In http://pages.update.ft.com/uk/newsletter/april-2011/ce-default.htm
Há aqueles desgraçados que passam despercebidos entre a populaça. Apenas cativam a atenção quando dão nas vistas pelos piores motivos. Gente baça, irrelevante. Chega um dia em que um desses desgraçados tropeça em merda de cão e, em vez de cair de rabo, a gravidade faz das suas empurrando a queixada vertiginosamente para o chão, a queixada esborrachando-se num cacto com proeminentes picos, enquanto em redor a multidão por fim repara na existência do desafortunado. Só para esboçar um sorriso de troça, que a antropologia explica a maldade genética a escorrer do fácies da gentalha da mesma igualha que vê um dos seus fazer-se às tristes figuras.
Às vezes parece que a gente desta terra ainda não se habituou à pequenez depois de nos desembaraçarmos das colónias. Somos (ou melhor, temos a mania que somos) um gigante obrigado a acantonar-se num corpo minorca. Convivemos mal com esta esquizofrenia. Ficamos ofendidos quando os outros parodiam a idiossincrasia, a pequenez indómita, esta tendência para os outros nos olharem como os maus alunos que devem ser denunciados para não contagiarem a preguiça. E ai de alguém que zombe de nós, que o crime de lesa pátria não passa incólume. Os habituais beatos patrioteiros (numa insólita união nacional que alberga gente de heterogéneos pergaminhos ideológicos) soltam os mastins enraivecidos. Vão, para tremendo susto dos diabretes que ousaram zombar de nós, morder-lhes nas canelas. Somos pequenotes, mas valentões!
Isto e outros pensamentos na tela mental depois de ter dado de caras com o rosto extenuado e de poucos amigos do ministro das finanças na capa do Financial Times. Se fosse por bons motivos, haveriam de se esgotar as capas do jornal para, por fim, aparecer um galo de Barcelos, ou um garrafão de cinco litros de vinho corrente, ou o rancho folclórico em plena função (ou o futebolista da moda em pose publicitária) a emprestar o brio pátrio à capa do jornal. Se não vamos lá por jactanciosos motivos, que seja pelas vergonhas que nos trazem cabisbaixos e perplexos pelo austero porvir que aí vem.
Dá-se o caso de a imprensa estrangeira não cair no logro da máquina de propaganda que se esmera em atirar areia para os olhos. É pena. Os arremedos de déspotas que teimam em não despegar da almofada do poder não conseguem mover as influências (nem por intermédio da poderosa internacional ideológica) que cozinham a linha editorial da imprensa lá fora. É uma injustiça. Agora que vamos a caminho de uma excruciante campanha eleitoral, devia ser proibido dar à estampa rostos acabrunhados de ministros que são mostrados como aberrações enjauladas em jardins zoológicos.
Não há direito. O Financial Times dá cobertura a uma tremenda conspiração mundial que boicota o querido líder mais o seu infalível ministro das finanças. Não há alarme – sosseguem-se os socialistas. Assim como assim, os nativos já lêem poucos periódicos na língua materna, quanto mais jornais em língua que desconhecem. Afinal, ainda há salvação para o querido líder e para o seu meirinho do tesouro.
Bem lá no fundo, onde se perde o rasto às entranhas, sinto comiseração por Teixeira dos Santos. Não é justo que os seus “cinco minutos de fama” em tão reputado jornal venham debruados com letra sombria.
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