7.3.19

Para que serve o revivalismo?


The The, “This is the Day” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=HXaEAoRUkfE
Mote: “All the money in the world couldn’t buy back those days”, The The, “This is the Day”.
O revivalismo só acomete gente de meia-idade e gente idosa? Serão as faixas etárias mais propensas. Mas o revivalismo não é seu exclusivo. Há gente mais nova, na ampla faixa que medeia a adolescência e a meia-idade, que também descai para o revivalismo. Admita-se que, com o avançar da idade, aumenta a probabilidade do revivalismo; é a cobrança da idade que se traduz na gramática do tempo. E quanto mais o tempo corre à frente, mais as pessoas querem resgatar recordações que servem para turvar o tempo presente (e, talvez, adiar o futuro).
Devia o revivalismo ser proibido? Que não seja erradamente entendido um opúsculo sobre a inutilidade do revivalismo com uma proposta para a sua liquidação do roteiro das almas. Se não se vê serventia em enxertar o tempo presente com memórias, que ninguém tenha a pretensão de estender este comportamento aos demais. Cada qual faz com o tempo que tem entre mãos (em qualquer das suas dimensões) o que lhe aprouver.
Feita a advertência, o que sobra da prosa ensaia uma justificação da inutilidade do revivalismo. Ele encontra-se de diversos modos: em fotografias que trazem um naco do passado até ao momento em que são revistas; na música, no cinema, num lugar revisitado, ecoando recordações; nas pontes entretecidas por um sonho, na linguagem codificada que, num lampejo de lucidez, se decifra em ligação com um episódio passado. Muitas vezes, a visita de um músico que se julgava reformado tem esta intenção. Muito para além da questão estética, está em causa verter um raio de luz nas memórias que quadram com o artista na altura em que ele era, como a audiência o era, novo. É como se fosse possível viajar no tempo e aterrar naquele tempo em que o músico era novo – e a audiência também.
Este é um revivalismo que causa dores excruciantes, em vez de repristinar as memórias em forma de recompensa. Mau grado elas assomem à superfície, desalfandegadas da hibernação, a retribuição é ilusória. Serve para mostrar que os tempos de outrora não voltam – não podem voltar – a ser vividos. O revivalismo resgata memórias que só aparentemente são o rastilho da rejuvenescência. Não é possível, a rejuvenescência. O revivalismo encerra o paradoxo de si mesmo: o que sobra é a melancolia ao cabo do estado hipnótico que foi palco para o resgate das memórias que o músico evoca. 
O revivalismo é ainda penalizador por ultrajar os acontecimentos que a memória procura associar ao músico revivido. Esses acontecimentos são irrepetíveis. Deviam ser honrados como tal, para não perderem o seu zéfiro. Avivá-los implica admitir o pesar que se arqueia sobre a vida presente, o que não abona em favor dos laudatórios do revivalismo. Como se eles pressentissem a necessidade do exílio no passado. É o que se retira do verso que serve de mote a esta prosa (sem cair na contradição de recuperar uma banda que soa...a revivalismo).

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