Royal Blood, “Little Monster”, in https://www.youtube.com/watch?v=Fkpl5p4BVEA
Aos dias inteiros, o homem furtivo sem saber como fazer uma voz convincente. O equipamento absoluto, nunca esquecido: os instrumentos sem os quais a empreitada está condenada ao vazio. Aos dias, o inteiro homem absoluto participa na abjuração das frivolidades. Escreve o manual de instruções, uma obra inacabada. Rasurada e acrescentada, sem ser nunca completa. Um homem-a-dias dos dias que não são perenes, prescritos na rosácea do tempo delimitado na tirana das convenções. Aos dias que se repetem, contrariando as convenções: dias a eito deviam ser tidos como um só dia se eles fossem uma unidade para efeitos narrativos. Que interessam as convenções? A cadência absoluta, sentida no batimento iterado do coração, bombeia o sangue válido que ateia os dias contínuos. Desta continuidade é homem, a dias. Há dias que se embebeu no avesso da alma e continua a rutura que é redenção de todos os arrependimentos de que se arrependeu. Aos dias, inteiros, oferece-se como voluntário da inventariação. Como se fosse o procurador de uma História à espera de ser enciclopédia. O homem faz-se por dentro da sua inteireza para tutelar o dia, só aquele dia, porque dos outros não cuida por estarem aquém da validade. As cordas de violinos gastas ainda têm serventia. Engastam nos baixios do dia, ainda por medrar, e o homem que é mecenas do dia protesta contra as luzes garridas que acenam indiscretas consumições. O atrito do tempo inflaciona as mãos. O homem tem dias, como todos. A dias, serve-se da fuligem arrancada aos confins da memória para desenhar com os dedos estrénuos as estrofes que desembaraçam a janela do dia. A boca ensina as palavras. Ensina o dia de que o homem quer ser embaixador. Ele, que tem o dia sob a sua alçada, subindo às rugas do dia antes que tenha perdido a validade.
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