12.5.09

Uma greve de sexo não é paradoxal?

Esta é a era das greves. Greves e mais greves, tudo e mais alguma coisa se presta a acção grevista. Ai de quem conteste uma greve, nem sequer com o argumento de que os grevistas sequestram a liberdade dos que são afectados pela greve. Soltam-se logo as trombetas da suprema aleivosia: é proibido questionar o direito de fazer greve. Se os grevistas fazem greve, é porque os seus particulares direitos estão hipotecados de tal maneira que só lhes sobra a acção derradeira – a greve. Consta que o consagrado direito à greve é a maior vitória do marxismo. A vitória sobrante.


A vulgarização das greves anuncia as greves mais inesperadas. Há dias foi noticiado que as mulheres quenianas marcaram uma greve de sexo (ou será mais correcto dizer "greve ao sexo"?), em protesto contra a instabilidade política. Soube, dias mais tarde, que as autoridades tinham processado o colectivo feminino que tinha agendado a greve à actividade sexual por sete longos dias. Terá sido por privação de um direito fundamental?


Quando há greves, daquelas que têm o condão de parar a cidade ou afectar serviços públicos vitais, os grevistas usam a greve como poderosa ferramenta: mostram como podem sitiar os utentes dos serviços atingidos pela greve, como os utentes ficam reféns da acção grevista. Já se sabe que é uma afronta qualificar este comportamento como coacção sobre inocente gente. Vou pela heresia a dentro: nunca consegui perceber a desproporção das greves; se o conflito laboral é entre os trabalhadores e a administração da empresa (ou do serviço público), por que razão os utentes são chamados a suportar os efeitos adversos da greve? Aprendi, desde o bancos da escola, que é feio bater nos mais fracos.


A greve ao sexo ditada por mulheres quenianas traz consigo um paradoxal perfume. A menos que elas façam um frete de cada vez que saciam os desejos carnais dos parceiros, esta é uma greve contra os seus próprios instintos. Não quero acreditar que todas elas sejam frígidas ao ponto de verem na greve ao sexo uns dias de sossego. Vou pela hipótese mais agradável – as senhoras quenianas não são um bando de frígidas. É quando se conclui que a greve ao sexo é um tiro no próprio pé. Uma greve paradoxal. O barbudo Marx ensinou que uma greve perturba sempre os outros, nunca os que no dia da greve contam como grevistas.


Porventura seria para aqui chamada a natureza humana, e as diferenças genéticas entre sexos, para compreender a marcação de uma greve responsável por abstinência forçada por uns dias. Não sei se é apenas um mito, ou faz parte das diferenças entre homens e mulheres, mas consta que eles reclamam maior frequência no acto enquanto elas se desmultiplicam em evasivas para adiar a lasciva actividade.


Compreendo agora: as senhoras do Quénia terão jogado com o seu calendário de necessidades sexuais e programaram uns dias de paralisação ao sexo – uns dias em que não sentiriam falta da dita actividade. Pelo caminho, as organizadoras da greve enviaram alguns sinais. Por um lado, a afirmação do women power. Elas quiseram mostrar, sem rodeios, que são as maestrinas do sexo, são elas que têm a batuta na mão (sem segundos sentidos). Boas notícias para a causa feminista, mais um contributo para a emancipação das mulheres. Por outro lado, as senhoras do Quénia não se aperceberam da imprudência da greve ao sexo. É que elas deixaram os parceiros à míngua. Sabem lá se os parceiros, ofendidos por serem vítimas inocentes de uma "luta" a que eram alheios, não se terão vingado dando umas facadinhas no matrimónio.


Parece que as diferenças genéticas entre mulheres e homens são um dado adquirido. Tenho um amigo que diz, ironicamente, que esta é a prova definitiva da inexistência de deus; ou então ele existe mas, ao contrário do que é apregoado pelos crentes, não possui o monopólio da perfeição. De outra maneira, não teria criado homens e mulheres com diferentes biorritmos de sexo. Há sempre a hipótese das distracções divinas, que resultam nos desvios genéticos que dão origem a ninfetas. Se as há no Quénia, aposto que elas foram as ovelhas tresmalhadas na dissidência da greve convocada pelas feministas de serviço.


De uma coisa tenho a certeza: alguém imagina uma greve ao sexo marcada por homens?

2 comentários:

Milu disse...

Bem, parto do princípio de que a natureza fez tudo perfeito, cabe-nos a nós descobrirmos as suas leis e, porventura, alguns dos seus caprichos! Pois bem, se o homem é um ser a quem o apetite por sexo se mantém constante, e se a mulher tem altos e baixos, ou mais baixos do que altos, por algum motivo deverá ser! Qual? O que é que a natureza pretendeu prevenir, ou obter com esta premissa? Já pensei nisto! Vastas vezes! Mas não cheguei a uma conclusão plausível, não obstante tudo isto, considero que existe uma explicação! Este assunto dava pano para muitas mangas! Oh, se dava! :D

PVM disse...

Uma tentativa de explicação moralista (e cheia de cinismo): a natureza (ou deus, consoante as preferências) fez-nos assim tão diferentes para que não fôssemos todos animalescos. Daí a candura das mulheres. (E o enviesamento que aflige feministas...)