Beirut, “Caspian Tiger”, in https://www.youtube.com/watch?v=aaQLHfuXF2A
À prova de bala, exibem a gongórica exaustão de si mesmos. O falatório é fecundo, as realizações sobram na cortina de fumo das promessas miríficas em constante ebulição. As poucas que beijam a luz do dia esbarram no avesso das benesses. Às vezes, é melhor política não fazer nada.
Os mecenas da situação estabelecida, gravitando na órbita do fazer público, contestam o juízo. Consideram-no um pré-juízo, grávido de ideias feitas. Desafiam os descontentes a entrarem no palco público, a serem proponentes das maneiras alternativas. Como se fosse imperativo estar por dentro para a crítica ganhar legitimidade. Mal-amanhados, os eriçados astronautas da coisa pública passam ao lado de um direito fundamental de que ninguém pode ser privado: ser cidadão começa pela admissão de um erário de direitos, os deveres pertencem à consciência de cada um. Um dos direitos é de sermos os soberanos avaliadores dos que sobem a palco e desenham, com a diligência possível, o esboço do presente e do futuro. Mal iria a liberdade se aos descontentes fosse vedada a liberdade da crítica. Se a vontade fosse feita aos censores disfarçados, assimétrica seria a liberdade, uma regalia exclusiva dos seus aduladores e dos que aceitassem castrar a liberdade de expressão.
Os embaixadores da situação ficam indignados quando sobre eles se abate um voto de desconfiança. Parece que estão ungidos com o barbante da perfeição e sua é a infalibilidade reinante. Quando esbarram na crítica, reagem com hostilidade. Porque a crítica é uma adversidade. Escondem-se sob o verniz muito epidérmico, os salazarentos entranhados. Ah, se pudessem prescindir, ou ao menos temporariamente suspender a democracia, não ficariam à mercê do povaréu impreparado e tremendamente ingrato. Até ser levantada a suspensão, podiam concluir a sua missão e – acreditam, tão seguros das suas capacidades (e reféns de um espelho de ilusões) – imortalizar o seu nome nos livros que selam a História conjunta. Pois é isso que importa.
A recompensa que merecem é um voto de desconfiança. Não é a escolha dos rivais; é a escolha para que os mandantes não continuem a desmandar.
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