No sábado o “grandioso” Benfica fez um jogo na Suíça. Sinónimo de festa da rija para milhares de emigrantes suíços, que acorreram em massa ao pequeno estádio onde o jogo decorreu. Já nos últimos minutos, um adepto decidiu entrar no relvado e desatou a correr com uma faixa alusiva a qualquer coisa. Não ameaçou ninguém. Apenas queria fazer o seu número e ficar para a posteridade. No entanto, os seguranças privados logo saltaram em magote e manietaram, com alguma violência, o exibicionista. Foi aí que o caldo entornou.
A populaça ficou indignada com o exagero da violência dos seguranças. Sem delongas, começaram a calcar o relvado para fazerem justiça pelas próprias mãos. Quem estava de cachecol vermelho ao pescoço esqueceu-se por momentos do fervor benfiquista e deixou que o sentido de “justiça” falasse mais alto. O que seguiu foi um arraial de pancadaria, cenas chocantes dignas de estádios de futebol latino-americanos. Os seguranças, que não seriam mais do que meia dúzia, foram cercados por centenas e centenas de pessoas que quiseram exibir a sua raiva pela desproporção da reacção.
De um exagero passou-se a outro bem pior. A famosa “justiça popular” (um eufemismo…), em que amiúde não se hesita em recorrer à acção directa para concretizar aquilo que o povo, na sua imensa sabedoria, pensa que é a justiça. Sem frieza de raciocínio, apenas levados pelo calor da emoção, põem a justiça nas suas mãos como se fossem os magistrados supremos de um sentido de justiça acima de qualquer suspeita.
As imagens que enxamearam as televisões são vergonhosas. São, além disso, um retrato fiel de um certo sentir popular que é dominante. De um povo pacato que, num instante, desperta para uma violência inusitada e descamba para reacções sanguinárias. Costuma-se apontar o dedo aos adeptos ingleses, os piores hooligans de que há conhecimento. Pelo menos esses hooligans não levam a violência para dentro dos estádios de futebol. Não estou a dizer que os hooligans ingleses sejam uns anjinhos. Longe disso. Todavia não há memória (pelo menos recente) de episódios tão lamentáveis como esta invasão de campo protagonizada pelo magote de emigrantes suíços que são adeptos do Benfica (também por lá andavam alguns a envergar camisolas azuis e brancas, o que não é de estranhar quando a arruaça sai à rua). Assim se compreende porque os estádios em Inglaterra não têm vedações a separar o público do relvado, enquanto em Portugal (ou por onde andam adeptos portugueses) tais vedações são um imperativo de segurança.
A vergonha é ainda maior porque este episódio associa uma comunidade lusa a um país estrangeiro. Os acontecimentos já seriam lamentáveis se tivessem ocorrido num estádio português. O cenário é ainda mais infame por tudo se ter passado num país estrangeiro, para mais num país conhecido pela tolerância com que recebe as comunidades de emigrantes. É a imagem de Portugal que fica manchada pelo comportamento do bando de energúmenos que decidiu arregaçar as mangas e pôr as suas mãos ao serviço do que eles pensam ser a justiça. É a imagem do país que temos, do país que somos.
Em tudo isto há uma dimensão adicional de repugnância: ver meia dúzia de pessoas atacadas por centenas, senão milhares de uma horda enfurecida. Ver um segurança jazendo no chão, indefeso, a ser atacado com pontapés por energúmenos sem conta. Traduz bem uma reacção típica do português típico: é tão fácil bater em quem está prostrado, em quem é incapaz de reagir. Quem bate tem a certeza que pode bater à vontade sem ter que suportar a reacção violenta de quem é atacado pelo colectivo. É a velha fábula: é mais fácil bater nos mais fracos, e fugir dos mais fortes. Eis a grande coragem que preenche o imaginário português, a característica mais saliente de tantos valentões marialvas que por aí andam, gargantas inchadas por façanhas tão notáveis como estas.
A populaça ficou indignada com o exagero da violência dos seguranças. Sem delongas, começaram a calcar o relvado para fazerem justiça pelas próprias mãos. Quem estava de cachecol vermelho ao pescoço esqueceu-se por momentos do fervor benfiquista e deixou que o sentido de “justiça” falasse mais alto. O que seguiu foi um arraial de pancadaria, cenas chocantes dignas de estádios de futebol latino-americanos. Os seguranças, que não seriam mais do que meia dúzia, foram cercados por centenas e centenas de pessoas que quiseram exibir a sua raiva pela desproporção da reacção.
