17.3.10

Racismo Barbie – ou “é o mercado, estúpido”


In http://www.fashion-doll-guide.com
Fiquei a saber que o politicamente correcto esteve quase a chegar ao mercado das bonecas para crianças, mas que estas, porventura por estarem ainda tenras para o complexo código politicamente correcto, se estiveram nas tintas. Lá dizia o poeta que o mundo é das crianças. O que julgamos ser infantilidade é, por vezes, o laço estreito que nos distancia (aos que já somos adultos e fazemos disso gala) entre a espontaneidade e as coisas forçadas.
A empresa que fabrica a famosa (e irritante) Barbie pôs à venda a equivalente de cor negra: Theresa, de sua graça. Jorge Marmelo sugere, em crónica no Público de ontem, que a empresa deve ter ido atrás do isco Obama. Assim como assim, agora que Santo Obama está no trono e é uma espécie de figura papal dos outrora desesperançados, e que Santo Obama é “afro-americano” (curioso eufemismo que a retórica bem pensante descobriu), a Barbie devia ter uma partenaire de tez escura. Os progenitores, ainda entusiasmados com esse assomo de esperança que veio dos eleitores dos Estados Unidos, desatariam a comprar a Barbie negra para educar as petizas nas delícias do anti-racismo.
E antes que alguém comece a tresler as minhas palavras, atalho caminho: não, não sou racista. Não o afirmo por ser temente aos postulados que contrariam os imperativos do código politicamente correcto, essa degenerescência (porque impõe um doentio pensamento único). Não sou racista porque não sou racista – e ponto final.
Ficamos a saber que as leis do mercado ditaram a desvalorização de Theresa. A – podemos-lhe chamar? – “Barbie original”, aperaltada num horrendo vestido cor-de-rosa, custa quase seis dólares. Theresa, coitada, está em preço de saldo: quem a quiser levar, arremata-a por três dólares. Vale quase metade da Barbie loura platinada. Os comerciantes explicam: há pouca gente a pegar na Barbie negra. Os hábitos, esse medonho enraizamento do conservadorismo, levam os progenitores e as infantas a preferirem a “Barbie original”.
Contra hábitos não há argumentos. No curto prazo – corrigiria, célere, um atento economista. E outro, acabado de se juntar à conversa, logo disparava o diagnóstico lapidar que os “economistas do sistema” costumam fazer, em tom jocoso: “é o mercado, estúpido” (os que são sovados de cima a baixo pelos economistas heterodoxos que, no blogue “Ladrões de Bicicletas”, escrevem certezas que se confundem com imperativos categóricos). Do outro lado da barricada, os economistas heterodoxos aproveitavam a deixa e jogavam com as palavras: “é o mercado estúpido”, assim, sem a diferenciadora vírgula. Ao mesmo tempo que acenavam com a cabeça em tom reprovador, confirmando que os Estados Unidos não se desprendem dos preconceitos raciais. Apesar de Santo Obama.
Que interessa se o mercado é estúpido ou presciente? Se, neste caso, o mercado é a interacção entre a empresa e os imensos consumidores (as petizas e os adultos que compram a prenda típica para as petizas), é sinal de que os Estados Unidos têm um racismo enraizado? Na resposta, dávamos o palco a economistas, sociólogos e psicólogos que tivessem ido para o terreno estudar comportamentos e hábitos de consumo. Das duas, uma: ou os “afro-americanos” não estão acostumados a comprar bonecas para a prole feminina (a malta do “Ladrões de Bicicletas”  permite a discriminação de género sem me chamar nomes feios?), o que explicava o enviesamento nas compras – apesar de Santo Obama; ou até os “afro-americanos” preferem comprar uma Barbie reluzentemente loura platinada.
Fosse qual fosse a resposta dos cientistas no terreno, alguém pode acusar o mercado de ser estúpido? Imagino os ideólogos da mão pesada das autoridades sobre o mercado a sonharem com decretos zelosamente redigidos tabelando o preço da Barbie loura e da Barbie negra. Apesar das últimas atulharem os armazéns das lojas e das outras saírem, expeditas, da caixa registadora. E, apesar de Santo Obama, alguém se cobriria desse ridículo?

5 comentários:

Milu disse...

