19.11.24

Nó cego

PZ feat Joe Zé, “The Day Taylor Swift Became Legit”, in https://www.youtube.com/watch?v=t7dgg3kuRQ8

A vizinhança do medo, um grama acima do abismo, só para ficar de atalaia. Um grama acima do abismo, e o abismo pendido no espaço que o separa do chão onde se despenharam ramos de árvores arrematados pelo vento que pertenceu a uma tempestade qualquer. O arnês é obrigatório. Até para os que não forem ousados e apenas se abeirarem do precipício. Nunca se sabe se um golpe de vento inesperado os atira para o medo irremediável.

O arnês precisa de nós firmes. A negligência não participa na linguagem do arnês. O medo que se acerca do palco não transige com a negligência. Até aos mais distraídos não fica esquecida a diligência. Se o zelo fosse uma formalidade, e não fosse atendido com o cuidado exigível, o arnês seria só um disfarce. Os nós têm de ser exigentes como o arnês, para o arnês não ser inútil. É preciso fazer nós de marinheiro, com a cautela de quem se mete com o medo sem medo de ter medo.

Os nós de marinheiro não são um monopólio dos marinheiros. Há gente que nunca foi ao mar e aprendeu a dar nós de marinheiro. Tiveram de lidar com o medo e os nós de marinheiro são a vacina contra o medo. O engenho tece os milagres que deixam de o ser quando às mãos chegam empreitadas inesperadas. Os nós diligentes formam a armadura necessária. Se o medo for substituído pela audácia, e na audácia houver apenas uma intrepidez insensata, os nós prontificam-se ao desaperto. Para que o medo não seja final, os nós do arnês devem ser feitos por peritos. Como se fosse preciso garantir uma caução infalível para o medo não ser final.

Na falta de destreza para acondicionar os nós de marinheiro, o arnês é afivelado por nós cegos. São nós indestrutíveis, mesmo que seja à custa da corda depois puída. Porque um nó cego não se desfaz. Nem todos são marinheiros para atarem nós de marinheiro. Mas o nó cego passa no teste do medo. 

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