6.11.20

Em nome dos nomes (short stories #279)

Joy Division, “Atrocity Exhibition”, in https://www.youtube.com/watch?v=LKYibEGtAlg

          Uma exibição de atrocidades é o aval da memória que não se quer esquecida. Sobram nomes, nomes sobrepostos, como se fossem a mesma mercadoria indigna de direitos como foi tratada às mãos dos algozes. Dirão que não. O rosário de nomes não faz deles pessoas anónimas. Podemos não ter travado conhecimento com elas, pois são-nos anteriores. Mas não são anónimos. São uma memória futura. Para prevenir outras exibições de atrocidades, pois parece que a espécie vegeta num episódico caiar do passado com o lustro da ignorância e outros andam sequiosos de atrocidades, só para ficar provada a tese do pessimismo antropológico. Os nomes assim mostrados são a sela para o repouso dos que mais tarde vieram tirar partido da paz firmada, de como tiveram proveito do sossego das regras e da deposição de facínoras que não se cansaram de contaminar a espécie. Em nome dos nomes, de todos os que foram bandeira de um martírio, que esses são nomes doados em prol dos nomes outros seus vindouros. Nomes que têm a compensação do sofrimento com o seu hastear num monumento doado à aprendizagem dos demais. Oxalá não fossem nomes assim expostos. Oxalá pudessem ter vingado, nomes, numa durável existência. São nomes sacrificiais, mostruários vivos do que foi preciso banalizar para que a loucura amedrontasse os lúcidos. Nomes proscritos às mãos dos verdugos numa carnificina insana. Os seus cadáveres lançados em valas comuns e, todavia, medraram como sementeira de uma lição maior imortalizada na memória dos Homens. Nomes que não ficam reféns do esquecimento. Porque nomes outros cuidaram de os resgatar das valas comuns onde estavam condenados a ser a vulgata de crimes sem condenação. Mas não é a vingança sobre os carrascos que importa. É saber que esses nomes tiveram um quinhão no bem que hoje nos é dado a apreciar. E que nomes outros, lamentáveis nomes, parecem querer obnubilar. 

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