In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/61/Flying_upside_down.jpg
A primavera envergonhou-se nos seus
neófitos dias. Depois de uma primavera a destempo na senescência do inverno,
pressagiando a primavera que não tardava, mal a primavera depôs o inverno logo
aterrou a chuva e voltamos aos agasalhos da invernia, tamanho o frio que se
pôs.
Ocorreu pensar sobre os paradoxos, os
que julgamos que os são e aqueles que aparecem embotados por uma capa também
ela paradoxal. Há paradoxos que de o serem assim tidos são um paradoxo
paradoxal. Ou um paradoxo que se desmente através de mais cuidada observação.
Ouvi pessoas a protestar contra a primavera que se envergonhou. A dizerem que
não faz sentido, agora que veio a promissora estação e ela logo cuidou de
testemunhar um tempo que é condição habitual do inverno. Admita-se que as
pessoas estão extenuadas de um inverno como não acontecia há trinta e cinco
anos (segundo os meteorologistas), de tão rigoroso que foi. É a condição
atenuante para a desilusão com a primavera que ainda nem sequer é infante.
As duas estações do meio, aquelas que
suavizam as estações excessivas, sempre possuíram ingredientes de cada uma das
estações a que vêm abraçadas. Calor no outono e frio e chuva na primavera são o
selo de alguma normalidade. O que é normal não pode ser um paradoxo. A
primavera não é o contraste com o inverno deposto. Ele continua-se a insinuar
em certos dias, que de primaveris só têm a data que vem no calendário. As
mesmas pessoas que protestam contra uma primavera que não soube demitir de vez
o inverno esquecem-se que o verão se infiltra, como se fosse um agente duplo,
nas entranhas do outono. Poucos se apoquentam com o calor datado que se mete pelo
outubro adentro; quase todos fazem loas ao mítico “verão de S. Martinho”, que
admite temperaturas quase estivais nos contrafortes de novembro. Um paradoxo
desta laia exige coerência de observação.
Se chuva e frio na primavera são um
paradoxo, é porque são um paradoxo consequente. Ou um paradoxo que se desfaz à
mais fria análise das coisas.
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