Indignu, “Levitação do Sahara” (Understage Rivoli), in https://www.youtube.com/watch?v=bO8b2sxTBpk
Quem nunca teve um ciclone a desabrochar no meio do sangue, pronto para devorar a quietude capitalizada? Quem nunca se sentiu sitiado num sofá pregado às paredes de um labirinto, sem se poder mover enquanto vultos aterradores ensaiavam voos rasantes e ciciavam palavras insondáveis?
Fechou a janela, não fosse entrar uma revoada de outras interrogações apassivantes. Aquelas ficaram a adejar sobre o tempo consequente e não era por ferirem o entendimento, era por serem gongóricas e não perceber se queriam desassossegar o espírito até então tomado por uma certa letargia. Talvez o propósito fosse só distrair e, com essa distração, dar cobertura a hipóteses que não teriam vencimento se a distração não tivesse sido atendida.
Não se diga da megalomania que está ausente de certas almas, como se uma vacina as protegesse. Há pessoas que dizem, sem a vigilância de mitos, que sonham acordadas, ou sonham em voz alta. São sonhos singularmente megalómanos, com as medidas desenhadas por fora das muralhas onde se contêm os seres. Às vezes – dizia, à procura de legitimação – precisamos de experimentar os deslimites, precisamos de ser alguém por fora de quem somos, mesmo que não o façamos para nos vermos por fora de nós mesmos. Queremos pseudónimos, mesmo que estejam confinados a um processo que narra um fingimento.
Esses talvez estejam cansados de quem são.
Era preciso perquirir a teoria do elefante branco. A megalomania, nem que seja versada em breves intenções, bebe no úbere do fingimento. Ou apela à fantasia, como se houvesse tempo disponível para sair da órbita pessoal e fazer de conta que se é outro alguém, sem ter um nome a adejar a prestidigitação. O elefante branco cabe dentro de um exíguo envelope; é do tamanho das milimétricas desambições que lançam âncora num enredo megalómano. Alguns chamam-lhe sonhos. Correm o risco de confundir sonhos, a sua involuntária linhagem, com os devaneios que convocam para o tirocínio de um elefante branco.
O pior do elefante branco é a ressaca. Aterrar estrepitosamente num chão duro e partir uns ossos sem poder endossar a fatura para a sede da megalomania. Pois o elefante branco é o próprio procurador da megalomania.
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