I
Com base no desconhecimento, a loucura enreda-se nos poros e suamos no bojo do surrealismo. Mantida a luz apagada, lemos a transparência no avesso do pensamento.
II
Se medram as saudades do pretérito, o relógio ficou refém dessa medida do tempo. Não temos de avançar pelas avenidas puídas. Não temos: se dessas avenidas sobra um resfolegar sem ânimo, não convocamos a identidade. Ela ficou hipotecada na baía do esquecimento.
III
Diria a lua que transgredimos na desaceitação do vulgar. Porventura, a lua terá uma lucidez ausente do terrestre. Povoamos as janelas com as lágrimas sem paradeiro. As mesmas lágrimas que se tivessem vencimento seriam dadas a quem não as merece.
IV
Não se manda ninguém para o pelourinho. O arcano verbo não se arregimenta de véspera. Para condenações estultas, as vésperas estão banidas dos decretos.
V
Não se manda ninguém para o pelourinho (é bom que seja repetido). Nem os (soi-disant) traidores. Não pode haver traição que se justaponha aos socalcos da consciência. Os julgamentos que assim sejam feitos viram a sua legitimidade caducada. Agora, a liberdade nasce dócil.
VI
Possuímos o amanhã. Ninguém duvide. Mesmo com as sucessivas camadas de incerteza do amanhã, somos nós que o possuímos. No que nos diz respeito, o amanhã não existe sem nós.
VII
Arrumamos a beleza no arquivo da estética. Não é ornamento secundário, a estética. Os olhos não são atraiçoados pelo instinto. Seríamos capatazes da infâmia se o património das artes decaísse num lúgubre lugar sob o beneplácito da nossa omissão.
VIII
A temporária condição não impede a constância. Aquela que for do apreço de quem assim a congemina. Não peçam genuflexões a bandeiras. Dessas castrações não somos cultores. Essa é uma constante.
IX
Os temerários navios aproveitam-se das correntes de feição e amputam a medida do tempo. Não são paradigma que mereça ser seguido. Queremos que o tempo flua à sua vontade. Não somos seu timoneiro. Somos seu passageiro. No deleite da paisagem atravessada.
X
Ardiam as árvores maceradas no fogo inventado pelos beócios. Não podíamos ser bombeiros. O fogo cuidou de devolver o despojamento da paisagem. Os recomeços devem à heurística o que os ocasos vindicam subtrair. Quase todos os ocasos são o fermento válido de um recomeço. Nem que tardio seja.
XI
Os poros exsudam a emancipação do pensamento. Não há açaimes que o embotem.
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