima só por combater a violência arbitrária que chega pelo cunho de gente fardada. Os excessos das polícias repetem-se, cada vez menos espaçados no tempo. É muita coincidência que haja muitos senhores agentes de farda e cassetete empunhado a varrer o que passa no caminho. É muita coincidência que haja agentes da polícia a terem um dia mau. Por que anda a PSP tão nervosa?
Dá a ideia que regressámos à máxima “bater primeiro e falar depois” (se é que alguma vez abandonámos o preceito). É o que se faz às carnes duras: antes de se deitarem no cozinhado, levam umas sarrafadas para amaciarem. Às vezes, as carnes curtidas pelos cassetetes dos polícias são de tal forma amolecidas que já nem é possível ouvir as respostas quando as perguntas, por fim, suplantam a força do cassetete.
Não há nada mais contraditório do que a PSP – a inquirição é feita à letra do meio no acrónimo. “Segurança”, só se for dos próprios agentes que abusam do complexo de farda e semeiam desconfiança entre os residentes. O cromo do ministro da tutela podia mudar o nome da corporação para PIP (Polícia de Insegurança Pública). 

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