In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMLFz7PKKH_VpBcbFLC9FfblPJjwWHy9a6UDsM5ImLVbc9Wm1eU7b8c8nzteCCjADfOYek71gkEoQYFsRYdkZkHd7SioEEDSMLI1f8d3Dmq3KqTlwgRSM6D6cum7TZOYuMhPdvCQ/s1600/f03f6f54-917e-4662-ba0d-fb2f9d33336e.jpg
Precoce, a criança pegou em livros de
Astérix. Fascinou-se com a personagem do druida. As fartas barbas brancas em
cima do ancião emprestavam-lhe o respeito devido pelos mais novos (que eram
todos os outros) e uma sageza indiscutível. Guardava os segredos das ervas e
das substâncias que serviam para uma alquimia que depositava nos aldeões uma
força huna.
A poção mágica era o segredo para
derrotar os invasores. Os aldeões nunca foram invadidos graças à poção do
druida. Ainda houve uns invasores que perceberam a tática necessária:
sequestrar o druida, pois o druida nunca revelou o segredo a ninguém e
recusava-se a armazenar uns lotes de poção mágica que precavesse a sua falta.
Mas o druida, ancião porém, não era trôpego. Guardava na algibeira umas gotas,
as suficientes gotas, para tragar em caso de ameaça pessoal. O mais sagaz de
todos, o druida sabia que não podia desguarnecer a aldeia. Embora desapossado
das coisas terrenas, o druida era o supremo guardião da aldeia. Tinha muitas
responsabilidades. O chefe da aldeia, o chefe apenas político, já o tentara
convencer a partilhar o segredo da poção. Desconfiado da natureza humana, e
desconfiando que os detentores do segredo podiam usar a poção em proveito
próprio, nunca anuiu. O chefe da aldeia invocava a anciã condição do druida, insinuando
que era curta a vida de sobra. Só assim o druida descompunha o seu
imperturbável estar, vociferando ao chefe da aldeia se o queria ver morto antes
do tempo.
(À boca pequena, os aldeões especulavam
sobre a idade do druida. Ninguém era capaz de tirar a medida certa. Apenas
sabiam que era uma vetusta personagem. À boca pequena, alguns atiravam para o
ar que o druida já levava mais de trezentos anos de vida. E que seria imortal.
Sem que nunca lhes ocorresse prestar homenagem a preceito a quem é imortal,
como acontece às divindades. Não lhes passou pela cabeça que o druida seria uma
divindade disfarçada.)
Certo dia, o druida adoeceu. Esqueceu-se
da sua memória. Tudo se evaporou do conhecimento. Nem sequer sabia quem era. O
druida deixou de o ser. Já não havia poção mágica. Em dois atos, a pequena
aldeia sucumbiu aos invasores. O druida, afinal, não era uma divindade nem
tinha para cima de trezentos anos. Os aldeões eram mais sábios do que se supunha.
E a criança aprendeu uma lição.
Sem comentários:
Enviar um comentário