Mdou Moctar, “Imouhar”, in https://www.youtube.com/watch?v=Rou56KMf_dw
Os lívidos azulejos são o espelho de quão baço está o dia. Conspiradores de toda a espécie juntam-se à volta de um adro escondido numa cave. Conspiram, num certame de criatividade usada do avesso: o trofeu derradeiro será empunhado pelo confrade que tiver inventado a conspiração simultaneamente mais disparatada e credível.
Cá fora, a populaça aguarda. Ela também ávida, o olhar estremunhado porque o dia soalheiro rejeitou o ar pesado e plúmbeo que se põe a jeito das explicações mal-amanhadas para fenómenos singelos. Aguarda, a populaça: se for preciso, são as tropas alinhadas para satisfazerem as convocatórias dos conspiradores-natos. Eles, a maralha indistinta, são netos intelectuais dos conspiradores que falam em nome da moda. Com crença fácil a amurar os corpos, desconfiam da ciência e acreditam nas elucubrações fantasiosas de um punhado de mitómanos profissionais. Já foi tempo em que os apelos à razão tinham eco. Agora, estão condenados à usura das almas mal-intencionadas.
Essas pessoas pedem feitiçaria a rodos. Sortilégios, muitos; fantasmas pelo meio; episódios fartos de gente credível a ser humilhada na denegação da autoridade que julgavam incontestada. São a favor do contrabando das ideias e dos factos. As cátedras deixaram de ter serventia. Os peritos, que medraram encostados aos esteios da ciência, são amesquinhados, a sua ciência reduzida a um trejeito do saber por gente que navega na mais profunda ignorância. Os pratos são virados do avesso e os lugares também. As provas que a ciência diria irrefutáveis são uma lâmina severa terçada por peritos que são o disfarce de impostores.
Os feiticeiros vão colonizando o seu espaço. Com um séquito atrás, sob o testemunho da ciência agora destinada a um lugar de impotência. Fundem na fala um cuspe fétido que inventa alucinações. Disfarçam a fala sob o alto patrocínio da credibilidade, quando se empenharem em ser feiticeiros em nome próprio, desautorizando o conhecimento com alicerces. Com estes ilusionistas sem carteira, as mentiras propagam-se à velocidade da luz, ultrapassando o jugo de mentira. De tantas vezes entoada, a mentira torna-se a verdade que eles querem selada na monocromática página de um receituário sem dissidência.
Por que gostariam de um céu despejado de nuvens se é o embaciado que transporta a penumbra de onde espiga o conhecimento sem silhueta? Aos conspiradores resta a consolação de saberem que convencem os incautos com meia dúzia de teorias que são a negação de uma teoria. Preferem o purgatório onde se despenham, sem saberem, os ingénuos que distribuíram conspirações a eito e os seguidores que ajudaram ao peditório.
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