De um exagero passou-se a outro bem pior. A famosa “justiça popular” (um eufemismo…), em que amiúde não se hesita em recorrer à acção directa para concretizar aquilo que o povo, na sua imensa sabedoria, pensa que é a justiça. Sem frieza de raciocínio, apenas levados pelo calor da emoção, põem a justiça nas suas mãos como se fossem os magistrados supremos de um sentido de justiça acima de qualquer suspeita.
As imagens que enxamearam as televisões são vergonhosas. São, além disso, um retrato fiel de um certo sentir popular que é dominante. De um povo pacato que, num instante, desperta para uma violência inusitada e descamba para reacções sanguinárias. Costuma-se apontar o dedo aos adeptos ingleses, os piores hooligans de que há conhecimento. Pelo menos esses hooligans não levam a violência para dentro dos estádios de futebol. Não estou a dizer que os hooligans ingleses sejam uns anjinhos. Longe disso. Todavia não há memória (pelo menos recente) de episódios tão lamentáveis como esta invasão de campo protagonizada pelo magote de emigrantes suíços que são adeptos do Benfica (também por lá andavam alguns a envergar camisolas azuis e brancas, o que não é de estranhar quando a arruaça sai à rua). Assim se compreende porque os estádios em Inglaterra não têm vedações a separar o público do relvado, enquanto em Portugal (ou por onde andam adeptos portugueses) tais vedações são um imperativo de segurança.
A vergonha é ainda maior porque este episódio associa uma comunidade lusa a um país estrangeiro. Os acontecimentos já seriam lamentáveis se tivessem ocorrido num estádio português. O cenário é ainda mais infame por tudo se ter passado num país estrangeiro, para mais num país conhecido pela tolerância com que recebe as comunidades de emigrantes. É a imagem de Portugal que fica manchada pelo comportamento do bando de energúmenos que decidiu arregaçar as mangas e pôr as suas mãos ao serviço do que eles pensam ser a justiça. É a imagem do país que temos, do país que somos.
Em tudo isto há uma dimensão adicional de repugnância: ver meia dúzia de pessoas atacadas por centenas, senão milhares de uma horda enfurecida. Ver um segurança jazendo no chão, indefeso, a ser atacado com pontapés por energúmenos sem conta. Traduz bem uma reacção típica do português típico: é tão fácil bater em quem está prostrado, em quem é incapaz de reagir. Quem bate tem a certeza que pode bater à vontade sem ter que suportar a reacção violenta de quem é atacado pelo colectivo. É a velha fábula: é mais fácil bater nos mais fracos, e fugir dos mais fortes. Eis a grande coragem que preenche o imaginário português, a característica mais saliente de tantos valentões marialvas que por aí andam, gargantas inchadas por façanhas tão notáveis como estas.
2 comentários:
Não concordo com a relevância que dás ao facto de serem adeptos do Benfica (e do Porto). Ainda há bem pouco tempo, perto do final do nosso campeonato, adeptos do Sporting, em Alvalade, invadiram o campo porque o Benfica tinha marcado, imagine-se, um golo!
É no mínimo deplorável ver aquelas invasões para dar porrada nos indefesos (como, aliás, estavam a fazer os seguranças na Suiça), mas ainda assim, são mais os que entraram no campo e não bateram em ninguém e muitos mais os que se mantiveram na bancada. Por outro lado, embora não justifique a porrada nos seguranças, foi nítido que a força que estava a ser empregue junto do adepto invasor era muito exagerada e sou capaz de entender que não é fácil assistir a uma cena daquelas (ver um tipo preso a ser espancado) e ficar calado/quieto. Neste caso (NESTE CASO), considero que a invasão teve razão de ser. Devia ter ficado pela separação dos seguranças, nada mais. Mas isso é pedir demais em ambientes "futebolais".
Apesar de tudo, ainda acho que somos um povo pacífico e que podemos dar lições a muitos outros nesta matéria. O Euro foi um bom exemplo, na generalidade. As excepções devem ser punidas e não publicitadas exageradamente.
Ponte Vasco da Gama
és mas é um grande otário
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