11.3.14

Dos frutos adoráveis

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As árvores de fruto são como desenhos que retratam a insaciável demanda pela vida – dizias. Dizias que eras capaz de ter todos os frutos do mundo em teu regaço. E dizias que reproduzias com rigor os nomes dos frutos se te fossem dados a cheirar.
Podiam ser as romãs vivazes que entronizam o outono, com sua fina armadura de alvéolos, gritando a exasperante injustiça em que esbarram os olhos. As romãs saciam a sede de sentir, como as framboesas são sublimes santuários que enfeitam as coroas de flores por todos os lugares, esbulhando as mal paranças. Dizias que as maçãs são um pecado mal digerido e que os frutos se amanham com lugares-comuns que transitam de um legado que se descompõe em sua frivolidade.
Um banquete colorido, ou uma orgia de sabores que vem das divinas aposições nos frutos que desfilam no lugar onde os confrades amesendam. Provam os frutos, cerram os olhos em esgares de deleite, trocam palavras que emolduram as sensações devolvidas pelos frutos. Depois há quadros que furtam da essência dos frutos um naco do que são; não têm vencimento, porém, pois não passam de moldura aspirante de uma empreitada que vai além do tamanho que têm. As árvores de fruto são uma coreografia de êxtases. Quem nunca meteu os pés ao caminho por entre pomares ou vinhedos, guardando os aromas em redor, o forte aroma que nem precisa de proximidade dos frutos? Quem nunca colheu uma laranja sumarenta da ramagem vicejante, com a ramagem por testemunha do aceitável furto? Quem nunca fixou o olhar numa orquestra de frutos, coalhando o olhar no embevecimento da policromia estrelar?
Os frutos descem das árvores às nossas mãos – dizias – e somos sacerdotes do pomar de onde elas provêm. Oxalá o leito tivesse lençóis de fina seda frutícola e o chão do quarto fosse uma sinfonia com os aromas variados dos frutos entronizados. Para, à noitinha, o sono embalar nos doces acordes dedilhados pelos frutos dançantes. As alvoradas seriam perfumadas com a decantação dos sucos em que medrassem os frutos.

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