27.4.06

Vai longe, a discriminação positiva …



No Rio de Janeiro, há carruagens do metro e dos comboios reservadas a senhoras, para se livrarem do assédio sexual de garanhões enfastiados com o calor dos trópicos. Sinal de um tempo estranho, este em que vivemos. Quando aprendemos que a separação de sexos nas escolas é reprovável, os ventos da modernidade podem representar um regresso ao passado (ainda que os cultores desta modernidade não se apercebam do retrocesso).

Compreende-se que senhoras apoquentadas com as investidas de assanhados machos tenham protestado. A notícia não trouxe mais detalhes. Por exemplo, se houve violações enquanto as carruagens iam embaladas no seu caminho. O simples assédio verbal é suficiente para as senhoras terem feito sentir a sua incomodidade. Ninguém gostará de ser assediada por quem sobe dos tamancos e supõe transformar ausência de atributos num exemplar que rivaliza com D. Juan. Apesar da falta de detalhes, não é difícil adivinhar que esta medida terá sido tomada depois de reiteradas aproximações com a intenção de açambarcar as visadas para algo mais que uma inocente conversa.

É a solução que está errada. Em vez de patrulhar as carruagens para dissuadir o pretenso “efeito Axe” dos assediadores profissionais, as autoridades atalharam caminho para a solução radical. Doravante, as senhoras que não quiserem sentir o bafo de garanhão com hormonas alteradas refugiam-se em carruagens onde só elas têm lugar. É garantida a ausência de assédio sexual. A homenzarrada, confinada às restantes carruagens. As viagens de metro e de comboio vão passar a ser um enfado para encartados gatunos de paixões assolapadas.

A decisão terá agradado às lésbicas. Carruagens onde o sexo masculino não põe o pé em ramo verde, onde nem sequer a sua presença é permitida, são o retrato do paraíso terreno. Falta saber se as visadas pelo assédio de barbudos e mal cheirosos homens, uma vez transviadas para as carruagens cor-de-rosa, vão sentir conforto quando discernirem olhares nada cândidos das amazonas em plena caçada. Como desconheço os meandros da política brasileira, não sei se a decisão partiu do município, das autoridades estaduais ou do governo de Lula. Nem tão pouco sei se é homem ou mulher o(a) responsável pela decisão tomada. Deito-me a adivinhar que é mulher. Feminista dos sete costados e, admito, lésbica. Só assim consigo perceber que a solução tenha o travo da radicalidade e o viés da opção sexual.

A defesa exacerbada dos direitos das mulheres está em moda. Com redobrada intensidade, procura-se forjar a igualdade dos sexos. O caminho fica aplanado para a discriminação positiva: se elas foram vítimas de tratamentos desiguais que privilegiaram o sexo masculino, é chegado o momento de inverter o rumo da história. Os erros do passado são corrigidos através da discriminação positiva. Que, contudo, não deixa de ser uma discriminação, com a aleivosia que qualquer discriminação carrega.

A insólita medida do Rio de Janeiro leva aos píncaros a dedicada moda da discriminação positiva em favor do sexo feminino. Sem se dar conta do grotesco: recuar na história, quando as meninas e os meninos não se misturavam na escola, senhoras e senhores ficavam em alas diferentes da igreja, as senhoras não podiam frequentar locais com conotação masculina e vice-versa. Há progressos que, desmontados, são involuções. É a cegueira que ofusca o discernimento. De tanto quererem remar para a frente, as feministas descompassadas perdem o norte, já não sabem onde é a proa e onde está a ré. Quando dão conta, estão atrás da casa da partida.

No meio do afã feminista, o contraste da mensagem publicitária. Repetidas vezes, teima em instrumentalizar a mulher, que não se liberta do rótulo de objecto. O exemplo da deliciosa menina da ultra-leve bilha de gás da Galp é a imagem mais recente. Das feministas excitadas, apenas o silêncio. Nem uma denúncia da mulher objecto presente na campanha de publicidade. Elas não protestam contra o efeito da campanha – esfomeados machos que espumam de apetite, imaginando a menina a transportar a bilha de gás até a sua casa (e o melhor é a descrição ficar por aqui). Em vez disso, as embaixadoras da discriminação positiva refastelam-se no sofá e partilham o mesmo imaginário com a excitada homenzarrada que lambe os beiços quando a escultural funcionária da Galp (haverá?) passa no ecrã. Só assim consigo perceber a relapsa omissão das comissões feministas.

2 comentários:

Anónimo disse...

E a "nossa" Diana Pereira que levou o "bom ambiente" finalmente para o nosso meandro? Ainda por cima sabe usar BEM o kit de manicure atrás da regueifa (regueifa não é o que estão a pensar...é uma alcunha para o volante de um automóvel de competição!) e fica à frente de muitos machos. Isto é que é "discriminação positiva!!

Anónimo disse...

Eu estou a ser objecto de violento Assédio Moral/Mobbing por parte do Sr. José Manuel Nave da Lisboagás / grupo Galp com o objectivo de me obrigarem ( violentamente) a rescindir Contrato de Trabalho.
Alguém pode dar uma Ajuda?