1.5.09

O clube de um sócio só?


Foi formado o clube das virgens. Ou o clube de uma virgem só. A fundadora, Margarida Menezes de sua graça, é a única sócia. Alguém ficou surpreendido que isto tivesse tomado conta de páginas e páginas de sérios jornais? Para mal dos pecados dos organizadores de um congresso de coisas esotéricas que teve lugar no Porto na semana passada, até o virginal clube açambarcou as atenções do evento. As televisões e os jornais só queriam saber da virgindade da D. Margarida (e, um pouquinho, da outra estrela contratada para abrilhantar o congresso, a ex-deputada Cicciolina, na perfeita antítese da fundadora do clube das virgens).


Louve-se a coragem da D. Margarida. A coragem de dar a cara (sem segundos sentidos) por uma causa tão atávica para os dias que correm. E por perfumar o manifesto de intenções com expressões tão belas, tão – como dizê-lo? – ingénuas como "(…) ser mulher é muito mais que uma questão de virgindade, e que sendo um principe [sic] encantado ou um sapo disfarçado o nosso amor chegará um dia".


Não sei se entretanto mais donzelas aderiram à causa. Devíamos perguntar à D. Margarida. Quando o clube das virgens veio para a ribalta, ela era a única sócia. Das duas, uma: ou ela é a única virgem a povoar esta terra, que nesse caso seria uma terra infestada de lúbricas mulheres; ou as outras donzelas, ao contrário da fundadora do clube, têm vergonha da sua virginal condição. Ora, ser virgem não é pecado algum (não tenho a certeza que a igreja católica concorde com o enunciado), nem motivo para as mulheres que nunca experimentaram os prazeres carnais andarem por aí escondidas, como se carregassem uma praga.


Ao pecado, antes de mais: se estas donzelas tiverem fantasmas pespegados pela doutrina católica, é bom que saibam que os sacerdotes que tanto apregoam a vida recatada e distante dos vícios carnais se deixam cair em tentação, atraiçoados pelas poderosas hormonas que excitam os sentidos. Um bom exemplo, e recente: o muito progressista bispo católico que tomou conta do cadeirão do poder no Paraguai anda a contas com uns filhos bastardos que semeou enquanto cirandou por várias dioceses. Aliás, se o sexo (aquele mais carnal, o dos "instintos animais", como é pintado pelos detractores; ou o idealizado pela D. Margarida, com as metáforas adjacentes do "príncipe perfeito" e dos sapos a evitar) fosse pecado, como explicava a igreja a multiplicação da espécie humana? Não quero acreditar que a D. Margarida e seguidoras acreditem que os bebés são trazidos pela cegonha que levanta voo de Paris.


Estamos de acordo que nisto do sexo não podemos, nem devemos, dar ouvidos à igreja, ó envergonhadas seguidoras da D. Margarida? Viremos a página: mostrem-se. Venham para a rua, gritando a pulmões inteiros a garbosa, virginal condição. A crer nos gostos de alguns espécimes masculinos, muito depressa perderiam a condição de sócias do clube das virgens. É um mito – como direi? – nebuloso: há homenzarrada que sonha instruir o tirocínio de donzelas ainda por desflorar. A menos que estejam a esconder a vossa frigidez, deviam calcular que, para essa homenzarrada, vocês são apetitosos petiscos, mulheres com uma procura desenfreada.


Pensando bem, o clube das virgens é um logro. As suas sócias deixam de o ser – sócias e virgens, não necessariamente por esta ordem – mais tarde ou mais cedo. Pelo meio do insólito, não consegui compreender o propósito da fundadora do clube: arranjar visibilidade pública? Arranjar meio de num curto espaço de tempo deixar a presidência do clube que acabara de fundar? Ou é uma genuína cultora da virgindade, aconselhando as possíveis prosélitas a só entregarem o corpo quando pela frente (ou por trás…) aparecer o tal, prometido "príncipe perfeito"? E o que é um príncipe perfeito?


À recordação vem outra virgindade famosa: uma tal Susan Boyle, de uma feiura atroz e virginal estado em idade já cinquentenária, senhora atirada para as luzes da ribalta pelos dotes vocais num concurso qualquer de televisão que anda à cata de "talentos". Quando confessou ser virgem, não tardou que uma produtora de filmes pornográficos se prontificasse a pagar uma fortuna para filmar a perda do donzelesco estatuto. E por cá, o realizador Sá Leão anda distraído? Ainda não lhe chegou aos ouvidos a história de fadas da D. Margarida Menezes?


Isto de clubes de um sócio só faz lembrar a famosa frase de Groucho Marx: "não quero pertencer a um clube que me admitisse como sócio". Suspeito que a D. Margarida, lá no fundo, já está cansada de ser presidente do clube que fundou.

1 comentário:

Milu disse...

Felizmente sou uma mulher deste século, isto é, século XXI, bastante coerente e convicta, de que neste aspecto da virgindade, não iremos assistir a retrocessos. Acontece que sou de um tempo, em que a mulher ainda sofria do estigma de poder ser considerada indigna e desonrada só porque já não era virgem. Era como se tivesse deixado de ser um humano inteiro e na posse de todos os direitos, para passar a ser só meio humano ou meia pessoa! Tanto merdoso, que não era mais do que isso,se arrogava ao direito de ser ele o primeiro da sua eventual mulher, que agora melhor será designar por companheira, porque é disso mesmo que se trata!
Para já, falando francamente e de coração nas mãos, esta rapariga devia ter uma consulta com um médico endócrinologista. Não é normal que até aos 26 anos, uma mulher não tenha sucumbido, seja lá como for, aos apelos das hormonas, já para não falar da carne, que é uma forma mais dura de encarar a realidade! Mas está bem! Deixem-na assim, para que aquilo endureça de tal forma que fique impenetrável!