Trentemøller, “Try a Little”, in https://www.youtube.com/watch?v=C6FHDwhjofg
Não preciso de dizer uma palavra. Ou melhor: não precisara de dizer uma palavra, sequer, se não fosse a teimosia que embacia a lucidez. Pode ser erro meu. Se me pedes opinião, ajuízo que a tua opinião perde em cabimento, órfã de legitimidade, implausível no raciocínio. Se me pedes a opinião sobre a tua opinião, é certo; de outro modo, refugio-me no silêncio de quem não foi interpelado. (Já chega quando falamos de mais, o que acontece com frequência acima do razoável – é dos tempos modernos e do triunfo da democraticidade: todos temos opinião e ela deve ser proclamada com visibilidade, até com alguma ostensibilidade.) Não sendo o caso de me ser requisitado o silêncio, tenho a dizer que o teu argumento padece de um vício de raciocínio. Admito que seja meu o erro: laboro em pressupostos que são diferentes dos teus, e isso pode fazer toda a diferença. Se eu fosse a passar a pente fino o assunto que te traz à colação, o meu ponto de partida não era o teu. Não é de admirar que não subscreva o teu argumento. Partimos de diferentes casas da partida e seguimos por caminhos que não se encontram. Não há acrimónia no meu juízo. Não quero que fiques a pensar do mesmo modo que eu, por submeter o teu problema aos meus cânones. Tenho essa vantagem: quando fui convocado a ajuizar o teu argumento, não sabia qual era o meu ponto de partida; eu sabia do teu, e sabia-o nos antípodas do meu. Se estivesse no teu lugar, e se sujeitasse o meu argumento aos olhos outros, quem me dera que os demandados estivessem nos antípodas da minha casa de partida. Quem deseja um coletivo exercício de deferências multiplicadas, em que todos se elogiam a todos e todos reproduzem as mesmas ideias em circuito fechado? Termos em que, se permites, pergunto, sem desdém, sem arrogância intelectual (que posso ser eu a validar um erro de análise), se queres saber quantas dioptrias precisas para ajuizar o problema?
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