O conceito do politicamente correcto nem sempre está correcto, no fundo mais não é do que o disfarce de uma imensa hipocrisia, por isso este conceito me irrita sobremaneira. Os criadores da barbie negra mais não fizeram do que aproveitar a onda Obama, que de início tanto prometeu, mas não acredito que alguma vez tenham esperado grandes resultados, foi mais como quem atira o barro à parede, para ver se lá ficava agarrado. Pelo menos entre os negros não seria de esperar grande adesão, já que por norma são mais racistas do que os brancos. Jamais esquecerei algumas cenas de uma telenovela brasileira, que passou na televisão portuguesa à uma série de anos, tantos, que já nem me recordo como se chamava nem de quem foi o seu autor, lembro-me apenas que este procurou focar e expor as mazelas da sociedade brasileira. Algumas telenovelas brasileiras que em tempos vi, que agora já não tenho paciência para tal, não eram tão parvas assim, porque elas carregavam no seu seio mensagens importantes, nem sequer eram dissimuladas. Nada como ver representado ali, perante os nossos olhos, os nossos preconceitos, para nos fazer cair na razão e assim podermos verificar o quanto somos ridículos. Pois bem, essa telenovela a que me refiro, demonstrava quão profundo pode ser o racismo dos negros em relação à sua própria raça, através da reacção inusitada de uma cozinheira negra, que trabalhava numa casa de família abastada e de raça branca, e que em dada altura soube que o filho do patrão, que amava como se seu fosse, visto que servia naquela casa desde sempre, se tornou na maior oponente ao casamento do rapaz, porque este se havia apaixonado por uma negra. Ela não conseguia conceber que o "seu" menino que era branco, casasse com uma preta! Mas o ícone máximo foi Michael Jackson que se fez mais branco do que os brancos. Posto isto, a quem se destinava a boneca negra? Para as meninas brancas brincarem?

Milu disse...

O que aqui escrevi é só para si, socorri-me da caixa de comentários por não ter o seu e-mail.
Venho até si pelo seguinte:
Pelo seus escritos percebi que você é professor universitário, por isso me lembrei de si para lhe pedir um favor. Há uns tempos que ando a pensar que gostaria de ingressar no ensino superior, e se assim pensei foi mesmo isso a que me propus este ano, e como tal tenho andado a preparar-me, estudando os temas propostos. Porque tenho o 12º ano só farei a prova de conhecimentos específicos, a qual optei por ser uma prova de Português, contudo dela faz parte um tópico que me anda a dar volta à cabeça e de tal forma que até me angustia. E essa parte é isto que aqui se segue:

Textos do domínio profissional:
2.5.1. Curriculum vitae
− estrutura
− conteúdo
− funções
− linguagem e estilo

Ou seja, numa prova de um ano anterior pude ver que foi pedido ao candidato que apresentasse o Curriculum Vitae de uma personagem desportiva imaginária. "(Apresente-nos o Curriculum Vitae de uma personagem desportiva imaginária. Por razões
que se prendem com o tipo de papel em que está a fazer a prova, indique as quebras de
página com um risco horizontal sobre a linha ao longo da página. Não deixe espaço em
branco.)"
Ora bem, o problema é que me sinto incapaz de fazer uma coisa assim, porque teria de saber, entre muitas outras coisas, quais as escolas e clubes por onde é normal passar quem se dedica ao desporto, e, depois, há as indicações de quebra de página, que também não sei quando as deveria assinalar. Enfim, ando um bocado infeliz, porque esta questão não me é fácil. Bastava-me ver um exemplo e fazer-se-ia luz no meu espírito, mas não conheço ninguém que alguma vez tivesse feito uma prova destas. Foi por isso que recorri a si, porque pensei que está dentro destes meandros, e que saberá como se costuma fazer numa questão destas. É claro que já imaginei como fazer, mas esse exercício até me dói, porque me parece que não fica suficientemente razoável, ao menos isso!
Se você não me responder não faz mal, afinal só estou a fazer o que a minha consciência me ditou, que é fazer o melhor que puder, nem que para isso tenha de me socorrer de todas as ajudas que me forem possíveis.
O meu muito obrigada!

PVM disse...

