In http://thumbs.dreamstime.com/thumblarge_176/118752857338vRv0.jpg
(É ficção. Mas podia ser
realidade)
Documentos secretos desviados
vieram parar às mãos erradas. Uma secção dos serviços secretos dominada por agentes
com saudades do fascismo montou uma soez tarefa de vigilância aos principais
sindicalistas da nação. A espionagem chegou ao requinte de montar câmaras
escondidas nas secções de voto onde os protagonistas do sindicalismo iam votar.
As imagens chocaram a nação inteira (e as esquerdas em particular, pelo menos
as mais ingénuas). Os sindicalistas profissionais votavam, sem exceção, nos
partidos da “direita”.
Depois de uns dias de
desorientação geral e de asilo voluntário de grande parte dos agentes do
sindicalismo (adivinharam que iam ser chamados à pedra pelos trabalhadores que
diziam representar, estes sem capacidade para os perdoar da traição), a nação,
e as esquerdas não ingénuas em particular, começaram a esboçar teorias para a
custódia da direita pelos patronos dos sindicatos. Profusas foram as teorias da
conspiração. Uns asseguravam que uns agitadores fascistas conseguiam envenenar
a água dos sindicalistas em vésperas de eleições, para eles irem às urnas com o
entendimento embaciado. Outros atiravam-se aos delegados presentes nas mesas de
voto, mas apenas aos colocados pela “direita”. Pois teriam destreza no
hipnotismo e desse modo comandavam a vontade dos sindicalistas, distraindo-os
do voto certo, que é, sabe quase toda a gente, em partidos de esquerda (e, de
preferência, de extrema-esquerda, os legítimos tutores dos interesses do povo e
os credores da “democracia real”). Alguns sugeriram tratar-se de uma chantagem
que metia rabos de saia pelo meio (o que confirmava a natureza humana dos
sindicalistas e excluía da hipótese as mais aguerridas delegadas sindicais).
Nenhuma das teorias ganhou
espessura convincente. A desorientação tomava conta das hostes. E eis que, das
catacumbas do saber, alguém propôs uma hipótese que deixou os dirigentes das
esquerdas cumplicemente emudecidos. Afinal, os sindicalistas estavam no seu
perfeito juízo quando votavam em partidos da “direita”. Pois o que seria do
exacerbado sentir sindical se a “direita” deixasse de ser poder? Os sindicatos
esvaziavam-se por dentro. Eles só fazem sentido se e enquanto a “direita”, que
é um camartelo nos direitos dos trabalhadores, estiver amesendada no poder. Se
os partidos da extrema-esquerda viessem a beijar as rédeas do poder, os
sindicatos seriam reduzidos a um nada maior que o vazio. Podiam lá eles
contestar a política de quem neles manda?
Ficou também revelado um dos
maiores mistérios da democracia contemporânea. Agora já se percebem os números
dos grevistas e dos manifestantes de rua, quando os sindicatos colocam a sua
diligência em ações de luta. Confirma-se: a esmagadora maioria do povo pertence
a uma esquerda qualquer. E também se confirma uma tenebrosa conspiração
autofágica. Não são só os sindicalistas a votar na “direita”. A “democracia
real” tem cada ironia do destino...
1 comentário:
"Espelhos deveriam pensar duas vezes antes de refletir"
Jean Cocteau
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