Soundgarden, “Pretty Noose”, in https://www.youtube.com/watch?v=f8nkHrv_4Mg
Idrissa, o empresário do Gambswana andava feliz da vida. Saíra da miséria ao frequentar um programa de educação financeira e empresarial de uma organização não governamental. Com o que aprendeu e a sua diligência, saiu da miséria e dela retirou algumas famílias que passaram a trabalhar na fábrica de Idrissa. Um dia, quase no fim da formação na organização não governamental, teve uma epifania: faria botões originais, botões que mudam de cor de acordo com a exposição da luz, feitos de ossos de baleia (das baleias que, ao morrerem, dão à costa). Os ossos de baleia eram da matéria mais indestrutível que se conhece. Dizia frequentes vezes que os seus botões eram poesia sem palavras texturadas.
Os botões feitos na fábrica de Idrissa depressa foram um sucesso. Começaram por ser vendidos nas localidades limítrofes. O passa a palavra foi fazendo o seu caminho e, sem dar conta, Idrissa começou a receber encomendas do estrangeiro.
(Idrissa não sabe, mas passa de boca em boca que foi um empresário da Niponlândia que, estando de férias no Gambswana, conheceu os botões por acaso. Encantado, telefonou a um conhecido que trabalha em têxteis. O conhecido também ficou encantado e fez uma encomenda de empreitada, tomando conta da produção da pequena fábrica para os seis meses seguintes. Foi o trampolim para vender Idrissa botões nos cinco continentes.)
Idrissa tornou-se o maior empresário do Gambswana. Deu emprego a centenas de pessoas nas suas fábricas. O negócio expandiu-se para quatro fábricas no país e duas no estrangeiro, a maior das quais fora de África. Nunca ostentou abastança e a modéstia entranhada não se dissipou quando o negócio começou a acumular lucros. Nos sítios onde havia fábricas da empresa de Idrissa, a pobreza era residual. Para além de pagar bons salários, dotava as fábricas de infraestruturas de apoio familiar e era o filantropo (com identidade, todavia, deixada no anonimato) que possibilitava a construção de escolas e creches, lares para idosos, teatros, bibliotecas e que os hospitais tivessem equipamento de ponta e médicos capazes.
O presidente da Samolândia tinha muitos amigos que não passavam de interesses. Um dia, num jogo de golfe, um amigo (da onça) pediu-lhe para considerar a hipótese de aplicar “tarifas” às importações de botões do Gambswana. O amigo segredou que não conseguia competir com aqueles botões, que até já faziam furor no mundo da moda. O presidente da Samolândia nem pestanejou: “considera-o feito, com efeitos imediatos” e pegou no telemóvel dando instruções precisas. Para rematar a transação, o presidente da Samolândia perguntou ao amigo: “o que ganho em troca?”
As “tarifas” sobre importações de botões do Gambswana eram uma exorbitância. Passou a ser proibitivo importar aqueles botões. O barão dos botões da Samolândia dormiu que nem um nababo ao saber que deixaria de suportar a concorrência dos botões do Gambswana.
Idriss ficou lívido ao saber que a sua produção tinha sido torpedeada pelas “tarifas” decretadas pelo presidente da Samolândia. Mais de metade da sua produção deixava de ter compradores. Mover influências junto de políticos nunca foi o seu forte e sempre prezou a separação entre políticos e empresários. Nem precisou de o fazer. O ministro do comércio, ao tomar conhecimento do assalto “tarifário” da Samolândia, pôs-se à disposição de Idriss para mover influências nos canais diplomáticos. “Pode ser que se consiga qualquer coisa”, foi a promessa que fez e que soava a logro antes do tempo.
Confirmou-se. O presidente da Samolândia, ao ser questionado se queria manter as “tarifas” exageradas sobre as importações de botões do Gambswana, respondeu com uma pergunta: “onde é esse país?” Idriss teve de fechar fábricas e despedir pessoas que perderam o ganha-pão e um módico de esperança que era desconhecido antes de terem sido contratadas. A pobreza voltou a sondar o céu que servia de pano de fundo aos habitantes na Gambswana. O país viu o direito ao desenvolvimento ser raptado por um capricho de política comercial. A responsabilidade era das “tarifas” decididas pelo presidente da Samolândia.
Os protestos transcenderam o governo do Gambswana: os estilistas radicados na Samolândia não podiam usar os botões mágicos feitos no Gambswana. Não se conformavam – as suas criações perderam o esplendor que era emprestado pelos botões de Idrissa. Rogaram ao presidente da Samolândia que voltasse atrás. Este, indiferente, recusou o apelo. Porque o mundo da moda tem umas preferências sexuais estranhas – disse.
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