The Comet Is Coming, “Slammin”, in https://www.youtube.com/watch?v=QbNgv0RCF0g
Deviam acabar com a ditadura da excelência, o produto acabado de um logro que contraria a moda democrática de que todos usufruímos a igualdade pela mesma medida. Quando a realidade cai na vertical e sabemos que não somos aceites entre o escol, acusamos os outros, os que andaram a prometer a usura sobre a igualdade metódica, de terem fracassado na empreitada.
Como não há uma caça a bodes expiatórios, o que menos interessa é alinhavar as culpas e distribuí-las de acordo com a quota-parte dos ideólogos da modernidade. A culpa será deles; precede-a a nossa responsabilidade: não somos desprovidos de inteligência e de capacidade hermenêutica, habilitamos as teorias que se aformoseiam para serem candeias que nos devolvem a luz guia, mas não podemos deixar de as comparar com o espelho que retemos do mundo. Se forem apenas especulativas, ou um retrato distorcido, rejeitamo-las.
Da procura incessante pela excelência irradia uma angústia duradoura, a concessão aos outros porque só seremos embaixadores da excelência se formos reconhecidos por eles. Ficamos à sua mercê, numa inversão da misantropia desaconselhada pelos curadores da vida em sociedade. Ah!, se o que interessasse fosse apenas o juízo que fazemos de nós mesmos, se não nos hipotecássemos aos juízos dos outros, talvez fôssemos um pouco mais o eu entretanto abdicado.
E, contudo, não cessamos de cair num logro, alegremente iludidos por uma contradição que nasce em nós e é finalizada pela estocada dos outros. Temos de abdicar do eu para obtermos o reconhecimento que precede o elevador do mérito. Ao fazê-lo, a humildade de quem se ajoelha diante do escrutínio dos outros é uma intencionalmente forjada: os que se projetam no púlpito onde a excelência é reconhecida, depressa se desprendem da humildade e abraçam-se à arrogância autorizada pela excelência autorizada pelo escol.
Se não estivéssemos dependentes deste ambíguo mealheiro feito de humildade e arrogância intelectual, o mundo seria menos irrespirável. Não seríamos escravos do dizer dos outros e não teríamos de esconder uma humildade que estamos prontos a desmatar assim que a excelência nos seja reconhecida. Se a muitos fosse concedida franquia para habitar na excelência, a excelência deixaria de o ser – e isso teria o efeito paradoxal de impedir a um numeroso grupo de tocar na coroa da excelência.
Se não desossássemos a humildade com o pretensiosismo de querer estar acima dos demais, seria mais fácil habitar o espaço vital. Não teríamos a mania das grandezas e ficaríamos interiormente gratos ao saber que tínhamos colocado o melhor de nós em cada empreitada. A tirania dos outros impede-o.
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