Viagra Boys, “Just Like You”, in https://www.youtube.com/watch?v=xtmDOo5Ifx0
Contra a conversa de balneário: os varões inchados, que se medem pela testosterona e pelas proezas, sabe-se lá quantas vezes apenas fantasiadas, com o sexo oposto, são pasto abundante de preconceitos. E de parâmetros enviesados, que a eles, marialvas convictos, a variedade de parceiras sexuais, a promiscuidade, até, são pergaminhos de masculinidade, sem que a poliandria seja por eles caucionada, que aí já se trata de condenável adultério.
(Para que conste: não se deduza da frase anterior um juízo de valor, muito menos de desvalor, acerca da poligamia (ou da poliandria, por extensão de raciocínio), nem sequer sobre a promiscuidade. É ao livre arbítrio dos envolvidos que cabem juízos de valor.)
Estes machos, encerrados na sua coutada atávica, asneiam de tal modo que, a páginas tantas, fazem pensar se se trata de acefalia ou apenas de um intenso preconceito de que nem dão conta. Eles juram que são peritos na arte de ensinar os truques dos prazeres carnais às donzelas e menos donzelas que com eles acamam (ou noutro sítio qualquer). É uma questão de estatuto, o prolongamento da superioridade masculina com intermediação da ontologia sexual. Colocado na posição de ouvinte involuntário destas conversas improdutivas, apetece-me o papel de interrogador-mor. Por exemplo: eram vossas senhorias capazes de trocar prazeres carnais com uma senhora mais experimentada nestas artes – digamos –, daí retirando alguns ensinamentos que ampliem o conhecimento de vossas senhorias na matéria?
Vou adivinhar a resposta (correndo o risco inerente ao augúrio): “nem pensar!”, seria a resposta, exclamada, resoluta, indignada. Primeiro, eles é que são os mestres na arte da luxúria. Está-lhes tatuado no mais profundo do tutano, e a “natureza” diz que são os homens que devem conduzir a coreografia. Este rudimento inato não admite que um homem, um “homem que se preze”, seja ensinado nas artes da cama. Seria humilhante. Este é um terreno onde o homem, “o homem que se preze”, é professor. À mulher está destinado o papel de discípula. Segundo, não se admita a um bom varão (com a exceção adiante sufragada) ser presa de uma mulher bastante experimentada. Que essas são pouco recomendáveis, justamente pela elevada quilometragem que trazem a tiracolo. Quem quer trocar desejos carnais com uma mulher com semelhante experimentação? Tirando a exceção anunciada – estes homenzarrões também têm um lado lunar oculto que se abre a múltiplas experiências que, todavia, negam quando exibem a sua hermética doutrina sobre o assunto –, nenhum homem valente se presta à possibilidade de ser ensinado por uma mulher, no que à luxúria diz respeito.
Aposto bom dinheiro que a recusa exposta se legitima num argumento que estes machos exemplares não admitem em público: não querem que essas experimentadas mulheres lhes transmitam coisas diferentes, por temerem que essas coisas diferentes lhes foram transmitas por anteriores (ou contemporâneos, não interessa para o caso) parceiros. Seria como admitir que há homens ainda mais marialvas, o que é inaceitável para o épico ego em que estes homenzarrões se estribam.
Correndo o risco de cair numa generalização (perigosas, como todas o são), outra aposta: estes são aqueles valentes machos que se ufanam das suas proezas sexuais, e do (dizem eles) rol interminável de “conquistas” – como se estivéssemos numa reserva cinegética e as mulheres fossem as presas a que dão caça; são aqueles que, no desempenho da função, estão imersos no profundo egoísmo de quem apenas cuida do seu prazer. Mal sabem que são desdenhados pelas “presas”, que deles não habilitam grandes referências.
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