Hossanas aos iluminados possuídos pela verdade. Estendamos a passadeira vermelha, mais as devidas genuflexões: os guardiães da verdade dizem “presente” na hora em que as nossas dúvidas procuram uma candeia. Lá vêm eles, catedráticos ou apenas convencidos autodidactas, proferir sentenças incontestáveis.
Não há lugar a dúvidas. Elas são o sustentáculo dos humildes mortais tão longe de serem agraciados com a quase divina fonte de conhecimento. Entramos no reino das certezas. Daquelas que não merecem a mínima contestação. Sob pena de aos contestatários ser lavrado humilhante auto de apedeutismo. Intui-se a lógica: tão seguros das suas certezas, não chegam sequer a parar por um momento para interrogar os dogmas em que alicerçam o raciocínio. Os que ousam dissidir são obnóxias tumefacções infectadas com pensamento distorcido. Aos dissidentes resta o desmerecimento de não servirem para interlocutores numa discussão.
A discussão descomprometida não tem lugar entre os fautores das perenes certezas. Ou, se lugar há à discussão, sempre um poderoso artefacto à mão: com mão de ferro, pôr uma pedra sobe o assunto quando se esgotam os argumentos. À laia do “não se fala mais no assunto”. A que se junta a semântica peremptória, que coloca pontos finais onde a pontuação devia acolher vírgulas. Só não percebem que quando assim agem se entregam nos braços da derrota não assumida. Vinga, então, o imperativo categórico que não merece contestação. A pedra angular de todo o conhecimento sábio de que acham empossados. Aos que se atrevem a desafinar o diapasão, resta a chacota e o estatuto de menoridade intelectual.
Inquietam-me todas as certezas colocadas no altar do incontestável. Até compreendo que certas coisas sejam arregimentadas para o lugar das certezas inabaláveis, que em rigor (e por honestidade intelectual) deviam ser remetidas à condição de quase certezas. Por hoje é tudo tão volátil, o conhecimento tão voraz, as fontes de conhecimento que se renovam a uma cadência vertiginosa e questionam as certezas que já pertencem a ontem. Se vivemos num tempo em que os ponteiros do relógio avançam com uma velocidade inusitada, custa-me a perceber a prosápia dos detentores da verdade absoluta. E mais a entender como estão emprenhados das suas verdades, como se fosse impossível olhar noutras direcções e encontrar interrogações que levantam as dúvidas e fazem soçobrar as certezas alimentadas.
Apetece glosar uma máxima filosófica que, de tão difundida, se elevou ao patamar de lugar-comum: o socrático “só sei que nada sei”. Às vezes convém mergulhar nos clássicos e resgatar as lições que não podem ficar emolduradas no tempo passado. Do outrora vêm importantes lições. E já que os sapientes guardadores da verdade absoluta se afadigam em tornar herméticas as respectivas certezas, seria bom que reflectissem sobre a deriva irracional que os comanda; como o mundo que insistem em moldar, presos a quadros mentais herméticos, pode ser uma miopia da realidade. Sublinho: pode ser; entrando no domínio das hipóteses.
Houvesse a humildade para expandir horizontes e, em vez das certezas que não podem ser questionadas, porventura o espaço mental pudesse ser ocupado por hipóteses, dúvidas, interrogações a eito. A grande dádiva do exercício da mente não é encontrar respostas; o que enriquece é a capacidade para levantar mais e mais interrogações, sem cedência ao entorpecimento das respostas convenientes. Pode ser mais confortável construir um ninho onde repousa o substrato das verdades que são postas à margem do contestável. Mas nem sempre o confortável traz o estímulo à vida. Prefiro ir adiando a procura de respostas e sublimar as hipóteses, indagar detalhes que deixam de o ser quando são revelados e contribuem para mudar a percepção das coisas. O que há de mais proveitoso é chegar a um ponto em que olhamos para trás e admitimos que o erro dominava as percepções, que novas hipóteses se perfilam e muitas interrogações emergem. A maior conquista é sermos zeladores das nossas dúvidas e primeiros críticos das certezas que forem irrompendo.
