Discutíamos se no teu país há petróleo que esconde uma riqueza escondida. Discutíamos se, no caminho da serra, mais ou menos quando a estrada começa a empinar, há diamantes no fundo do poço abandonado pelos outrora mineiros. Discutíamos se é sensato esperar que a abundância venha das entranhas da terra.
É que, às vezes, o que emerge das profundezas da terra é a convulsão do magma, a sua voz que protesta a lava que coabita nos antípodas da abundância. Nem sempre podemos esperar que as entranhas da terra sejam generosas. Elas estão escondidas e, por mais que a ciência ajude a sondar os estreitos corredores onde estão as entranhas da terra, não temos a certeza do que nos será legado.
Falávamos do poço dos diamantes. Especulávamos. Dizias que devia ser dura a jornada dos outrora mineiros. Um lugar-comum. Não há grande mal nos lugares-comuns – acrescentei, num tom insuportavelmente paternalista (de que deste conta, e eu também). Eu disse: ouvi dizer que era no poço dos diamantes que os mineiros se lavavam da fuligem que traziam agarrada ao corpo depois de saírem das entranhas da mina. E ouvi dizer que de tanto negrume vertido nas profundezas do poço, a água – porventura quimérica, naquele poço – cristalizava toda a sujidade em pequenos, mas valiosos, diamantes.
Não adiantava falarmos das prospeções de petróleo no teu país. Diga-se: das sempre falhadas prospeções de petróleo. Os técnicos não capitulavam. Diziam suspeitar – apenas uma suspeita – que havia jazidas de petróleo que, viessem elas à superfície, teriam o préstimo de adulterar o teu país num país afluente. Os técnicos nunca quiseram explicar onde estavam os alicerces dessas suspeitas. Alguns especulavam em cima desta especulação: os peritos estavam a soldo dos interesses dos magnatas do petróleo, com bolsos exuberantemente recheados para pagarem boas maquias debaixo da mesa. Não importava. No teu país, o petróleo devia ser chamado Sebastião.
Eu interessava-me mais pelo poço dos diamantes. Bem-entendido: não queria saber da extração de diamantes. E não era por estar ao corrente das histórias medonhas do que acontecera aos intrépidos avarentos que ousaram descer ao poço. Diziam as vozes populares que foram devorados por uma mítica criatura. Só podia ser mítica a criatura, pois nunca lhe viram as feições. Como nunca mais viram os restos mortais dos intrépidos avarentos.
Às vezes, um módico de inoperância esconde o segredo da abastança. É isso, ou o produto de um acaso, ao acaso. Pois, assim como assim, dos despojos de um vulcão em erupção sobra um chão de lava que é a caução da fertilidade.
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