Max Richter, “Tranquility Base” (Kelly Lee Owens Remix), in https://www.youtube.com/watch?v=BwEOMrUSsq8
Falava-se de desanexação: uma espécie de PDM ao contrário: os prédios devolutos seriam demolidos e os terrenos declarados impróprios para construção. O município era liderado por um esquerdista caviar que decretou guerra ao grande capital e, por tabela, aos construtores civis que fazem crescer as cidades ao alto e alastrar a mancha de betão armado. As terras resgatadas ao imobiliário teriam de ser convertidas em hortas urbanas. As hortas seriam distribuídas pelos cidadãos que se candidatassem. Ao fim de dois mandatos do progressista edil, uma conferência de imprensa para apresentar o relatório de atividades: o edil mostra dois mapas, o antes e o depois da assim cunhada “política das hortas extra”. A mancha verde a alastrar de ano para ano. De acordo com o edil: mais 30% de hortas desde que tomou conta da cidade. Um jornalista – avençado de um partido da oposição, de acordo com o autarca – pergunta se a política das “hortas extra” não é demagógica. O edil pede um esclarecimento ao amanuense. Anui: 30% de hortas a mais empurraram sabe-se lá quantos habitantes potenciais para fora da cidade. É mais gente a ter de usar transporte quando vem trabalhar para a cidade. Mais danos no meio ambiente. Conclui: o senhor presidente da câmara é um demagogo que não conta a história toda, omite a seu favor os detalhes que não lhe são favoráveis. O edil enrubesce de raiva. Em voz alterada, acusa o jornalista de estar a soldo “da direita” e dos interesses da construção civil. O jornalista protesta o uso da palavra para se defender. O presidente da câmara: “isto não é a assembleia municipal, nem o senhor é um deputado para pedir a defesa da honra”. A imprensa devia ser amestrada, para ser devidamente grata – descaiu-se o presidente, em murmúrio para o vereador delfim sentado à sua direita.
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