Sonic Youth, “Superstar”, in https://www.youtube.com/watch?v=Y21VecIIdBI
Ah! As delícias do bem, a perfunctória função que aproxima da perfeição, ou não sendo ela possível, do seu estado mais aproximado, a pureza. Movemo-nos nos corredores da bondade e seremos a máxima aspiração quando o bem tomar conta de todo o nosso tempo – de acordo com os manuais de instruções do cidadão exemplar.
No entanto, há pessoas que ambicionam a antítese do bem. Afastados dos deleites que não entram nas cogitações do espírito, o que não dariam, o que não fariam, por umas maldades que, todavia, não contam para o rosário das entradas assassinas de carácter que nos colocam à porta do purgatório. Livrai-os do bem que estão a precisar de praticar o mal, mas um mal tolerado pelas divindades a concurso, pese embora os seus embaixadores terrenos prossigam uma cruzada inconcutível e obsoleta para diabolizar os prazeres do corpo.
Livrai-os do bem, nem que seja pelo intervalo de um parêntesis, para se poderem deliciar com os prazeres reprimidos, entregando-se à devassidão sem cuidarem de saber que alguém os tutela. É desse mal que precisam. E só o encontram se forem dispensados do bem, para se entreterem com esse mal abençoado enquanto fazem o tirocínio da existência. Livrai-os do bem, endossando-os ao império do mal assim definido, para que não se esqueçam das maldades que fazem bem e para que a distribuição destas seja equânime – para que as divindades a concurso não sejam acusadas de malbaratarem o crédito de equidade ao arrostarem o peso pérfido de quem não pratica a democracia. Salvando as divindades de serem apenas a contradição do que apregoam ser.
Não os livrais do mal, divindades avulsas e outras em carteira, para que, assim ungidos pela vossa longanimidade, possam ser profetas da bondade por não serem alienados das maldades que instruem o inventário exercido nas vésperas da morte. Se ao ditado se credita o lugar-comum que todos somos filhos de deuses, que alguns não sejam omissos na repartição das maldades que coabitam com a natureza nossa para o adágio não ser desmentido.
Que os livrais da tirania do bem, divindades a concurso, porque eles precisam de mergulhar na maldade aqui e ali, agora e logo depois.
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