Um dia destes, os hábeis centuriões da verdade podem tropeçar numa surpresa desagradável: ficam a falar sozinhos. E sozinhos, ficam entregues às suas certezas inabaláveis – ou uns a falar com os outros, a trocar os sedimentos dos imperativos categóricos que perfilham em uníssono. Ficarão, alegres, a falar todos no mesmo sentido. A caminho da acefalia, aprisionados pelo dogmatismo que os cega. Falta saber se não é esse o destino idealizado.
Não há lugar a dúvidas. Elas são o sustentáculo dos humildes mortais tão longe de serem agraciados com a quase divina fonte de conhecimento. Entramos no reino das certezas. Daquelas que não merecem a mínima contestação. Sob pena de aos contestatários ser lavrado humilhante auto de apedeutismo. Intui-se a lógica: tão seguros das suas certezas, não chegam sequer a parar por um momento para interrogar os dogmas em que alicerçam o raciocínio. Os que ousam dissidir são obnóxias tumefacções infectadas com pensamento distorcido. Aos dissidentes resta o desmerecimento de não servirem para interlocutores numa discussão.
A discussão descomprometida não tem lugar entre os fautores das perenes certezas. Ou, se lugar há à discussão, sempre um poderoso artefacto à mão: com mão de ferro, pôr uma pedra sobe o assunto quando se esgotam os argumentos. À laia do “não se fala mais no assunto”. A que se junta a semântica peremptória, que coloca pontos finais onde a pontuação devia acolher vírgulas. Só não percebem que quando assim agem se entregam nos braços da derrota não assumida. Vinga, então, o imperativo categórico que não merece contestação. A pedra angular de todo o conhecimento sábio de que acham empossados. Aos que se atrevem a desafinar o diapasão, resta a chacota e o estatuto de menoridade intelectual.
Inquietam-me todas as certezas colocadas no altar do incontestável. Até compreendo que certas coisas sejam arregimentadas para o lugar das certezas inabaláveis, que em rigor (e por honestidade intelectual) deviam ser remetidas à condição de quase certezas. Por hoje é tudo tão volátil, o conhecimento tão voraz, as fontes de conhecimento que se renovam a uma cadência vertiginosa e questionam as certezas que já pertencem a ontem. Se vivemos num tempo em que os ponteiros do relógio avançam com uma velocidade inusitada, custa-me a perceber a prosápia dos detentores da verdade absoluta. E mais a entender como estão emprenhados das suas verdades, como se fosse impossível olhar noutras direcções e encontrar interrogações que levantam as dúvidas e fazem soçobrar as certezas alimentadas.
Apetece glosar uma máxima filosófica que, de tão difundida, se elevou ao patamar de lugar-comum: o socrático “só sei que nada sei”. Às vezes convém mergulhar nos clássicos e resgatar as lições que não podem ficar emolduradas no tempo passado. Do outrora vêm importantes lições. E já que os sapientes guardadores da verdade absoluta se afadigam em tornar herméticas as respectivas certezas, seria bom que reflectissem sobre a deriva irracional que os comanda; como o mundo que insistem em moldar, presos a quadros mentais herméticos, pode ser uma miopia da realidade. Sublinho: pode ser; entrando no domínio das hipóteses.
Houvesse a humildade para expandir horizontes e, em vez das certezas que não podem ser questionadas, porventura o espaço mental pudesse ser ocupado por hipóteses, dúvidas, interrogações a eito. A grande dádiva do exercício da mente não é encontrar respostas; o que enriquece é a capacidade para levantar mais e mais interrogações, sem cedência ao entorpecimento das respostas convenientes. Pode ser mais confortável construir um ninho onde repousa o substrato das verdades que são postas à margem do contestável. Mas nem sempre o confortável traz o estímulo à vida. Prefiro ir adiando a procura de respostas e sublimar as hipóteses, indagar detalhes que deixam de o ser quando são revelados e contribuem para mudar a percepção das coisas. O que há de mais proveitoso é chegar a um ponto em que olhamos para trás e admitimos que o erro dominava as percepções, que novas hipóteses se perfilam e muitas interrogações emergem. A maior conquista é sermos zeladores das nossas dúvidas e primeiros críticos das certezas que forem irrompendo.
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3 comentários:
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