Destroyer, “Hydroplaning Off the Edge of the World”, in https://www.youtube.com/watch?v=AGWMUSs42M8
Os otimistas cavalgam na sorte atendida. São irrepreensíveis no criterioso espelhar do sol radioso que esperam no porvir. São desmentidos por dissidentes que contestam as convenções e desafiam o lugar-comum do bom tempo que anda de braço dado com dias soalheiros. Dizem: está bom tempo quando chove. De acordo com esta dissidência, a sorte de uns é o azar de outros (para confirmar o anexim popular). Não é preciso esfacelar tanto a filosofia. Os provérbios arranjam uma métrica para serem imperiais – mas os provérbios são uma lei geral com o selo de aprovação popular. Os incorrigíveis otimistas aproveitam-se do dia soalheiro para carregar as pilhas de otimismo. Como se fossem os veraneantes que passam longas temporadas sob o sol abrasivo até ficarem com um bronzeado digno de estrelas de cinema. Contemplam o sol e ganham boa disposição. Atravessam o dia sob o efeito dos raios de sol para acreditarem que a existência diária não é uma tortura – como dão a entender quando os dias são repetitivamente plúmbeos, chuvosos e cheios de vento iracundo. Aproveitam o sol para extrair a matéria-prima da sorte. Amealham a sorte, porque não sabem se os dias de invernia se vão estabelecer por uma demorada temporada e, se for o caso, precisam de toda a sorte armazenada para a debitarem contra os amuos de infortúnio que vêm amparados no mau tempo. É uma concorrência feroz. Os seguidores do deus-sol competem por um quinhão de sol para desmatarem os baldios que os separam da sorte. O sol chega para todos – é dos poucos recursos que, contrariando os economistas habituais, não é escasso. A menos que esteja a chover e o sol tenha ficado escondido sob os auspícios de uma superfície frontal fria. Tiram à sorte o seu próprio quinhão da sorte. Depois, esperam.
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