In http://pessoa.fct.unl.pt/a4338/quetretaimages/MaleLion.jpg
Se os instintos, polvilhados pela irremediável
natureza, adestram o protocolo da predação, que sobra senão honrar os
pergaminhos que a natureza inventou?
Há caçada e há caçadores. Ecossistemas que requerem
equilíbrios – e os equilíbrios são determinados pelo traço grosso, desajeitado,
bruto talvez, dos predadores. De um traço sanguinário. Comiseram-se as almas
gentis. Custa-lhes ver a presa abocanhada pelo desapiedado caçador. Desviam o
olhar enquanto sentem o som terrível dos dentes afiados a esventrarem a presa
que se esvai no seu estertor. E, todavia, sabem que na selva não há catering ou restaurantes a entregar
lautos manjares ao domicílio. É matar ou morrer – de fome. O predador ganhou o
seu lugar no altar das espécies.
Mas o predador pode sucumbir à penúria. Pode a caça
extinguir-se da sua coutada, ou sabiamente emigrar para lugares mais seguros.
Podem pragas dizimar a população das presas. Ou pode o predador perder
atributos – uma miopia que desfaz os reflexos a quase nada, ou o olfato
rarefeito, ou as artroses que a senescência povoa na ossatura. Mas o predador
recusa o envelhecimento. Sabe que a perda das faculdades espreita pelo bordão
do calendário que adverte a idade madura. O predador não pode desistir das
investidas. É a sua prova de vida. Sabe que ninguém meterá uma colherada em seu
nome. Este é um devir onde só conta o individual.
Talvez por confusão de conceitos (pois o individual
não significa ensimesmar), o predador é malquisto. Desconfiam dele. É falado,
profusamente falado. Vítima de sentenças soezes. Algumas vezes parece que os
torpes que anavalham as certeiras diatribes, de tanto difamarem, estiolam na
posição de quem desdenha e quer ser presa nas garras do predador. A fama
precede, de longe, o proveito. Se as coisas que são faladas contassem um
quinhão, um quinhão apenas, da veracidade, o predador tinha uma volumetria do
tamanho da China.
Mas o predador passa com distinção na prova da elegância.
Não pode ser o irascível, impiedoso predador que por aí se faz constar. Imponha-se
a revisão dos julgamentos precipitados.
2 comentários:
Para acalmar o Felino:
http://youtu.be/-rzoGIuwgHk
Boas Festas
De facto, com este tema dos Madredeus não há fúria que consiga vingar.
Boas festas!
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