Três dedos de conversa. Três doses de
ternura. Dois pares de olhos que se entrecruzam, olhando nas profundezas uns
dos outros. As mãos que se amaciam. Uma recompensa que não arranja explicações.
As palavras que repõem ânimo.
Tudo se embeleza. As janelas
engalanam-se com flores jactantes. O chão vívido resplandece para os pés dos
amantes. No dorso segue a matéria viva que desfralda as emoções. Tudo se resume
a dois. Um mundo inteiro para dois, ou os dois que confecionam um mundo
particular. Da maresia que se insinua recolhem em suas mãos o sal que vem atear
a pele corada. Os corpos que se arrastam pelo areal são os mesmos que se
entregam numa cumplicidade inata. Não há segredos. Não há palavras escondidas. Nem
as há proibidas. No livro que se compõe, páginas fundeadas no ouro arrancado
das entranhas perfumadas pelo amor singular. Tudo é beleza. Tudo se rende a uma
estética de que os amantes são arquitetos lídimos. Cinzelam com estrofes suadas
a alquimia que faz o quotidiano. As estrofes ensinam que o tempo vivente é o
que interessa ser dissecado em todos os segundos contidos. Mas as estrofes também
entoam preces que agarram o porvir sem cauções.
O odor das flores campestres conquista a
casa onde repousam nos braços um do outro. Ao longe, uma melodia quimérica: as
guitarras dedilhadas amparam os precipícios de antanho. Recrutado o amor, a
estrada perdeu as sinuosas curvas. Agora é uma viagem serena, com tempo para
apreciar cada instante da paisagem que se oferece. O tempo ganhou outra
dimensão. Já não são apressados os olhares que pretendiam fintar o tempo. O
tempo, agora, demora-se. Tem outro sabor. Adocicado pelo amor recrutado, debate-se
em sua imorredoira condição. Outras vezes, é como se as mãos fortemente
entrelaçadas conseguissem levitar o tempo, suspenso diante dos seus olhos, numa
âncora estendida no teto.
Tudo se embeleza no triunfo do amor. O
resto não importa.
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