13.10.05

Superioridade masculina (provocação às feministas doentias)

Chegou-me aos ouvidos que alguém – possivelmente do sexo feminino – interpretou alguns dos textos que aqui escrevo como manifestações anti-femininas. Aos olhos dessa leitora, serei um exemplar do lusitano marialvismo: esses jactantes espécimes que exibem o garbo masculino nas praças de touros, destilam a superioridade máscula em cantorias com roupagem de fado assassinado, e se orgulham de uma lista infindável de conquistas entre o mulherio.

Ora, não posso responder pelos erros de hermenêutica dos outros. Talvez os meus textos não sejam tão claros como desejo. A escrita tem essa limitação: quantas vezes se idealiza uma mensagem, mas a escrita não tem a fluidez necessária para a mensagem sair com clareza? Entre a ideia inicial e o produto final, por vezes dista um fundo espaço. Noutras ocasiões, é uma leitura na diagonal que induz em erro – isso, ou a falta de compreensão de quem lê. O que basta para passar ao lado da ironia que milita nos escritos, do suave cinismo que percorre os textos, sobretudo em temas tabu para excitadas franjas que se alistam nas fileiras do exacerbado feminismo.

Adoro ironizar com coisas que são levadas muito a sério por acérrimos defensores de causas nobres. Que não haja confusões nesta manifestação de ironia: respeito as ideias de quem se alista entre a causa nobre. Posso não concordar com a causa, com as ideias, ou apenas com a forma exagerada como a causa e as ideias são defendidas. Mas o respeito mantém-se. Porventura quem esteja do outro lado da barricada entende o cinismo como exibição de desrespeito por ideias diferentes. É um equívoco: no calor de quem defende a sua dama, tolda-se a vista, enviesa-se a análise, emerge o malentendido. Mesmo na discordância, o mais importante é mostrar respeito pelas pessoas de quem discordamos. Ainda que na discordância se escrevam textos cheios de cinismo, ainda que se brinque com as coisas que para os outros são tão sérias que a ironia beija o limiar da heresia, da estupidez.

Quando por aqui escrevo textos que dão uma imagem anti-feminina, quem os lê dessa forma cai no maior dos equívocos. Quem pensar que sou da opinião que o homem é superior à mulher está enganado. Mas se é verdade que não sou anti-feminino, tenho uma certa queda para alinhavar ideias sarcásticas que aleijam as feministas. Se me quiserem apodar de anti-feminista, aceito a acusação. Anti-feminista sim, anti-feminino não.

Discutir a desigualdade do género é tarefa estéril. Parece que a natureza criou o alçapão – o enésimo alçapão – que entretém a humanidade com desinteligências cultivadas para além do razoável. Tão absurdas são as ideias dos marialvas que por aí se pavoneiam, como a frenética actividade de militantes feministas que suspeitam de tudo quanto tenha testículos. Tão extremados são os comportamentos das másculas figuras que afirmam a superioridade do homem, como as vanguardistas posições de feministas exacerbadas que querem arrepiar caminho a uma nova desigualdade – que favoreça as mulheres – como compensação dos atropelos de que a mulher foi vítima no passado.

Às fundamentalistas do feminismo digo: imprudente caminho esse, o de estar sempre a mostrar a factura do passado, reclamando novas desigualdades que são despeitadas recompensas de desigualdades idas. O futuro faz-se andando para a frente: educando, na escola e na família, para que todos compreendam que não faz sentido alimentar desigualdades espúrias entre o homem e a mulher. E entender, também, que a natureza é um obstáculo que não se pode iludir. Por mais que se queira forjar uma paridade absoluta, às vezes a natureza impede-o. Aceitá-lo pacificamente é a melhor forma de desdramatizar feminismos acalorados e de derrotar absurdas superioridades másculas.

Se por aqui aparecem textos que parecem menosprezar a mulher, desenganem-se. Nem menosprezo, que é sentimento excessivo; nem exibições que alimentam a “cultura” da superioridade masculina; apenas um apelo irresistível para parodiar uma causa defendida com unhas e dentes – o feminismo excessivo – de tal forma que, perante as propostas que raiam uma nova desigualdade, apetece engrossar as fileiras do marialvismo ibérico. A recusa vem de um exercício de racionalidade.

(Fim do texto: percebe-se agora, o título não coincide com a substância. Apenas uma artimanha para cativar a atenção das leitoras empenhadas em ler nas minhas palavras qualquer arroubo anti-feminino. Que não se esqueçam: ser anti-feminista é diferente de ser anti-feminino. E se há coisa que me intriga, é saber que as empenhadas feministas se auto-consideram minorias.)

Sem comentários: