21.6.24

Saco azul

Björk, “Big Time Sensuality”, in https://www.youtube.com/watch?v=-wYmq2Vz5yM

Aviso: não peçam indulgência, que a matéria emocional está a dormir. Depois acordo e percebo que não tenho paradeiro visível, sou como que matéria dissolúvel que se evaporou sob a alquimia do luar, como se me tornasse timoneiro da lua. 

Podiam arrematar das funduras da alma um módico de mudança, que me seria suplicada: pois se sobejam feridas por cicatrizar dos contínuos sobressaltos que não perdem a identidade de um só dia, devia aceitar a metamorfose para meu próprio bem. Era como se escondido estivesse um saco azul, último recurso a que deitaria mão se a contingência fosse compressora. Para saber que possibilidades me seriam habilitadas para derrotar a contingência. Talvez a bondade irrefreável estivesse entre o rol das coisas escondidas no saco azul.

Teria, então, contexto para a filantropia. Não queria reconhecimento, que a generosidade só é autêntica quando não transporta o reembolso de uma compensação. Em virtude do saco azul, os recursos não se atemorizam por não terem cais numa contabilidade qualquer. Nem tudo o que não é admitido por lei se filia na património das ilegalidades.

Ainda que houvesse hesitações: o saco azul é clandestino, deve ser tutelado pelo seu titular e por mais ninguém. Se houver um luar inaugural que trouxer legendas proféticas para a tela onde se congemina o céu, não temos de reter as palavras que se entoam com o vagar do luar. Pode ser uma distração; ou, o que será pior, de acordo com os regentes, poesia que segura o biombo da alucinação, levando-nos a estados lisérgicos que não participam na cidadania imperativa.

Não importa o que pensam os regentes. É nas manhãs lúcidas que desembaraço os lugares visitados e os que estão por visitar, as pessoas que farão rima com o futuro e as que pertencem à moldura do tempo pretérito. O saco azul esconde o segredo que pode traduzir um tempo por vir. Um investimento imaterial, polvilhando o mapa que acolhe os pés itinerantes, vadiamente rebeldes na ânsia de levantarem a mordaça que vigia o desconhecido. 

Essa é a maior esmola que podemos dar a nós próprios. O saco azul não pode ser imoderado.

Sem comentários: