20.10.20

Pitbull (short stories #270)

Viagra Boys, “Ain’t Nice”, in https://www.youtube.com/watch?v=vzWds5gWS6c

          Desacerto o improvável sequestro da alma. Não sei de que fenda se emancipa o olhar, mas não aprecio que seja devorador, o olhar. Dizem que há pleitos por menos, mas nunca soube o que era uma lide com o soez orquestrar dos corpos. Para isso há os que usam pitbulls, alguém sussurrou acidentalmente. O dito foi impreciso. Os pitbulls não são dessa linhagem, a menos que os tutores os deseduquem para serem maltrapilhos salivando a violência que encontra úbere nos tutores. A roda da vida não se compraz com os heróis de boca que não dão uma braçada para selarem com feitos o que prometem com bravas palavras. Podem ostentar pitbulls desamestrados como garantia do espúrio ameaçar dos outros. Fossem os destemidos marialvas sem quartel, não precisavam de vir atrelados aos pitbulls. Ou melhor: por cada posta de violência ensinada aos pitbulls, deviam cumprir serviço cívico por eles considerado inapropriado (por o considerarem consentâneo com a feminilidade) – além de lhes serem retirados os cães e logo entregues para reeducação civil. Estes monarcas do desassossego vivem de violência gratuita. (Em melhor pensando, não se creia que exista violência sem ser gratuita.) Os pitbulls não merecem o grotesco protótipo humano que lhes cai em má sorte. Carregam um opróbrio que devia ser endossado a quem os industriou para afiarem o dente nos alvos que eles, por sua conta, não têm coragem para desafiar. Estes apóstatas fazem lembrar os valentões da escola que escolhiam a dedo as vítimas sabendo que eram macilentas, fracas e desprotegidas. São estes os bravos que se fazem pass(e)ar como tal: os que vão a pleito só quando sabem de véspera que o conseguem vencer. Aprenderam a ser covardes – essa é a sua melhor lição. Quando crescem, escondem a covardia nos maxilares poderosos dos cães de fila que trazem a tiracolo. São pobres de armas próprias. 


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