Cara Milu:

Não se angustie. Estes visionários que ocupam o ministério da educação, os que se acham especialistas em “ciências da educação”, têm destas invenções que só atrapalham a tarefa de quem se põe a pensar a sério o que lhe é pedido. É o seu caso. Se fosse um aluno a levar a prova com leviandade (que, parece, é o que estes “pedagogos” preferem), isto não lhe tirava o sono.
Vamos ao assunto. Devo-lhe dizer que nunca fiz parte do júri que, na minha universidade, avalia as provas dos alunos que se candidatam nas circunstâncias em que me referiu. Em todo o caso, do que me é dado a perceber, sugiro o seguinte:
Não ligue ao perfil muito especializado na tal personagem do desporto. É verdade que alguns deles vão logo desde crianças para escolas de alto rendimento desportivo (tenistas, ginastas, nadadores). Facilite a sua tarefa: suponha a existência de um desportista que não seja de elite. Mencione isso no curriculum. Construa um CV como se fosse de uma pessoa normal, só que no caso da sua personagem imaginária deve acrescentar a esse percurso curricular os feitos que ele/ela tem obtido na carreira desportiva. Aconselho-a a escolher uma modalidade que perceba de alguma forma.
No que diz respeito às quebras de página, penso ser isto: como em qualquer CV, vamos alinhando os vários elementos (nome, filiação, data de nascimento, morada, habilitações escolares, etc...) em páginas diferentes, como se a cada “capítulo” do nosso CV correspondessem páginas diferentes. Pelo que percebi, não se pode fazer isso na folha de teste; o texto que elaborar tem que ser corrido. Quando quiser indicar que num determinado ponto do CV da personagem imaginada vai mudar de página, trace uma linha horizontal até ao final dessa linha. Por exemplo: na primeira página devem constar os elementos de identificação pessoal. Num CV “normal”, a página seguinte incluiria o percurso escolar (ou habilitações académicas). Como no seu teste não pode mudar de página entre os dois capítulos, tem que fazer menção da interrupção da página através da tal linha horizontal.
Não hesite em usar o meu e-mail (paulovilamaior@sapo.pt).
Espero que esta explicação tenha sido útil.
Os meus cumprimentos
Paulo

Milu disse...

Muito obrigada!
Agora já me estou a sentir melhor, mais calma. Foi bem expor-lhe as minhas dúvidas porque me ajudou a clarificar as ideias, afinal sempre há uma maneira de dar a volta a esta situação, por isso já tracei um plano: Vou elaborar um currículo, aquele que gostaria de apresentar na minha prova, seguindo todas as regras e já com os traços na linha que assinalará a quebra de página. Para isto vou pesquisar na Internet um percurso possível de um desportista de craveira média, nada de muito complicado para não criar dificuldades a mim própria, contudo faço intenção de fazer um trabalho consistente e honesto, afinal o que pretendo mesmo ao ingressar no ensino superior é o prazer de sentir o quanto posso evoluir ao adquirir mais conhecimentos, sejam eles de que ordem for.
Esse currículo que irei elaborar servirá como modelo, a base da qual me servirei para contemplar qualquer situação, porque desconheço qual actividade que me irá caber em sorte. Houve um ano que foi sobre um desportista, outro ano foi o currículo do próprio candidato, mas, e se for desta vez pedido o currículo de um padre? Eu sei que em determinada altura terá de passar por um seminário, mas a partir de quando? Enfim, é nestas situações que verifico até onde pode chegar a minha falta de conhecimentos. Mas, a verdade, é que já aprendi imensas coisas desde que decidi que haveria de retomar os estudos. Como por exemplo sobre o poeta Fernando Pessoa. Em tempos li um livro do poeta em que constavam algumas cartas por ele escritas aos amigos. Pareceu-me estranho, pois esbanjava misticismo. Dizia, então, que por vezes conseguia ver a aura das pessoas, o que me fez olhá-lho com um certo cepticismo, muito embora reconheça que a realidade que conheço é aquela que me é possível detectar, o que não significa que não exista uma realidade paralela. Com a necessidade de me preparar para a prova eis que tive de estudar a obra A Mensagem, e não imagina o quanto gostei, veja que nem sabia que existe um paralelismo entre esta obra e os Lusíadas, e no entanto sempre li muito, confesso que sempre o fiz sem qualquer método, leio porque gosto e pronto.
Mais uma vez muito obrigada pela sua preciosa ajuda, que tanto me animou!
Milu

Anónimo disse...

O Nome da barbie negra não é Teresa, É NICHELLE! :)
Teresa é a barbie morena(branca de cabelos pretos - o que poucos sabem é que ela foi inspirada em hispânicos - ou seja
: espanhola).