S.C.U.M., “Whitechapel”, in
https://www.youtube.com/watch?v=IoYszf-37Tk
Bem sei que há gente que atribui significados a eito a
tudo o que julguem ser passível de uma hermenêutica qualquer. Bem sei que os
rituais da indumentária são pasto abundante para uma certa sociologia dos
costumes. Dessa sociologia extraem-se condutas mediante o vestuário envergado
por alguém. Rótulos são cozidos às pessoas só por andarem vestidas de uma certa
forma. É, porventura, a mania de adivinhar o que vai na alma dos outros (como
se as pessoais aflições não chegassem). E a mania, também, de arrumar as
pessoas em gavetas herméticas, após equações muito matemáticas.
Agora diz-se que um engravatado perdeu pergaminhos. Por causa
da moda do primeiro-ministro da Grécia, que ousou comparecer nas reuniões
magnas sem o estrovo de uma gravata. Começou a fazer moda, essa moda. Começou a
ser menos obrigatório os senhores importantes porem uma gravata ao pescoço. Os
entusiasmados que convocam a bem-vinda rebeldia de quem rompe com costumes
enraizados, não deram conta que estavam a dar caução a uma moda. Alternativa,
sem dúvida; mas, ainda assim, moda. Ora, mandam as convenções (que detestamos)
que assim que uma moda alcança o púlpito a ponto de moda ser considerada, nem
que venha em contramão contra a moda instituída, ganha foros de coisa
institucionalizada. Logo, perde as credenciais de um ato rebelde. Que haja
muita gente que arrumou as gravatas num baú, é apenas sinal de que alinharam
com essa moda. Daí não se podem retirar outras conclusões, nem sequer pespegar
rótulos mesquinhos.
Por exemplo: em tempos tive o ritual (ou a superstição,
já não me lembro) de meter gravata quando ia dar aulas. Como perdi esse ritual
apenas porque me apeteceu, e isso aconteceu antes do Tsipras ser famoso, podia-me
dar para garantir que influenciei a moda do Tsipras. Por outro lado, não usar
gravatas não faz de mim um seguidor destas esquerdas que, surpreendentemente
(ou talvez nem tanto), se abraçam a tantos preconceitos – e ainda por cima
vertidos numa coisa anódina como a indumentária.
Somos o que somos. Não somos o que vestimos. Nem devemos
ser lidos aos olhos dos outros pela indumentária que envergamos numa circunstância.
Olhar de outro modo, é apoucar a existência humana e sobrevalorizar a roupa que
nos tapa a nudez. Tão simples quanto isto. Se não, como justificar que o líder dos
sindicalistas comunistas ponha, de vez em quando, gravata?
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