Death Cab for Cutie, “I Will Possess Your Heart” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=tFnYlkDtz00
A alma noturna desembaraça-se de fronteiras, voa sobre o mapa desenhado pelas mãos contumazes. Voa ainda mais alto, como se o vento tivesse degraus e as vozes desmaiassem na lonjura da terra. Assim se mantém, imperatriz, de atalaia ao mundo. Não sabe distinguir os limites que se encenam através de diligentes procuradores que dão voz aos medos comuns. À noite, as sombras açambarcam as delimitações, é como se todas as terras fossem contíguas e das fronteiras se perdesse rasto. À conta das asas imaginadas leva a patente do desassombro, dissolve os vultos errantes que ao acaso adoecem as vítimas prediletas. Quando atinge a altitude de cruzeiro, descansa, planando sobre os lugares imersos no sono. Este é o seu pedestal. Desconta as indulgências sufragadas no oráculo dos pesares; rejeita a comiseração orquestrada como sinal de redenção; esconjura as comendas prometidas, as oportunistas genuflexões que fingem um respeito sem curadoria; abstém-se de tomar partido, que todas as causas são alheias e não foi entronizado juiz. Mantém-se no pedestal, a soberania máxima de onde elide os acasos que espelham a angústia promitente. Desde o pedestal não governa, não se envaidece, não distribui perdões sob encomenda, não ajuramenta confissões nem costura arrependimentos. Limita-se a contemplar a paisagem desde o promontório a que se elevou. Intui que a distância do chão é medicinal. Tem consciência que não se pode eternizar como embaixador do céu. Esse tem outra conotação que não é da sua lavra. O pedestal é um embrião de finitude, a que se projeta nos sonhos que não cessam de existir, como se os sonhos se emancipassem do sono e fossem cúmplices do dia em que mandam os sentidos. Quando desce do pedestal, é como se nunca tivesse de lá saído. É o seu segredo bem guardado: o pedestal é onde soubermos ser a plenitude de nós.
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