Suede, “The Sadness in You, the Sadness in Me”, in https://www.youtube.com/watch?v=u0dxSlhBNmw
Eis a bravura dos fortes que só se acovardam quando outros mais fortes saem ao caminho, pois, de outro modo, exercem a falsa audácia dos fortes que espezinham os que mais fracos do que eles são. Não se saciam com um triunfo ornamentado com a ostentação da vitória. O triunfo é encimado pela humilhação dos derrotados. Se não, a vitória sabe pela metade, ou ainda menos.
É caso para requerer a intervenção de um engenheiro das almas. Interessa mais ostentar o espólio da proeza à custa daqueles que foram vergados pela sua força, do que a proeza em si. São os que não aprenderam a sentir o que é triunfar sobre um rival. Os que tratam o rival por inimigo, numa adulteração propícia da sua índole.
O mau ganhar constitui um mau precedente. Pois nem todos podem ganhar ao mesmo tempo. As diferenças povoam a impossibilidade de uma vitória acontecer no mesmo instante para todos, pois são embaixadores de diferentes interesses. Quando não é possível açambarcar uma façanha, alistam-se nos derrotados. Quem não se comporta diante de um triunfo não saberá digerir um desiderato que se gora. Arrastam os despojos como se a derrota (os) envergonhasse.
Os que não sabem ganhar também não sabem perder. Não sabem ou não conseguem, certificar a justeza da façanha do rival. A derrota imputa-se a fatores externos, a acontecimentos imprevistos que impediram outro desfecho, a conspirações imaginadas, a um mero azar. Nunca à competência superior de quem os derrotou. Passeiam a falta de diligência para perderem, pois não se sabem estar quando são honrados por um triunfo.
Os que não sabem ganhar têm de exibir as medalhas que representam o desprezo do derrotado. Quase como se sua fosse a culpa de terem desafiado os depois vitoriosos, numa insanável contradição de termos: se não desfilassem os derrotados, como poderiam os vencedores ostentar o garbo do triunfo ao qual fazem corresponder a humilhação dos perdedores?
Devia ser ensinado, desde os bancos da escola, a ciência do ganhar. Para não sermos agredidos pela arrogância dos que alardeiam, com indisfarçável orgulho próprio, terem saldado a peleja com um triunfo e o esmagamento do adversário como o lauto manjar que lhe é consequente. A vitória devia chegar. Falta escola para os que não sabem ganhar, a escola que ensina a saber ganhar sem a prosápia habitual dos que armazenam a seu favor as medalhas representativas das proezas alçadas. Não como feito em si, mas como sinal de terem vergado o braço do adversário.
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