Radiohead, “Bloom” (from the basement), in https://www.youtube.com/watch?v=D2084nQbmvk&list=PLukmsaXDPJifXCo9iXVPnzlXJ5gP2V_Fs
Neste lugar não havia psicólogos. Ou os que há estão todos desempregados: este era um lugar que dispensou os psicólogos (e a sua ramificação dada às piores patologias da alma, os psiquiatras).
Uns emigraram, partiram em demanda de lugares outros onde as pessoas são ensinadas a precisarem de psicólogos. Outros dedicaram-se a outras artes, numa obrigatória reconversão para não ficarem à míngua de recursos que pudesse comprometer a sua sobrevivência. Uns poucos entregaram-se ao ócio, usufruindo do subsídio de desemprego, entrecortado com biscates de diverso recorte; estes foram os que sempre recusaram as outras duas soluções, como quem evitava fazer concessões aos estudos em que tanto se empenharam. Estes seriam os que mais precisavam de psicólogos, se naquele lugar ainda houvesse psicólogos outros que não eles.
Este lugar dispensou os psicólogos porque as pessoas aprenderam, desde os bancos da escola, que as condições para não terem de recorrer a psicólogos partiam de dentro de cada um. Dependiam da sua vontade, da força mental interior, da capacidade para não treslerem condições pessoais, não se entregando a um suicidário exercício de angariação de angústia, melancolia e desespero. Quando esta tábua de salvação interior começou a ser ensinada nas escolas e pregada em casa, não foram os psicólogos que tiveram o encargo. As pessoas começaram a perceber que não precisavam de psicólogos.
Os psicólogos quase foram a tempo de emendar a nova política. Reagiram com contundência, acusando os pedagogos influentes de serem responsáveis pela delapidação da saúde mental de gerações inteiras (e já contavam com as gerações futuras, adivinhando a decadência que lhes estava fadada). Socorrendo-se da argúcia típica do causídico mais palavroso, montaram cenários apocalípticos: se os psicólogos deixassem de ser precisos, as pessoas viveriam num lugar sorumbático e decadente, deixariam de confiar umas nas outras, e este seria um lugar onde os suicídios rivalizariam com os países nórdicos (ainda que por diferentes razões).
O que nunca se soube é se esta argúcia retórica era apenas uma prova de vida para o futuro ou se os psicólogos estavam convencidos que dispensá-los seria um erro. Muitos, dos que observaram o fenómeno, inclinam-se para a segunda hipótese. Termos em que se concluiria que quem mais precisaria de psicólogos eram os psicólogos.
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